Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h50 - Atualizado às 23h53
Dietas radicais e exercícios sem orientação adequada são práticas comuns no início do ano, quando nove entre dez brasileiros tentam cumprir a resolução de emagrecer ou ganhar músculos. Essas práticas costumam durar pouco e resultar em frustração, especialmente para quem já não tem uma relação saudável com a comida e a autoimagem.
De acordo com um estudo publicado no mês passado na revista Obesity, a compulsão alimentar é um obstáculo importante para quem realmente precisa perder peso. Uma equipe da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, avaliou dados de mais de 5.000 pessoas de 45 a 76 anos com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 25, ou seja, com sobrepeso ou obesidade, e também com diabetes tipo 2.
A análise mostrou que, depois de quatro anos seguindo orientações de dieta e exercícios, aquelas pessoas que costumam sofrer com episódios frequentes de perda de controle diante da comida tendem a perder menos de 2% do peso corporal. Já quem não tem o problema consegue perder o dobro disso. Sem contar o estrago que um episódio de compulsão, em que se ingere grandes quantidades de calorias em pouco tempo, provoca nos níveis de açúcar do sangue.
Os autores chamam a atenção para a importância de se tratar a compulsão alimentar antes ou em paralelo com o programa de emagrecimento. A estratégia que tem se mostrado mais eficaz para isso, segundo evidências científicas, é a terapia cognitivo-comportamental. Em certos casos, o uso de medicamentos pode ajudar também, mas o mais importante é conquistar uma relação mais saudável com comida, aprendendo a identificar e a driblar os gatilhos que levam à perda de controle.
Transtornos alimentares, como o comer compulsivo e a bulimia, podem ter consequências graves à saúde, sem contar os prejuízos para a qualidade de vida. Para essas pessoas, seguir uma dieta rígida demais, ficar muito tempo em jejum ou eliminar carboidratos do cardápio podem ser estopins para um episódio de descontrole, que termina em mal-estar, frustração e raiva.
Se dietas malucas são um perigo para quem está acima do peso ou tem transtornos alimentares, tudo indica que elas também não ajudam nem um pouco aquelas pessoas que só precisam perder alguns quilos. Segundo pesquisadores da Universidade de Helsinque, na Finlândia, a obsessão para emagrecer, comum em jovens adultos, traz consequências negativas a longo prazo.
O grupo avaliou o comportamento alimentar e medidas de saúde e bem-estar de 4.900 homens e mulheres na faixa dos 24 anos, e depois observou o que aconteceu dez anos depois. Eles viram que a mania de se pesar o tempo todo, cortar alimentos da dieta, planejar meticulosamente as refeições e se entupir de bebidas sem calorias para driblar a fome é algo frequente, e visto como inofensivo. Mas, aos 34 anos, essa obsessão se refletiu em uma cintura maior e uma piora na saúde mental. Os dados estão no periódico European Eating Disorders Review.
Se você quer ter um corpo mais harmonioso, em vez de ficar obcecado com quilos ou centímetros, tente primeiro lutar para ter comportamentos mais saudáveis, como combater a autocrítica excessiva, aprender a reconhecer e respeitar a fome e a saciedade, e investir em estratégias para dormir melhor e reduzir o estresse, que comprovadamente ajudam a manter o apetite sob controle.