Esse sistema interno do corpo dita quando comemos, dormimos e pode influenciar a prática de exercícios
Redação Publicado em 05/07/2022, às 14h30
Qualquer pessoa que tenha sofrido com um jet lag (distúrbio temporário do sono devido a uma viagem por vários fusos horários) ou lutado para se adaptar ao relógio uma hora para frente ou para trás devido ao horário de verão já teve contato com o que os pesquisadores chamam de relógio biológico ou ritmo circadiano: o "marca-passo mestre" que sincroniza como o corpo responde à passagem de um dia para o outro.
Mas qual o impacto desse mecanismo para o corpo? É o que tentou explicar um novo artigo publicado no The Conversation.
Este “relógio” é formado por cerca de 20.000 neurônios no hipotálamo, a área próxima ao centro do cérebro responsável por coordenar funções inconscientes do corpo, como a respiração e a pressão arterial.
Mas essa não é uma característica exclusiva dos humanos. Todos os vertebrados têm esse sistema interno, bem como plantas, fungos e bactérias. Isso explica porque os gatos são mais ativos ao amanhecer e ao anoitecer, por exemplo, ou a razão para as flores florescerem em certas horas do dia.
O relógio biológico também é essencial para a saúde e para o bem-estar. Ele coordena mudanças físicas, mentais e comportamentais do corpo ao longo de cada ciclo de 24 horas em resposta a pistas ambientais, como luz e comida.
O desalinhamento crônico desse sistema com fatores externos, como trabalhar no turno da noite, pode levar a transtornos físicos e mentais, incluindo obesidade, diabetes tipo 2, câncer e doenças cardiovasculares.
O relógio biológico regula os ciclos de sono-vigília e variações na pressão arterial e na temperatura corporal. Ele faz isso, principalmente, sincronizado com o sistema endócrino em ciclos ambientais claro-escuros para que certos hormônios sejam liberados em determinadas quantidades em determinadas horas do dia.
A glândula pineal localizada no cérebro, por exemplo, produz melatonina, um hormônio que ajuda a regular o sono em resposta à escuridão. Os médicos aconselham reduzir a exposição à luz azul artificial de dispositivos eletrônicos antes de dormir, pois pode atrapalhar a secreção de melatonina e a qualidade do sono.
O ritmo circadiano também afeta o metabolismo. Entre outras coisas, o sono ajuda a regular a leptina, um hormônio que controla o apetite. Seus níveis flutuam ao longo do dia de acordo com um ritmo definido pelo relógio biológico. O sono insuficiente ou irregular é capaz de interromper sua produção, o que pode nos deixar mais famintos e levar ao ganho de peso.
Confira:
Pesquisas têm sugerido que o relógio biológico pode interferir na alimentação. Comer em horários determinados do dia, ou ter uma alimentação restrita, pode prevenir a obesidade e doenças metabólicas.
A depressão e outros transtornos de humor também podem estar ligados ao controle circadiano disfuncional, levando a mudanças na forma como os genes são expressos. Inclusive, a hora do dia em que tomamos remédio também pode afetar quão bem ele funciona e quão severos poderão ser os efeitos colaterais. Da mesma forma, o relógio biológico é um alvo potencial para quimioterapias contra o câncer e tratamentos antiobesidade.
Até mesmo a nossa personalidade pode ser moldada se ele faz de nós uma pessoa “matinal" ou “noturna".
Segundo o artigo, o ritmo circadiano também fornece uma resposta potencial para quando é a melhor hora do dia para maximizar os benefícios do exercício físico.
Para isso, um grupo de pesquisadores coletou amostras de sangue e tecidos do cérebro, do coração, dos músculos, do fígado e da gordura de ratos que se exercitavam antes do café da manhã ou depois do jantar.
Eles utilizaram uma ferramenta chamada “espectrômetro de massa” com objetivo de detectar, aproximadamente, 600 a 900 moléculas que cada órgão produziu. Esses metabólitos serviram para entender como os camundongos responderam ao exercício em horários específicos do dia.
Esse material serviu para criar um mapa de como o exercício da manhã versus o da noite afetou cada um dos diferentes sistemas de órgãos dos camundongos – o que foi chamado de atlas do metabolismo do exercício.
Usando esta espécie de mapa, a equipe observou que a hora do dia afeta como cada órgão usa energia durante o exercício. Por exemplo, a atividade matinal reduziu os níveis de glicose no sangue mais do que a noturna.
Em contrapartida, o exercício no final da noite permitiu que os ratos se beneficiassem da energia armazenada em suas refeições e aumentassem a resistência.
É claro que camundongos e humanos têm muitas diferenças, apesar das semelhanças. Por um lado, os ratos são mais ativos à noite do que durante o dia. Ainda assim, acredita-se que as descobertas podem ajudar a entender como o exercício afeta a saúde e como pode ser otimizado com base na hora do dia para atingir metas pessoais.
O artigo acredita que há um enorme campo de pesquisas para entender melhor os mecanismos do relógio biológico e o seu impacto na saúde e no bem-estar dos seres humanos. Mas, enquanto isso, há algumas maneiras comprovadas cientificamente de como sincronizar os ritmos circadianos para uma melhor saúde:
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