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Amor platônico, romântico ou obsessivo: entenda as diferenças

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O que é o amor? E a paixão, é diferente? Perguntas desse tipo não vêm à mente apenas quando estamos apaixonados. Pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, da antropologia à neurociência, têm feito essas perguntas há muito tempo.

Embora o amor romântico seja uma construção recente na história da humanidade, as reflexões sobre as formas de amar são muito antigas. Na Grécia Antiga, por exemplo, o amor passional era representado por Eros, e ser atingido por uma flechada desse deus era como ser possuído por uma loucura. Mas os gregos também mencionavam outras formas de amor – aquele entre amigos, entre pais e filhos, o amor universal (pela natureza, ou por Deus), o amor-próprio e também o amor sem compromisso (Ludus).

Com ou sem sexo

Ao se mencionar a Grécia Antiga, é difícil não lembrar do tal amor platônico, aquele tipo de amor em que o afeto é profundo, mas não existe atração sexual. São pessoas que se admiram, gostam de estar juntas e compartilham os mesmos interesses e valores. Mas tensão sexual está fora do cardápio.

E a amizade colorida? “Costuma acontecer entre pessoas que normalmente já se conhecem e mantém um vínculo de amizade, nutrido por um afeto que não é, necessariamente, uma paixão avassaladora”, descreve a psicóloga Adriane Branco, pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Comportamento e Sexualidade (Cepcos).  “Há desejo pelo outro, fazendo com que mantenham um relacionamento afetivo sexual, sem transformar em namoro. Em geral, não se expõem para amigos e familiares como um casal.”

Química do amor

É inegável que cada cada maneira de amar é capaz de provocar sensações diferentes em nós, e uma única história pode envolver todas elas, em momentos distintos. Estudos conduzidos pela antropóloga Helen Fischer, da Universidade Rutgers, nos EUA, indicam que é possível dividir o amor romântico em três estágios, cada um deles com emoções e hormônios específicos:

1. Tesão ou luxúria: mediado pelos hormônios sexuais (testosterona, nos homens, e estrogênio, nas mulheres), é um dos desejos mais instintivos do ser humano e tem a ver com a necessidade de se reproduzir e perpetuar a espécie. Apesar de chamarmos cada um desses hormônios de "masculino" ou "feminino", ambos existem nos homens e nas mulheres e têm seu papel na libido.

2. Atração: fenômeno mais complexo, e que envolve mensageiros químicos como a dopamina, ligada à sensação de recompensa; a noradrenalina, que gera euforia; e a serotonina, o famoso neurotransmissor ligado à saciedade e ao bom humor. 

3. Apego: ninguém gosta de admitir, mas esse também é um elemento fundamental para tornar o amor duradouro. Isso tem a ver com hormônios como a oxitocina (que traz aquela sensação positiva ao dormir de conchinha com quem você ama) e a vasopressina.

Confira:

Paixão que dói

Nem sempre estar apaixonado é agradável. É quando entra em cena a limerência, mais conhecida como paixão obsessiva – o famoso estar “doente de amor”. É comum, nesses casos, o medo exagerado de ser abandonado, o que pode deixar o parceiro sufocado. “A pessoa que sente uma paixão obsessiva costuma ter pensamentos fantasiosos em relação ao outro, idealizando-o como um ser repleto de qualidades, o que acaba levando a também idealizar o relacionamento”, explica Adriane Branco.

A psicóloga acrescenta que esse tipo de paixão avassaladora é bastante comum em pessoas que sofrem de transtorno borderline, e que precisam de alguém para preencher o vazio existencial que sentem. “Mesmo que tenham que se anular na relação, aceitando tudo o que o outro faz, isso também traz frustração e ressentimento, pois a pessoa quer que o outro perceba seus desejos que não são comunicados”, continua.

Todos esses comportamentos também são comuns em relacionamentos abusivos, um capítulo à parte no universo dos amores doentios e que, muitas vezes, requerem que as vítimas busquem ajuda profissional para enfrentar e sair da situação. “Quando a paixão se transforma em energia negativa, é hora de parar e se cuidar”, acredita a educadora Stella Azulay, especialista em neurociência comportamental.

No fim das contas, tanto o amor quanto a paixão podem ser prazerosos, mas também trazer sofrimento quando envolvem idealizações, expectativas irreais ou a dependência do outro. O lado positivo de amar é ver o alvo do sentimento com clareza, com todas as suas qualidades e defeitos. E não transferir para o outro a responsabilidade pela solução de suas necessidades afetivas.

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin