Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h55 - Atualizado às 13h34
Para muita gente, controlar a gula é uma questão de força de vontade. Mas, infelizmente, isso não é tão simples para quem sofre com o transtorno do comer compulsivo, caracterizado por episódios frequentes em que a pessoa perde o controle e ingere quantidades muito grandes de comida, seguidos de enorme culpa.
Um estudo recém-publicado por uma equipe da Universidade de Waterloo, no Canadá, mostra que suprimir uma parte específica do cérebro faz o desejo por alimentos altamente calóricos aumenta. As informações, que saíram no periódico NeuroImage, podem abrir caminho para novos tratamentos para obesidade e compulsão alimentar.
Os pesquisadores, da Faculdade de Saúde Pública, utilizaram uma técnica conhecida como estimulação magnética transcraniana para inibir temporariamente a atividade no córtex pré-frontal dorsolateral, que é conhecida pela relação com o autocontrole. O procedimento fez os participantes prestarem mais atenção em imagens de guloseimas e sentirem maior desejo de consumir esses alimentos.
A maioria dos voluntários ingeriu mais comida depois do procedimento real, em comparação com quem passou por uma estimulação simulada, o que equivaleria a um placebo.
A boa notícia é que vários fatores relacionados ao estilo de vida podem afetar essa parte do cérebro. A atividade física aeróbica, como corrida e caminhada, por exemplo, age como um estímulo, por isso é uma estratégia cientificamente comprovada para quem costuma perder o controle diante da comida.
Por outro lado, o estresse e o deficit de sono podem prejudicar a função do córtex pré-frontal dorsolateral. Assim, procurar maneiras de lidar melhor com as tensões do dia a dia ajuda a evitar episódios de compulsão alimentar, bem como levar a hora de dormir a sério, desligando os aparelhos eletrônicos no mínimo uma hora antes de se deitar.
Uma outra pesquisa recente, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, chamou atenção para o fato de que os níveis de hormônio da fome (grelina) aumentam e os do hormônio da saciedade (leptina) diminuem à noite. Por isso, pessoas propensas à compulsão por comida tendem a ter os piores episódios a partir do fim da tarde.
Os pesquisadores perceberam, com um experimento que simulava uma situação de estresse, que a grelina também pode aumentar em resposta ao estresse durante o dia. As observações dos pesquisadores foram descritas num relatório do International Journal of Obesity.
A mensagem que fica é que, se você costuma abusar da comida e tiver um dia estressante, é melhor jantar com um amigo ou parente que te ajude a manter o controle, ou praticar alguma atividade relaxante à noite antes de entrar na cozinha.
Se mesmo com todas essas recomendações você não conseguir controlar a compulsão, e se isso traz sofrimento para você ou alguém da sua família, não deixe de procurar ajuda de um especialista em transtornos alimentares.