Estudo mediu os benefícios do uso diário de uma plataforma digital de meditação
Tatiana Pronin Publicado em 16/01/2025, às 10h00
O estresse relacionado ao trabalho é um dos fatores que mais afeta a saúde mental e o bem-estar emocional das pessoas em todo o mundo, levando a altas taxas de absenteísmo e baixa produtividade.
Só nos EUA, estima-se que 8% de todos os custos com saúde são atribuíveis ao estresse relacionado ao trabalho, principalmente entre profissionais de saúde – 45% deles relatam altos níveis de esgotamento profissional.
No Brasil, dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt) indicam que somos o segundo país com maior número de casos diagnosticados de "burnout" no mundo.
A meditação mindfulness (de atenção plena) tem sido proposta como ferramenta capaz de reduzir o estresse, uma vez que incentiva a consciência sobre o momento presente e ajuda a promover a autorregulação, ou seja, o controle que conseguimos ter sobre nossas emoções e comportamento.
Muitas empresas vêm investindo em programas presenciais de mindfulness. No entanto, esse formato é difícil de ser aplicado em larga escala. Meditações guiadas com o uso de aplicativos de smartphone podem ser uma alternativa mais acessível em termos de custo e disseminação. Além disso, a tecnologia permite que as instruções sejam padronizadas, por exemplo.
⇒ Veja, aqui, algumas dicas para começar a meditar
Mas será que promover o uso de aplicativos pode ser uma ferramenta eficaz no controle do estresse e esgotamento relacionados ao trabalho? Pesquisadores do departamento de psiquiatria e ciências do comportamento da Universidade da Califórnia, nos EUA, decidiram investigar a questão.
O estudo contou com mais de 1.400 funcionários da própria universidade. Uma amostra escolhida aleatoriamente foi orientada a usar uma plataforma digital de meditação, o Headspace, enquanto outra parte foi colocada numa lista de espera.
Os pesquisadores avaliaram os impactos imediatos na percepção de sofrimento psicológico, bem como a manutenção dessa melhora autorrelatada. Todos os participantes tiveram seus níveis de estresse no trabalho avaliados, assim como a carga laboral, o esgotamento profissional, o engajamento no trabalho, e sintomas de depressão e ansiedade. Eles também avaliaram a adesão ao tratamento no grupo de intervenção.
Aqueles que praticaram o mindfulness digital sentiram maior satisfação e engajamento com o trabalho inclusive meses depois, em comparação com o grupo de controle. Eles também relataram se sentir mais felizes, menos ansiosos e mais conscientes de sua vida cotidiana, conforme descrito no artigo publicado no periódico Jama Network Open.
"Nossa equipe encontrou melhorias significativas e sustentadas no bem-estar, no prazer no trabalho e na mindfulness, particularmente entre aqueles que meditaram com maior frequência", disse Rachel Radin, psicóloga, professora e principal autora do estudo.
Este estudo confirma descobertas anteriores que indicam os benefícios psicológicos da prática de mindfulness para os funcionários e os amplia para uma plataforma digital."
Os participantes que foram escolhidos para praticar a meditação digital mostraram melhorias significativas em todos os resultados do estudo imediatamente após o tratamento, incluindo reduções nos níveis de estresse global, carga laboral e esgotamento profissional, depressão e ansiedade.
Eles também apresentaram aumentos na atenção plena, na sensação de recompensa no trabalho e no engajamento laboral. Após quatro meses de acompanhamento, essas melhorias foram mantidas.
A maior adesão ao tratamento, com pelo menos cinco minutos de meditação por dia, foi associada a maiores reduções no estresse percebido.
"Os mecanismos pelos quais as intervenções de mindfulness digital proporcionam benefícios tanto no estresse geral quanto no relacionado ao trabalho podem incluir uma maior capacidade de lidar com situações estressantes e reavaliá-las positivamente", disse Aric Prather, professor de psiquiatria e coautor sênior do estudo.
"O mindfulness digital parece ser uma maneira de baixo custo e baixo esforço para melhorar a saúde dos funcionários em larga escala."
A equipe do estudo acredita que pesquisas futuras podem ser necessárias para melhorar a adesão à intervenção de tratamento e para caracterizar melhor os mecanismos de tratamento.
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