Sexo também pode ser fonte de bactérias que causam diarreia e vômito; saiba mais
Vinícius Lacerda Ribeiro* Publicado em 23/02/2022, às 13h00
As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) normalmente são conhecidas por apresentarem sintomas locais, como feridas, verrugas ou corrimento na pele ou mucosa dos genitais (pênis, escroto, vulva), do ânus e/ou nádegas. Outras podem ter repercussões em outros órgãos e tecidos, como é o caso do HIV, da sífilis e das hepatites.
Existem alguns tipos de infecções, porém, que podem ser transmitidas pela via sexual e acometem nosso trato digestivo. Inclusive muitas delas não são exclusivamente transmitidas pelo sexo.
Você costuma fazer sexo oral com preservativo?
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Os sintomas dependem muito de qual agente infeccioso e do local que ele acomete:
- Quando acometem o reto (porção final do intestino grosso): muco, pus ou sangue nas fezes, dor retal, sensação de evacuação incompleta. Esse tipo de inflamação retal costuma ser conhecida como proctite. Normalmente são causadas pela clamídia, gonorreia, sífilis (bactérias) ou pelo vírus herpes.
- Quando acometem o intestino grosso: diarreia, dor abdominal, sangue ou muco nas fezes, náuseas e febre. Também conhecidas como colites. Os principais micro-organismos envolvidos são: ameba, campilobacter, salmonela, shigella e, novamente, a clamídia.
- Quando acometem o intestino delgado: diarreia, náuseas, vômitos e febre. Essa inflamação do intestino delgado pode ser chamada de enterite. O principal agente envolvido é a giárdia (um protozoário), mas também pode ser causada por vírus como o da hepatite A e o rotavírus.
A infecções no reto normalmente ocorrem por meio do sexo anal, normalmente desprotegido. Mas a transmissão também pode ocorrer por meio de uma relação com o preservativo, principalmente se houver o uso da saliva como lubrificante. A relação oral-anal (cunete, beijo grego) também pode transmitir, bem como o uso de acéssórios e brinquedos sexuais compartilhados introduzidos no ânus.
Já as infecções dos intestinos delgado e grosso ocorrem por meio de contato da boca com resíduos de fezes. Mas não precisa ser uma grande quantidade ou nem mesmo visível. Qualquer contato com esses agentes, que, quando deglutidos, podem causar a doença. Esse contato pode ocorrer durante a relação oral-anal, no sexo oral com o pênis que já foi introduzido previamente no ânus sem ter sido higienizado, com mão e dedos que foram introduzidos no ânus, bem como acessórios e brinquedos.
Confira:
Isso depende muito do agente causador da infecção:
- As infecções virais normalmente necessitam de suporte com medicações sintomáticas para dor, cólicas e enjôos, além de hidratação e repouso. No caso da infecção retal pelo vírus da herpes, tratamos com uma medicação chamada aciclovir.
- As infecções bacterianas (clamídia, gonorreia, sífilis, salmonela, shigella, e campilobacter) são tratadas com antibióticos, além do suporte clínico e sintomático.
- Já as infecções parasitárias (giárdia e ameba) são tratadas com antiparasitários, também conhecidos como vermífugos. Não existe indicação de vermifugação de rotina como há muito tempo era propagado, a não ser pessoas em condições precárias de saneamento básico. Portanto, deve ser feita somente quando houver sintomas.
- O uso do preservativo ajuda a prevenir as infecções retais.
- O uso de lubrificantes próprios para sexo (a base de água ou silicone), em vez de usar saliva.
- Evitar praticar sexo oral em pênis que já foi introduzido no ânus sem ser higienizado com água e sabão.
- Lavar as mãos com água e sabão após introduzir dedos ou realizar a prática do fisting (introduzir mão, punho e/ou braço no ânus).
- Higienização de acessórios e brinquedos sexuais, bem como encapá-los com preservativo a cada nova pessoa que for utilizar.
- Realizar testagens frequentes para ISTs, principalmente sífilis, bem como pesquisa de clamídia ou gonorreia no reto, urina e garganta.
- Vacinação para hepatite A, principalmente daqueles que não têm histórico de infecção por esse vírus.
- Ao apresentar os sintomas relatados, procurar atendimento médico para o diagnóstico e tratamento adequados, bem como dos seus parceiros, para interromper, assim, a cadeia de transmissão.
*Sobre o autor:
Vinícius Lacerda Ribeiro é cirurgião do aparelho digestivo
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