7 manifestações do transtorno de personalidade evitativa

Esse transtorno mental é marcado pela sensação de inadequação e medo de ser rejeitado

Tatiana Pronin Publicado em 23/05/2024, às 14h00

Ruminações sobre rejeição são frequentes para quem sofre desse transtorno - iStock

Muita gente faz tratamento psicológico ou psiquiátrico por causa de transtornos mentais como ansiedade ou depressão, que podem ser episódicos ou recorrentes. Porém, existe uma outra classe de transtornos, os chamados “transtornos de personalidade”.

O que é transtorno de personalidade?

Transtornos de personalidade são caracterizados por padrões de pensamentos, reações e relacionamentos que são persistentes. Em alguns casos, eles podem melhorar com o passar da idade, mas muitas vezes são constantes ao longo da vida, trazendo sofrimento significativo para própria pessoa ou para quem convive com ela.  

Estima-se que cerca de 9% da população geral e parte considerável dos pacientes psiquiátricos tenham algum transtorno de personalidade, sendo que a comorbidade é algo comum, ou seja, a pessoa tem mais de um tipo de transtorno mental. Como nos casos da depressão e da ansiedade, acredita-se que os transtornos de personalidade sejam causados por uma combinação de fatores genéticos e ambientais.

Grupos de transtornos de personalidade

O DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), um dos manuais de diagnósticos de transtornos mentais de referência para psicólogos e psiquiatras, divide os transtornos de personalidade em três diferentes clusters, ou seja, agrupamentos. Cada grupo abrange um conjunto distinto de transtornos de personalidade com pontos em comum em relação a sintomas, comportamentos e padrões psicológicos.

O cluster A (ou grupo A) refere-se a transtornos de personalidade com características estranhas ou excêntricas. Os indivíduos deste grupo apresentam frequentemente retraimento social, crenças peculiares ou paranoicas e dificuldades em formar relacionamentos íntimos. São eles:

O grupo B compreende transtornos de personalidade com comportamentos dramáticos, emocionais ou erráticos. Os indivíduos deste grupo frequentemente apresentam ações impulsivas, instabilidade emocional e desafios na manutenção de relacionamentos estáveis. Este grupo inclui:

O grupo C envolve transtornos de personalidade com características de ansiedade e medo. Os indivíduos deste grupo tendem a sentir ansiedade significativa, medo de abandono e uma necessidade excessiva de controle ou perfeccionismo. Esse grupo inclui:

Transtorno de personalidade evitativa

O transtorno de personalidade evitativa (ou esquiva) é caracterizado por um padrão persistente de ansiedade diante de situações sociais, forte sensibilidade à rejeição e críticas, e sentimentos generalizados de inadequação, juntamente com um desejo profundamente enraizado por conexões significativas com outras pessoas.

O psiquiatra suíço Eugen Bleuler descreveu pela primeira vez um tipo de personalidade evitativa em seu trabalho de 1911, "Dementia Praecox: Or the Group of Schizophrenias". O psiquiatra alemão Ernst Kretschmer esclareceu a distinção entre tipos de personalidade esquizoide e tipos de personalidade evitativa em 1921.

É diferente da ansiedade social

Historicamente, tem havido controvérsias em relação às semelhanças entre esse transtorno de personalidade e o transtorno de ansiedade social (ou fobia social), mas hoje eles são considerados quadros diferentes entre si. Pessoas com transtorno de personalidade evitativa apresentam sintomas de ansiedade social, mas também é possível que uma pessoa sofra de ansiedade social sem ter esse transtorno de personalidade.

7 características do transtorno

As características clínicas do transtorno de personalidade evitativa incluem pelo menos quatro das seguintes manifestações:

  1. Evitar atividades sociais, interpessoais e ocupacionais que envolvam contato frequente devido a um medo subjacente de crítica, desaprovação ou rejeição.
  2. Relutância em se envolver em novos relacionamentos, a menos que haja certeza de ser apreciado.
  3. Restrição nos relacionamentos íntimos devido ao medo de ser ridicularizado ou humilhado.
  4. Preocupação com críticas e rejeição.
  5. Inibição em novas situações interpessoais devido a sentimentos de inadequação.
  6. Baixa autoconfiança com a crença de que são inerentemente inferiores ou pouco atraentes para os outros.
  7. Relutância em assumir riscos pessoais ou se envolver em atividades que possam resultar em constrangimento ou percepção de fracasso.

Tratamentos

Existe um número limitado de pesquisas sobre o manejo ideal desse transtorno de personalidade. Diferentes tipos de psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), têm sido exploradas no tratamento. A TCC procura abordar padrões de pensamento desadaptativos, aumentar a auto-estima, melhorar as habilidades sociais e desafiar comportamentos de evitação. No entanto, as taxas de resposta são limitadas para esta intervenção.

A terapia de exposição, um subtipo de terapia cognitivo-comportamental, também demonstrou alguma eficácia para casos em que há uma fobia social concomitante, mas apresenta um alto risco de abandono do tratamento (já que é difícil para essas pessoas se colocarem em situações de exposição). A terapia interpessoal também foi apresentada com possível eficácia no tratamento.

Não existem tratamentos medicamentosos específicos para a condição. Porém, pessoas com transtorno de ansiedade social podem responder bem aos antidepressivos moduladores serotoninérgicos, como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) e inibidores da recaptação da serotonina-noradrenalina (IRSN).

Fontes: DSM-5, NIH (Institutos Nacionais de Saúde, nos EUA) e Manual MSD

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