Redação Publicado em 11/01/2022, às 10h00
Nervosismo, pânico, medo, sudorese e taquicardia...tudo isso pode ser sintoma de ansiedade. Diante de perigos verdadeiros, são sensações totalmente normais e saudáveis. Mas, às vezes, esses sentimentos surgem na hora errada e acabam interferindo na vida diária. Una McCann, professora de psiquiatria e diretora do Programa de Transtornos de Ansiedade da Escola de Medicina Johns Hopkins, nos Estados Unidos, ensina que se uma pessoa chega ao ponto em que as preocupações cruzam os limites do que seria considerado normal e se tornam um transtorno, a capacidade de lidar com temas da vida diária é prejudicada.
Eventualmente, a ansiedade pode aumentar a ponto de a pessoa ser incapaz de fazer seu trabalho, realizar tarefas domésticas ou cuidar de si mesma ou de seus entes queridos como faria normalmente, explica a médica. Saber o que pode estar causando ou agravando a ansiedade pode ajudar a evitar que chegue a níveis patológicos. Os gatilhos são diferentes para cada pessoa, mas abaixo estão alguns dos mais comuns.
Esta dor no meu peito é um sinal de que estou tendo um ataque cardíaco? Essa erupção na pele significa que tenho câncer? Muitas vezes, a ansiedade pode resultar da preocupação de que haja algo errado com seu corpo. Todo mundo se preocupa com a saúde de vez em quando, mas dependendo da história e da personalidade, os sintomas físicos podem desencadear um transtorno de ansiedade se a preocupação interferir no funcionamento diário. Os sintomas físicos que causam preocupação com a saúde também podem ser muito semelhantes a alguns dos sintomas da própria ansiedade – aumento da frequência cardíaca, hiperventilação, sudorese, sensação de fraqueza – e o ciclo vicioso se completa.
Para alguns, a ansiedade não vem da preocupação com eles próprios, mas, sim, com o que pode acontecer com seus entes queridos. Esses indivíduos se preocupam não apenas com algo que possa acontecer com seus filhos, parentes próximos ou amigos, mas também com como vão lidar se algo de ruim realmente acontecer.
De acordo com a Mayo Clinic, nos EUA, cuidadores são mais propensos a apresentar sintomas de ansiedade. Caregiving in the US 2020, um relatório de pesquisa da Associação Americana de Pessoas Aposentadas (AARP) mostra que 61% dos cerca de 53 milhões de cuidadores nos EUA são mulheres. E estudos têm mostrado que, entre os cuidadores, as mulheres relatam níveis mais elevados de ansiedade do que os homens.
Uma razão pela qual as finanças podem desencadear ansiedade é porque, em nossas mentes, o dinheiro está ligado à sobrevivência. O dinheiro é realmente um recurso que pode fornecer às pessoas uma sensação de segurança e proteção. Quando sentimos que os recursos são escassos, isso pode realmente fazer as pessoas sentirem que sua sobrevivência está em risco, em um nível muito primitivo. Alguns dos estressores comuns estão relacionados a preocupações com poupança, segurança no emprego, salário, falta de conhecimento financeiro, dívidas, fraudes e comparação de riqueza.
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, os adultos devem ter pelo menos sete horas de sono de boa qualidade por dia. Não descansar o suficiente é outro fator que pode piorar o problema. Ao longo dos anos, a professora da Johns Hopkins fez estudos sobre a ligação entre a privação do sono e a ansiedade. Por meio desse trabalho, ela descobriu que, independente de ter ou não um transtorno de ansiedade, essa sensação aumenta após uma noite de privação de sono. Essa ligação pode ser um círculo vicioso: enquanto a privação de sono pode causar ansiedade, a ansiedade pode causar problemas de sono, como aponta a Associação de Depressão e Ansiedade da América. Una também observa que as pessoas se tornam muito mais sensíveis aos efeitos das substâncias que induzem à ansiedade, como a cafeína e outros estimulantes, quando estão privadas de sono.
Sim, o café pode piorar a ansiedade. Alguns estudos mostram que consumir mais de 200 miligramas de cafeína (o equivalente a cerca de duas xícaras de café) pode aumentar a probabilidade de ansiedade e ataques de pânico em pessoas sensíveis à substância.
Os efeitos naturais da cafeína estimulam uma série de sensações, como coração acelerado, calor e respiração mais rápida, que também se assemelham à ansiedade. Para o seu organismo, as sensações são iguais.
Enquanto algumas pessoas com ansiedade podem usar maconha como uma forma de relaxar, a psiquiatra norte-americana diz que a droga, na verdade, contém compostos estimulantes que podem piorar a ansiedade. Infelizmente, muitas pessoas tentam se automedicar com quando ficam ansiosas, e isso pode realmente fazer o tiro sair pela culatra. Ela avisa: só porque algo é natural ou à base de plantas, não significa que seja seguro. Ao adquirir qualquer produto do gênero, se o rótulo disser que o produto pode ter efeito relaxante, é preciso ser orientado por um especialista.
Alguns medicamentos são estimulantes e, portanto, podem desencadear ansiedade em certos pacientes; estes incluem anfetaminas e metilfenidato, ambos usados no tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e narcolepsia. A médica também diz que alguns antidepressivos, como bupropiona e venlafaxina, e alguns medicamentos antiasma podem ser estimulantes para algumas pessoas.
Uma dieta pobre em nutrientes também pode afetar sua saúde mental. De acordo com especialistas, uma alimentação inadequada pode torná-lo mais sensível ao impacto da ansiedade. Pesquisas recentes mostram que comer muito carboidrato processado pode aumentar esse risco, por exemplo. Os pesquisadores acham que isso pode ter relação com mudanças rápidas e repetidas nos níveis de glicose no sangue geradas por esse tipo de alimento. O baixo nível de açúcar no sangue recorrente também está associado a transtornos de humor.
O perfeccionismo pode ser um grande fator de ansiedade. E, para muitos, é um gatilho inesperado de um traço de perfeccionismo subjacente - e a pessoa pode nem mesmo perceber que é assim. A psiquiatra diz que você pode antecipar esse gatilho quando se pegar pensando coisas como: "este projeto terá o melhor resultado de todos", "vou começar agora mesmo e mergulhar tanto neste trabalho".
Algumas pessoas farão de tudo para evitar confrontos. Mas, às vezes, discussões ou desacordos em diferentes relacionamentos são inevitáveis. Além de causar sentimentos de tristeza ou depressão, conflitos dentro de uma rede social podem causar ansiedade. Em particular, faz as pessoas se preocuparem com quais serão as consequências futuras do conflito em relacionamentos íntimos.
Sua rotina nas redes sociais também pode ser um gatilho para ansiedade. Usar quatro ou mais plataformas, estar na mídia social por uma hora ou mais por dia, visitar sites 30 ou mais vezes por semana, sentir uma conexão emocional intensa com a mídia social e/ou sentir-se viciado no uso dessas redes está associado a um aumento do risco de ansiedade, de acordo com um estudo de 2019.
Você não tem que sair de todas elas, só deve limitar o tempo de engajamento para não verificar constantemente quais são as últimas notícias mais impactantes ou a a mais recente batalha das mídias sociais. Algum envolvimento com esse material é bom, mas para muitas pessoas pode ser uma experiência tremendamente estimulante olhar para as redes sociais ou ler as notícias. Se for esse o caso, Una aconselha: "Você precisa realmente pensar se faria sentido limitar sua exposição".
E se você se sentir tão ansioso a ponto de evitar a mídia social por completo, ela diz que passar tempo nas redes sociais pode realmente ser útil, então você pode praticar o aprendizado sobre sua capacidade de tolerar a ansiedade: "É tudo uma questão de encontrar o equilíbrio perfeito", esclarece.
A separação de um cuidador é um gatilho comum de ansiedade para crianças e adolescentes, mas pode ter o mesmo efeito em adultos. Eles frequentemente temem que algum tipo de dano ou algo desagradável aconteça com as pessoas queridas enquanto estiverem separados, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental. Esse medo leva o ansioso a evitar ficar sozinho. É comum haver pesadelos com a separação ou até experimentar sintomas físicos quando o afastamento ocorre ou é antecipado.
Eventos climáticos extremos estão acontecendo com mais frequência e os cientistas os associam ao aquecimento global. Isso pode ser um fator de estresse duplo: os próprios desastres naturais e as mudanças climáticas por trás deles podem causar medo. É a chamada eco-ansiedade, um termo relativamente novo, e mais comum hoje em dia por causa de eventos relacionados ao clima.
A pandemia Covid-19 também levou à criação de um novo termo: coronafobia. Pesquisadores observaram que as preocupações relacionadas ao novo vírus têm várias frentes: a incerteza sobre o que está por vir na pandemia, as mudanças de rotina para evitar a exposição, e as notícias sobre líderes mundiais e celebridades que contraíram o vírus.
Esse gatilho de ansiedade foi experimentado à exaustão nos dois últimos anos. Muitas pessoas têm entes queridos que apresentam um risco aumentado de contrair Covid-19 e, por muito tempo, não foi possível estar com elas por causa do distanciamento físico durante as quarentenas. A perda de controle associada à Covid torna as preocupações com a saúde de um ente querido ainda mais difíceis de se lidar. Quando temos um senso de controle e podemos ver as coisas e interagir com elas, isso nos acalma, de certa forma. Mas a absoluta incapacidade de ver, estender a mão ou ajudar as pessoas que você ama e cuida de longe pode provocar muito mal-estar.
Ser capaz de prever o que pode deflagrar ou piorar sua ansiedade pode ser extremamente útil no controle dela. Mas identificar esse gatilho - ou gatilhos, se houver vários - pode ser difícil. Uma maneira de descobrir quais são eles é manter um diário de pensamentos. Alguns psicólogos pedem aos pacientes que escrevam sobre situações recentes em que houve emoções de alta intensidade. Para cada uma, eles precisam descrever o que passava pela cabeça, e todas as sensações e pensamentos resultantes. Ao refletir sobre os momentos em que a ansiedade atingiu o teto, a pessoa pode começar a ver certos padrões que sugerem o que pode estar desencadeando a situação.
Tente adotar atividades de autocuidado antes que qualquer caos aconteça. A ideia aqui é que, para todos nós, em algum momento, algo caótico vai acontecer. Então, é importante pensar sobre como se preparar para isso para que você se sinta mais resiliente. Quando algo desencadeia a ansiedade e você experimenta fortes emoções por causa disso, atividades de autocuidado por si só não são suficientes para reduzir a sensação ruim. Mas mecanismos de enfrentamento, como a prática da atenção plena, podem funcionar com o passar do tempo. Abrir-se para outras pessoas também pode ajudar a superar a ansiedade.
Identificar esses gatilhos e lidar com eles mais cedo ou mais tarde pode ser útil para controlar a ansiedade. Mas se sua situação chegar a um ponto em que você sente que já está fora de controle, a psiquiatra aconselha a procurar um médico. Existem tratamentos - tanto medicamentosos quanto comportamentais - para todos os transtornos de ansiedade.
Fonte: Health
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