Marcello Barduco* Publicado em 03/09/2021, às 10h00
Não é de hoje que são reconhecidos os efeitos positivos da atividade física na saúde e bem-estar de todas as pessoas. Muito estimulado na infância e juventude por sua importância social e de desenvolvimento corporal, o exercício vai sendo colocado de lado conforme as preocupações da vida adulta tendem a se acumular: trabalho, cuidados com familiares, interesses diversos ganham espaço e roubam o tempo que seria destinado à prática de esportes. Aí surgem as doenças, que atrapalham a sua prática.
Acontece que muitas evidências em estudos clínicos mostram o impacto positivo do hábito de atividade física rotineira na saúde cardiovascular, principalmente na redução de eventos como angina ou infarto do miocárdio, independente do momento em que ela se inicia na vida das pessoas. O critério considerado como divisor de águas entre os sedentários e os ativos, segundo a American Heart Association, e aceito no mundo todo é de 150 minutos de atividade aeróbica divididos em cinco vezes durante a semana. Ou seja, uma caminhada de 30 minutos já é considerada benéfica e apresenta bons resultados. A despeito disso, continuamos relegando ao segundo plano este ajuste em nossa agenda diária. Sempre existe uma razão para protelarmos nossa caminhada ou treino. Uma reunião, o clima, a entrega programada que está atrasada são boas desculpas que encontramos para “deixar para amanhã”.
Novas evidências positivas em relação à importância da atividade física para a prevenção e manutenção da saúde, tanto cardiovascular como neurológica, têm se acumulado. Alguns estudos recentes mostram mudanças na história natural de algumas doenças com a implantação de um regime de atividade física estruturado, com resultado interessante após alguns meses de sua execução.
Um estudo publicado recentemente no Journal of Alzheimer’s Disease aponta que pessoas com distúrbio cognitivo leve, como problemas de memória, e aquelas com maior risco de desenvolver doença de Alzheimer, quando submetidas a um programa de exercícios físicos aeróbicos constantes, baseados principalmente em caminhadas vigorosas, apresentavam melhora na capacidade cognitiva reconhecida em testes específicos após um ano. Além disso, mostravam melhora – ainda que sutil – no fluxo sanguíneo cerebral por diminuição da resistência e rigidez das artérias carótidas, a principal via de irrigação do Sistema Nervoso Central. Apesar de um número relativamente pequeno de participantes neste estudo, pode-se afirmar que esta mudança de hábito tem impacto positivo naqueles que aderem à atividade física. Importante: a população estudada era de pessoas consideradas idosas.
Outra pesquisa, chamada ACTIVE-AF trial2, que acaba de apresentar seus resultados no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, estuda pessoas com um tipo específico e frequente de arritmia cardíaca, a Fibrilação Atrial (FA), que está associada a aumento de risco de acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e piora da capacidade física. Pacientes que tinham esta arritmia de maneira contínua ou intermitente foram convidados a participar de um programa de atividade física, também baseado em prática aeróbica moderada, que atinja uma meta de 3,5 horas por semana. Essa mudança de hábito resultou no melhor controle da frequência cardíaca, redução de sintomas e espaçamento de crises no grupo que aderiu ao hábito, em resultados avaliados após um ano de acompanhamento.
Uma dimensão que está por trás dos trabalhos acima, e que torna estes resultados ainda mais relevantes, é a do impacto econômico que ações simples como a atividade física tem sobre os indivíduos. Ambas as doenças estudadas têm tratamento cada vez de mais caros, com drogas específicas de alto custo ou intervenções complexas (como a ablação para FA). A redução na sua ocorrência leva a diminuição de valores gastos com estes tratamentos.
Estes dados apenas corroboram aquilo que percebemos no dia a dia de todos – quanto mais ativos fisicamente, melhores são as condições cardiovasculares e de cognição dos indivíduos. Certamente isto nos estimula a iniciar exercícios o quanto antes. Mas, como devemos fazer com qualquer novo projeto, é essencial nos prepararmos adequadamente antes de sair correndo pelas ruas!
É desejada uma avaliação clínica bem feita, a escolha dos equipamentos (roupas, calçados, óculos que melhorem a visão de desníveis, por exemplo) adequados para cada prática escolhida e acompanhamento por um profissional preparado para orientação das atividades. Quantos amigos e conhecidos que nos contam histórias de lesões e problemas adquiridos por práticas esportivas mal preparadas!
Então, faça sua avaliação, escolha a prática que mais lhe dá prazer, converse com um bom profissional de orientação física e “pernas pra que te quero!”. Não deixe para amanhã!
Referências:
Sobre o autor
*Marcello Barduco - Cardiologista e Emergencista do Corpo Clínico do Hospital Sírio-Libanês. Pós- graduado em Geriatria pelo IEP – Hospital Sírio- Libanês. Gestor do Pronto Atendimento no Hospital Santa Cruz (2004 a 2009). Membro do Comitê de Ética do Hospital Sírio-Libanês (desde 2014). Responsável técnico pela Clínica Barduco há 25 anos. Membro do Conselho Editorial da Trevoo.