Redação Publicado em 29/03/2022, às 10h00
Diminuir o consumo de açúcar pode parecer algo impossível, especialmente se você for daquelas pessoas que não abrem mão de um docinho todos os dias e que gostam de adoçar bem café e sucos. Pode parecer que esse costume seja algo inofensivo, mas não é. O consumo de açúcar com frequência pode prejudicar, e muito, o metabolismo, gerando doenças e mal-estar.
O excesso de açúcar pode levar ao envelhecimento precoce da pele devido a um processo conhecido como glicação, que é a relação entre o consumo excessivo de açúcar refinado (carboidratos) e o envelhecimento cutâneo acelerado. Algumas pessoas são mais propensas que outras a sofrer com esse processo. Nele, a glicose que fica solta no sangue liga-se às proteínas, formando AGEs (produtos finais da glicação avançada). Esses AGEs causam uma desordem tecidual, degradando as fibras de colágeno e elastina, e levando à perda da elasticidade da pele, à formação de rugas e ao envelhecimento do tecido. Dessa forma, é necessário utilizar suplementos antiglicantes para reverter os danos.
Além de afetar a pele, o consumo excessivo de açúcar também pode prejudicar a saúde dos cabelos. Isso porque o aumento de insulina provocado pela ingestão de açúcar faz com que sejam liberados hormônios que inibem a divisão celular da raiz capilar, além de provocar um processo inflamatório que afeta o couro cabeludo, favorecendo o afinamento dos fios e a queda capilar.
O consumo excessivo de açúcar pode levar a doenças metabólicas como obesidade e diabetes, e também agrava os riscos de doenças cardiovasculares, inflamatórias, degenerativas e até neoplásicas.
Ingerir muito açúcar também pode favorecer o surgimento de câncer. As células cancerígenas, assim como todas as outras do organismo, precisam de fontes de energia para sobreviver. Enquanto algumas células retiram essa energia do oxigênio, outras, como as neoplásicas, utilizam como fonte de energia a fermentação do açúcar. Dessa forma, a glicose, mais especificamente, pode impulsionar o desenvolvimento do câncer, já que alimenta as células cancerígenas, que crescem e se espalham pelo organismo. O açúcar é um vilão ainda maior se o câncer já estiver em desenvolvimento, pois, durante os períodos de rápido crescimento do tumor, as células cancerígenas digerem o açúcar até 200 vezes mais rápido do que as células normais.
Com a obesidade e o diabetes, cria-se um círculo vicioso no organismo, no qual a obesidade retroalimenta e potencializa os riscos de diabetes e patamares elevados de gordura no sangue, tudo convergindo para uma constante e crescente ameaça à saúde cardiovascular. Ou seja, o açúcar pode favorecer o aparecimento de problemas cardiovasculares, causando, por exemplo, o espessamento e o acúmulo de placas de gordura dentro da parede das artérias, com consequente obstrução desses vasos. Dependendo da artéria afetada, tal quadro pode levar ainda a incidência de infarto, derrame e problemas de claudicação, que é quando você vai caminhar e tem dificuldade de andar porque falta sangue nas pernas.
Doces e carboidratos em excesso também podem favorecer o aparecimento e piora de corrimento e candidíase em mulheres. Esses alimentos tornam-se glicose no organismo, fazendo com que o pH vaginal fique mais ácido. Com isso, há uma desregulação das bactérias locais, com aumento da produção de fungos e bactérias patógenas, causando candidíase e corrimento.
Além de favorecer a obesidade, o que prejudica a qualidade e a quantidade dos espermas e o processo de ovulação, a ingestão de açúcar, por si só, já reduz as chances de um casal engravidar. O consumo excessivo de açúcar pode levar a um processo inflamatório com consequente risco de estresse oxidativo, o que pode lesar o DNA de células germinativas, aumentar a frequência de mutações prejudiciais e desequilibrar a expressão de genes que atuam na reprodução, assim comprometendo o processo reprodutivo.
O açúcar é um dos grandes vilões da saúde oral. Um dos principais problemas nesse sentido é a formação de cáries, que ocorre quando as bactérias da boca metabolizam o açúcar que consumimos, tornando o pH da boca ácido e, consequentemente, provocando a desmineralização do esmalte dos dentes e o aparecimento das cáries. E o pior é que o início dessa ação ocorre poucas horas após a ingestão do açúcar. Além disso, o açúcar também favorece o acúmulo de placa bacteriana, que, quando não removida adequadamente, também pode ocasionar gengivite e mau hálito.
O segredo para não prejudicar a saúde é apostar na moderação, reduzindo o consumo de açúcar a, no máximo, uma colher de sopa do ingrediente por dia. O problema é que pode ser muito difícil diminuir de tal forma a ingestão, até porque a maioria dos alimentos contêm alguma forma da substância em sua composição.
Mas a boa notícia é que existem medidas que podem ser tomadas para reduzir os danos causados pelo açúcar. Por exemplo, existem nutrientes como fibras, gorduras boas e proteínas, que, se forem ingeridos juntos com carboidratos refinados, doces e açúcares, reduzem a velocidade de digestão e absorção do açúcar no sangue, diminuindo o índice glicêmico e fazendo com que os níveis de glicose e insulina circulantes não aumentem tão rápido.
Fontes:
Aline Lamaita, cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular;
Hugo Lewgoy, cirurgião-dentista e doutor em Odontologia pela USP;
Luisa Wolpe Simas, nutricionista e consultora de nutrição integrada da Biotec Dermocosméticos;
Marcella Garcez, médica nutróloga, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia;
Marcelo Sady, geneticista e pós-doutor em Genética e diretor geral da Multigene.
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