Muita gente faz tratamento psicológico ou psiquiátrico por causa de transtornos mentais como ansiedade ou depressão, que podem ser episódicos ou recorrentes. Porém, existe uma outra classe de transtornos, os chamados “transtornos de personalidade”.
Transtornos de personalidade são caracterizados por padrões de pensamentos, reações e relacionamentos que são persistentes. Em alguns casos, eles podem melhorar com o passar da idade, mas muitas vezes são constantes ao longo da vida, trazendo sofrimento significativo para própria pessoa ou para quem convive com ela.
Estima-se que cerca de 9% da população geral e parte considerável dos pacientes psiquiátricos tenham algum transtorno de personalidade, sendo que a comorbidade é algo comum, ou seja, a pessoa tem mais de um tipo de transtorno mental. Como nos casos da depressão e da ansiedade, acredita-se que os transtornos de personalidade sejam causados por uma combinação de fatores genéticos e ambientais.
O DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), um dos manuais de diagnósticos de transtornos mentais de referência para psicólogos e psiquiatras, divide os transtornos de personalidade em três diferentes clusters, ou seja, agrupamentos. Cada grupo abrange um conjunto distinto de transtornos de personalidade com pontos em comum em relação a sintomas, comportamentos e padrões psicológicos.
O cluster A (ou grupo A) refere-se a transtornos de personalidade com características estranhas ou excêntricas. Os indivíduos deste grupo apresentam frequentemente retraimento social, crenças peculiares ou paranoicas e dificuldades em formar relacionamentos íntimos. São eles:
O grupo B compreende transtornos de personalidade com comportamentos dramáticos, emocionais ou erráticos. Os indivíduos deste grupo frequentemente apresentam ações impulsivas, instabilidade emocional e desafios na manutenção de relacionamentos estáveis. Este grupo inclui:
O grupo C envolve transtornos de personalidade com características de ansiedade e medo. Os indivíduos deste grupo tendem a sentir ansiedade significativa, medo de abandono e uma necessidade excessiva de controle ou perfeccionismo. Esse grupo inclui:
O transtorno de personalidade evitativa (ou esquiva) é caracterizado por um padrão persistente de ansiedade diante de situações sociais, forte sensibilidade à rejeição e críticas, e sentimentos generalizados de inadequação, juntamente com um desejo profundamente enraizado por conexões significativas com outras pessoas.
O psiquiatra suíço Eugen Bleuler descreveu pela primeira vez um tipo de personalidade evitativa em seu trabalho de 1911, "Dementia Praecox: Or the Group of Schizophrenias". O psiquiatra alemão Ernst Kretschmer esclareceu a distinção entre tipos de personalidade esquizoide e tipos de personalidade evitativa em 1921.
Historicamente, tem havido controvérsias em relação às semelhanças entre esse transtorno de personalidade e o transtorno de ansiedade social (ou fobia social), mas hoje eles são considerados quadros diferentes entre si. Pessoas com transtorno de personalidade evitativa apresentam sintomas de ansiedade social, mas também é possível que uma pessoa sofra de ansiedade social sem ter esse transtorno de personalidade.
As características clínicas do transtorno de personalidade evitativa incluem pelo menos quatro das seguintes manifestações:
Existe um número limitado de pesquisas sobre o manejo ideal desse transtorno de personalidade. Diferentes tipos de psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), têm sido exploradas no tratamento. A TCC procura abordar padrões de pensamento desadaptativos, aumentar a auto-estima, melhorar as habilidades sociais e desafiar comportamentos de evitação. No entanto, as taxas de resposta são limitadas para esta intervenção.
A terapia de exposição, um subtipo de terapia cognitivo-comportamental, também demonstrou alguma eficácia para casos em que há uma fobia social concomitante, mas apresenta um alto risco de abandono do tratamento (já que é difícil para essas pessoas se colocarem em situações de exposição). A terapia interpessoal também foi apresentada com possível eficácia no tratamento.
Não existem tratamentos medicamentosos específicos para a condição. Porém, pessoas com transtorno de ansiedade social podem responder bem aos antidepressivos moduladores serotoninérgicos, como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) e inibidores da recaptação da serotonina-noradrenalina (IRSN).
Fontes:DSM-5, NIH (Institutos Nacionais de Saúde, nos EUA) e Manual MSD
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin