Você acorda sempre com muito cansaço, ronca e desconfia que sofre de apneia do sono? Saiba que você agora tem mais uma razão para procurar o médico o quanto antes.
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é caracterizada por interrupções frequentes na respiração durante a noite, o que na maioria das vezes acontece sem que a pessoa acorde. Vários estudos já relacionaram esse distúrbio do sono a condições graves, como hipertensão, problemas cardíacos e neurológicos.
Agora, novas evidências mostram que a apneia do sono também pode aumentar o risco de alguns tipos de câncer, incluindo aqueles que afetam o sistema digestivo, rins e mamas. Em outras palavras, a condição pode acarretar riscos à saúde mais sérios do que se imaginava.
O estudo mais recente sobre o tema, publicado no Journal of Clinical Sleep Medicine, descobriu que, de um total de 1.990 pacientes com apneia do sono, 181 desenvolveram câncer durante o período de acompanhamento de 13 anos. Isso representa cerca de 9% da amostra de pacientes, uma taxa significativamente alta, segundo o médico do sono Ram Kishun Verma, da Universidade de Indiana (EUA), um dos revisores da pesquisa.
Trabalhos anteriores já haviam mostrado que as taxas gerais de câncer são cerca de 26% mais altas em pessoas diagnosticadas com apneia do sono, em comparação com a população em geral. O novo estudo também descobriu que quanto mais grave a apneia, maior o risco de câncer.
Estima-se que quase 1 bilhão de pessoas no mundo — e 39% dos adultos nos EUA — tenham apneia do sono. O pior é que a condição é amplamente subdiagnosticada e subtratada — até 9 em cada 10 pessoas com AOS não sabem que têm o problema.
A falta de oxigênio decorrente da obstrução do fluxo de ar pode desencadear uma série de reações bioquímicas no corpo que podem levar ao câncer, segundo os pesquisadores.
Baixos níveis de oxigênio durante o sono podem criar moléculas que danificam o DNA, causando alterações genéticas prejudiciais e aumentando o risco de câncer.
Isso ocorre porque ciclos repetidos de queda no oxigênio podem causar estresse oxidativo — um desequilíbrio entre radicais livres e antioxidantes. Os radicais livres são moléculas instáveis que podem danificar membranas celulares, proteínas e DNA, desencadeando inflamação. Para se proteger contra a inflamação, o corpo produz proteínas chamadas citocinas.
Essas proteínas contêm moléculas chamadas "moléculas de adesão celular”. Uma delas — a molécula de adesão celular vascular-1 (VCAM-1) — desempenha um papel significativo no desenvolvimento do câncer, ajudando as células tumorais a se ligarem às células que revestem os vasos sanguíneos. Isso leva ao crescimento do tumor e à disseminação do câncer.
No novo estudo, os pacientes passaram por uma polissonografia, o teste padrão para avaliar a gravidade da apneia do sono, utilizando uma ferramenta chamada “índice de apneia-hipopneia”.
Ao calcular a média do número de vezes por hora em que as vias aéreas são completamente bloqueadas pelo nariz e boca — "apneia" — e contar o número de vezes em que as vias aéreas são apenas parcialmente obstruídas — "hipopneia" —, os especialistas em sono podem classificar a gravidade da condição.
A classificação é medida em eventos por hora. Alguém com apneia leve pode ter de cinco a 15 eventos por hora durante o sono, enquanto uma pessoa com apneia grave terá mais de 30.
Os participantes do estudo tiveram seu sangue coletado para medir os níveis de biomarcadores inflamatórios. Em um subconjunto de 427 pacientes, a VCAM-1 foi encontrada em níveis elevados, junto com outro biomarcador chave: a endostatina.
A endostatina impede a formação de novos vasos sanguíneos, um processo chamado angiogênese. Os tumores dependem de novos vasos sanguíneos para crescer, então bloquear esse processo ajuda a retardar seu crescimento.
No entanto, níveis elevados de endostatina têm sido associados a um risco maior de câncer. Isso porque a endostatina é um marcador de inflamação sistêmica, especialmente no câncer colorretal.
"Ambos os biomarcadores estavam elevados nas amostras [de pacientes] que mais tarde desenvolveram câncer", disse Verma.
À medida que a gravidade da apneia do sono aumentava, o risco de câncer também aumentava. Assim, se o índice de apneia-hipopneia aumentar em 10, isso equivale a um risco 8% maior de câncer. Se o índice passar de 20 para 40, o risco de câncer aumenta em 16%.
Controlar a apneia do sono com o tratamento adequado já mostrou reduzir outros riscos à saúde, como ataque cardíaco, derrame e diabetes. Sem contar nos riscos de acidentes devido ao cansaço crônico.
O mesmo pode ser verdade para o risco de câncer, embora sejam necessárias mais pesquisas para ter certeza.
Os sinais de alerta da apneia do sono incluem:
O risco é maior para quem está acima do peso ou com obesidade, fuma, bebe álcool, tem pressão alta ou diabetes. Mas pessoas magras também podem ter apneia.
Se você desconfia da condição, procure seu médico, que irá pedir um exame de polissonografia.
O tratamento mais comum da apneia é o uso de uma máscara com pressão positiva nas vias aéreas, que ajudam a restabelecer o fornecimento de oxigênio para os pulmões.
Fonte: WebMD
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin