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E quando a dor no peito não é infarto?

Caso tenha dor intensa no peito, não deixe de avisar seu médico ou procurar um serviço de emergência - iStock
Caso tenha dor intensa no peito, não deixe de avisar seu médico ou procurar um serviço de emergência - iStock

Marcello Barduco* Publicado em 15/11/2021, às 07h00

Você já ouviu falar de aneurisma de aorta? Essa é outra doença grave que cursa com dor no peito e que não é diretamente relacionada ao coração.

Sala de Emergência: chega Sr. Júlio, 65 anos. Em meio a todo o desconforto que sente, conta que começou a apresentar dor intensa no peito e nas costas, como se algo dentro dele estivesse “rasgando”, que mal permite a respiração, começou a transpirar intensamente e sente tonturas. Obeso, conta que fuma um maço de cigarros por dia e não lembra a última vez que passou em consulta médica, mas que naquela ocasião a pressão estava muito alta. Como o remédio prescrito para seu controle tirou sua disposição, decidiu parar por sua conta.

Este cenário é mais comum do que podemos imaginar. Como diferenciar as doenças mais graves que causam dor no peito? As características clássicas da angina e infarto do coração sempre acarretam apreensão pela sua gravidade. Outras situações que devem ser consideradas nessa hora são as causas não cardíacas.

Aneurisma de aorta pode matar caso não seja adequadamente diagnosticado

Vamos falar do aneurisma de aorta. Quando a artéria aorta, o principal vaso que sai do coração e distribui o sangue por todo o nosso organismo (semelhante ao tronco de uma árvore), começa a se enfraquecer, ocorre uma dilatação do seu diâmetro. Como numa bexiga de festa que sofre insuflação, quanto mais distendida suas paredes vão se apresentando, menor a sua resistência. Dessa forma, conforme a dilatação da aorta vai ocorrendo, maior seu risco de sofrer ruptura. Essa dilatação costuma acontecer lentamente, durante anos, porém quando suas paredes se tornam muito delgadas, o ritmo da dilatação aumenta, causando dor.

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Aneurisma de aorta torácica: veja a diferença do diâmetro da aorta presente nas duas figuras. O enfraquecimento da parede da aorta leva à dilatação de um de seus segmentos

O diâmetro normal da aorta varia dependendo da estatura e do peso de cada indivíduo. Consideramos normal o intervalo de 2,5 cm a 3,5 cm. O aumento deste diâmetro para determinada pessoa é chamado de ectasia da aorta. Se o diâmetro passa de 1,5 vezes o valor considerado normal para o indivíduo, estamos frente ao aneurisma. É nesta situação que existe o risco da ruptura.

Outra apresentação preocupante é a chamada de dissecção da aorta. Neste caso a parede da aorta, que tem estrutura reforçada em três camadas, como uma mangueira, começa a sofrer uma delaminação, ou seja, o sangue passa a circular entre suas camadas, como se estivesse rasgando a estrutura. A dor é intensa e o risco de ruptura é muito grande.

Os sintomas mais frequentes nesses casos são:

- Dor intensa no peito, com característica de aperto, expansão ou dilaceramento

- Transpiração intensa

- Palidez

- Perda de consciência

- Diferença de valor da pressão arterial entre braços (na dissecção de aorta)

- Perda de força em parte do corpo (principalmente na dissecção da aorta)

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Diferente do aneurisma “verdadeiro”, o mecanismo da dissecção é o descolamento de uma das camadas internas da aorta, permitindo que o fluxo de sangue entre na intimidade da parede e vá rasgando a sua estrutura

Algo pode ser feito?

Entender as causas do enfraquecimento da aorta é a chave para reduzir o risco da formação do aneurisma. Imagine que todo o sangue que é ejetado em cada batimento cardíaco sai com uma pressão muito alta e deve ser acomodado pela aorta. Para isso, sua estrutura deve ser resistente e elástica. Situações que causem dano a estas características são os precursores da doença. Então a pressão alta e a formação de placas de ateroma (gordura) nessa estrutura são as causas do quadro. Dessa forma, a prevenção continua sendo a melhor opção. Controle seus fatores de risco para não desenvolver ou não permitir a piora da situação caso ela já esteja presente:

- Hipertensão arterial

- Obesidade

- Aumento do colesterol

- Tabagismo

Quando a doença já se estabeleceu e há necessidade de tratamento, as opções cirúrgicas são as mais eficientes. O implante de próteses intravasculares por cateterismo pode ser uma opção. Outra possibilidade é realizar cirurgia “a céu aberto”, ou seja, abordar a aorta através da abertura do tórax. A opção por cada uma dessas técnicas vai depender da apresentação e da situação em que o paciente se encontra.

Desta forma, não perca tempo. Cuide de seus fatores de risco cardiovascular e, caso tenha dor intensa no peito, não deixe de avisar seu médico ou procurar um serviço de emergência.

*Sobre o autor: Marcello Barduco

Cardiologista e Emergencista do Corpo Clínico do Hospital Sírio-Libanês. Pós-graduado em Geriatria pelo IEP – Hospital Sírio-Libanês. Gestor do Pronto Atendimento no Hospital Santa Cruz (2004 a 2009). Membro do comitê de ética do Hospital Sírio-Libanês (desde 2014). Responsável técnico pela Clínica Barduco há 25 anos. Membro do Conselho Editorial da TREVOO (desde 2021).