Whindersson Nunes: como alguém engraçado pode ter depressão? 

Whindersson Nunes têm falado abertamente sobre sua depressão desde o ano passado, levando muita gente a perguntar: como é que uma pessoa engraçada pode

Jairo Bouer Publicado em 24/09/2020, às 16h23

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Whindersson Nunes têm falado abertamente sobre sua depressão desde o ano passado, levando muita gente a perguntar: como é que uma pessoa engraçada pode ter a doença?

Whindersson não é o primeiro humorista a se abrir sobre um transtorno mental. Chico Anysio, antes de falecer, chegou a falar sobre sua difícil, mas bem-sucedida, batalha contra a depressão. Numa entrevista à TV, ele contou que não teria conseguido produzir nem 20% do que produziu se não fosse pelo tratamento psiquiátrico.

Fora do país, há outros comediantes que tiveram coragem de assumir seus transtornos mentais ao público, como  Robin Williams (do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”), Stephen Fry (“O Hobbit: A desolação de Smaug”), Sarah Silverman (“Detona Ralph”), Jim Carey (“Ace Ventura”)  e Woody Allen (“Um Dia de Chuva em Nova York”).

Rir para não chorar?

O “mito do palhaço triste” é objeto de pesquisa há muitos anos. Sigmund Freud, considerado o “pai da psicanálise”, já teorizava que fazer piada nada mais é que uma maneira de se livrar da dor. Esse suposto mecanismo de defesa foi constatado, mais tarde, por alguns psicólogos.

Os estudiosos costumam citar uma frase famosa de Charles Chaplin: “para rir de verdade é preciso ser capaz de pegar a sua dor e brincar com ela”. Faz todo sentido: ninguém melhor que o humorista para fazer a gente rir de nossas próprias fraquezas e até de situações deprimentes.

Criativos e críticos

Uma pesquisa da Universidade de Surrey, por sinal, confirmou que comediantes e palhaços de circo tendem a ser extremamente criativos, mas também muito críticos. Segundo os resultados, eles costumam fazem mais comentários negativos sobre si mesmos do que outros artistas performáticos.

Outro estudo, publicado pela Universidade de Oxford, analisou 523 comediantes do Reino Unido, EUA e Austrália, e apontou alguns traços de personalidade em comum entre esses artistas. Eles seriam introvertidos em certos aspectos, mas extrovertidos em outros (como quando estão no palco). Teriam algumas características que lembram o de uma pessoa depressiva, e outras que remetem à mania, ainda que o trabalho não tenha se concentrado em transtornos psiquiátricos.

Nada de rótulos!

É importante deixar claro que todos esses estudos são limitados. Por isso não dá para concluir que humoristas são mais propensos à depressão do que outros profissionais; muito menos que todo comediante esconde um transtorno mental.

Vale lembrar que uma em cinco pessoas tem ou vai ter sintomas depressivos em algum momento da vida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). É muita gente, com diferentes perfis, histórias e profissões.

O que dá para afirmar é que a arte pode ser, sim, um recurso útil para quem sofre com depressão e de outros transtornos emocionais, quando associado aos tratamentos convencionais.

Se expressar, seja no palco, no papel, na música ou na pintura, traz uma sensação de alívio e permite que a pessoa veja suas emoções com outra perspectiva. Fazer e consumir arte geram prazer e autoconhecimento.

É como disse Jim Carrey num minidocumentário chamado “I needed color” (“Eu precisava de cor”, em tradução livre), de 2017, sobre seu mergulho na pintura para curar o sofrimento: “Eu não sei o que a pintura me ensina. Só sei que ela me liberta”.

* Texto extraído da Coluna do Jairo Bouer no UOL

 

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