Redação Publicado em 21/10/2021, às 14h04
O câncer de mama é uma doença sistêmica, ou seja, não é somente da mama, e se apresenta sob várias formas, podendo ser classificado de acordo com o local de origem, o estágio de desenvolvimento e a agressividade.
É importante dizer que homens também podem ter câncer de mama, mas é muito raro e não deve ser subestimado, já que existe uma tendência a maior agressividade e diagnóstico mais tardio.
1. Tipos de câncer dependendo do local da mama em que ele se origina:
- Carcinoma ductal, 75% dos casos.
- Carcinoma lobular, 5 a 15% dos casos.
- Em menor proporção aparecem o medular, o mucinoso, o papilífero e o tubular.
2. Tipos de câncer dependendo da fase evolutiva:
- In situ, quando as células neoplásicas se encontram inteiramente dentro dos ductos ou dos lóbulos mamários. Os tumores in situ não produzem metástase, ou seja, não existem células doentes fora da mama e são os que têm maiores chances de cura. Geralmente são diagnosticados através de mamografia de rotina. Eles podem ser extensos o suficiente para indicar a remoção completa da mama, mas isso não significa disseminação da doença.
- Invasivo, quando a membrana basal celular foi ultrapassada pelas células tumorais. Podem se disseminar à distância e isso depende de características do próprio tumor, como tamanho e capacidade de multiplicação. A extensão da cirurgia depende de vários fatores, como o tamanho e localização do tumor e, muitas vezes, é necessário tratamento sistêmico.
Gostaria de chamar a atenção para dois tipos especiais de câncer de mama, a saber:
- Carcinoma inflamatório, que se manifesta por alterações na textura da pele que classicamente exibe o aspecto de "casca de laranja". A pele fica espessa, quente, avermelhada, o que justifica o nome "inflamatório". É uma situação pouco comum, mas bastante grave devido ao risco de metástase já na ocasião do diagnóstico. O tratamento geralmente inicia pela quimioterapia, ficando a cirurgia para um momento posterior.
- Doença de Paget, que começa na papila mamária com possibilidade de destruição progressiva da mesma. No início, parece um processo alérgico, um eczema da região, com vermelhidão e coceira associadas. Tende a ser de baixa agressividade e seu tratamento inclui, obrigatoriamente, a retirada do complexo aréolo-papilar. Muitas vezes se associa ao carcinoma ductal in situ ou até mesmo ao invasivo.
Outros tumores com origem não epitelial também podem ocorrer na mama, principalmente originários do tecido muscular, gorduroso e conjuntivo.
Os fatores que mais importam no prognóstico (chance de cura ou do maior tempo possível sem atividade da doença) são o tamanho do tumor e se existe comprometimento dos linfonodos (gânglios) axilares. Esses gânglios funcionam como um "filtro" e existem em vários locais do corpo para nos defender de agressões infecciosas, inflamatórias ou oncológicas. No caso da mama, a maior parte da drenagem linfática segue para a axila do lado onde existe a agressão.
Confira:
E agora, doutora, dá para evitar o câncer de mama?
Cirurgia oncoplástica de mama: entenda as técnicas
O tratamento do câncer de mama envolve dois aspectos, o local e o sistêmico. O tratamento local se baseia na retirada de uma parte da mama ou de toda ela e na remoção de um dos linfonodos axilares, chamado de sentinela por ser o primeiro que recebe a drenagem da mama. Quando esse gânglio se encontra comprometido pelo câncer, o cirurgião deve fazer a retirada dos outros gânglios axilares. A radioterapia também é usada no controle local do câncer, principalmente quando o tumor é muito grande e nos casos em que a mama é preservada.
O tratamento sistêmico visa impedir a disseminação de células doentes, advindas do tumor primário, para o restante do corpo. As modalidades mais usadas são a quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica. Atualmente o tratamento é muito individualizado e procura usar o maior número possível de informações sobre o tumor e a paciente para garantir a maior chance de cura.
E quem trata o câncer de mama? Uma equipe composta por mastologista ou cirurgião oncológico, cirurgião plástico ou mastologista com formação em oncoplastia, radioterapeuta e oncologista. Toda ajuda é bem-vinda e o ideal seria que pudéssemos contar com psicólogo e fisioterapeuta durante todo o processo que envolve desafios físicos e afetivos enormes.
Lógico que toda doença com potencial de comprometer nossa integridade, interferir nos nossos planos, nos assusta, pode nos deixar ansiosos, angustiados, às vezes até imobilizados. Sem dúvida poder contar com uma rede de apoio é fundamental. Amigos, familiares, profissionais da saúde, todos são importantes para a aceitação e administração de todo o processo de diagnóstico, tratamento e seguimento.
Por isso é fundamental dar visibilidade ao câncer de mama. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a taxa de cura, menor a mutilação, menos tempo de afastamento das atividades diárias, menor impacto na qualidade de vida dessa mulher e de seu núcleo social. Com diagnóstico precoce pensamos em 90-95% de cura. Isso é muito significativo.
Mas, infelizmente, o câncer de mama também escancara as nossas imensas desigualdades sociais e ainda perdemos muitas mulheres devido à dificuldade de acesso a exames e tratamento adequado. O câncer não admite atrasos em nenhuma das fases do processo. O preço são vidas, famílias inteiras comprometidas por tratamentos agressivos e, muitas vezes, ineficazes frente ao avanço da doença.
Assim, proponho um pacto amoroso e responsável não somente pela nossa saúde, mas também pela saúde das mulheres com quem convivemos, incentivando-as a colocar seus exames em dia, especialmente a mamografia. Afinal, a mensagem do Outubro Rosa é exatamente essa. Cuide-se e cuide de quem você ama!
*Sobre a autora:
Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, colunista do Portal Trevoo, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso!