Redação Publicado em 06/10/2022, às 12h00
Mudar narrativas, tornar-se defensivo e adicionar detalhes dramáticos às histórias podem ser hábitos de um mentiroso patológico. Mas não sempre. A mentira patológica – também conhecida como pseudologia fantástica, mitomania e mentira mórbida – é um padrão compulsivo de dizer às pessoas coisas que você sabe que não são verdadeiras.
Mentir persistentemente pode ser um desejo tão forte que é difícil de superar, de modo semelhante aos rituais para pessoas que sofrem com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). A mentira patológica é um conceito estabelecido e controverso na psicologia, embora não apareça como um diagnóstico isolado na 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR), que é referência nos EUA.
Em ambientes clínicos, a mentira patológica pode ser considerada uma ocorrência situacional ou um sintoma de uma condição de saúde mental. Mas, com pesquisas limitadas, os especialistas geralmente exploram o impulso de mentir no contexto de outros padrões de pensamento e comportamento.
Não, a maioria das pessoas mente de vez em quando e isso não é um indicador de patologia. Patológico significa que o comportamento pode estar relacionado ou causado por um problema de saúde. Se mentir e embelezar a realidade são ocorrências regulares e difíceis de se controlar, o comportamento pode ser considerado patológico, mas o contexto é importante para a confirmação. Um estudo de 2020 chegou a quantificar a mentira patológica: seria contar cinco ou mais mentiras em um período de 24 horas, todos os dias, por mais de seis meses.
Se você tem um padrão de mentira patológica, pode:
Um sinal é quando alguém conta consistentemente histórias sobre eventos extremos, anormais ou improváveis em que esteve envolvido. Como, por exemplo, fazer amizade com celebridades, testemunhar um sequestro, ganhar um prêmio importante ou perder ambos os pais durante a infância.
Você pode estar falando com um mentiroso patológico se perceber:
Um estudo relatou que cerca de 13% das pessoas se identificaram como mentirosos patológicos.
A causa da mentira patológica não é bem estabelecida, pois os estudos são limitados. Pesquisadores ainda estão tentando determinar se o cérebro de um mentiroso patológico seria diferente de um 'mentiroso normal'. Algumas condições de saúde mental podem estar associadas a padrões de mentira patológica, como:
-Transtorno de personalidade antissocial: pode mentir por status, para obter recursos ou simpatia.
-Transtorno de personalidade borderline: pode mentir para evitar rejeição ou abandono.
-Transtorno factício ou síndrome de Munchausen por procuração: pode mentir para parecer doente ou fazer alguém sob seus cuidados parecer doente.
-Transtorno de personalidade narcisista: pode tender a mentir para obter algo de outra pessoa, preservar um falso senso de si mesmo, sair de problemas ou reforçar a percepção dos outros sobre eles.
Segundo psicólogos, para alguns a mentira patológica também pode estar ligada a traumas de infância. Pode ter se desenvolvido como um mecanismo de enfrentamento para ajudar alguém a ter suas necessidades atendidas. Normalmente, essas pessoas crescem em ambientes onde aprenderam desde cedo que não são boas o suficiente, que ser um ser humano falho é inaceitável. É provável que foram abusadas, mas, na certa foram emocionalmente negligenciadas e muito criticadas.
Sim, mentirosos patológicos muitas vezes acreditam em suas próprias mentiras, de acordo com especialistas. Pode-se sugerir que a crença não existe a um nível delirante, mas potencialmente devido à repetição e frequência das mentiras. Pode parecer real para o mentiroso porque é uma história que eles contaram a si mesmos e aos outros inúmeras vezes.
Pode ser confuso, frustrante e traumático ser constantemente enganado, mas existem maneiras de lidar com isso.
-Tente ficar ancorado em seu senso de realidade
Quando alguém mente com frequência e acredita no que diz, pode parecer sinceramente honesto. Você pode ser tentado a questionar o que acredita ser verdade, dando à outra pessoa o benefício da dúvida. Em vez disso, mantenha-se firme no que você sabe ser verdade e permita que a outra pessoa discorde.
-Tente ajustar suas expectativas
Se possível, tente desistir de qualquer expectativa de fazê-los ver a verdade, ou admitir que você está certo e eles estão errados. Você pode ficar muito desapontado, pois eles podem não pensar nos mesmos termos que você. A 'verdade' pode ser um conceito estranho para eles. A única coisa que importa pode ser 'ganhar', como uma discussão, um processo ou um desentendimento. Eles podem viver em um mundo de sua própria realidade ou verdade, que é simplesmente o que eles precisam no momento: um parceiro, uma realização, um acordo.
-Tente estabelecer limites saudáveis
Se você sentir que está sendo enganado, não há problema em limitar as interações. Com compostura e calma, tente explicar como se sente. Deixe-os saber onde você está e estabeleça um limite para o seu próprio respeito. Mas faça isso sem a expectativa de esclarecê-los ou mudá-los e encorajá-los a dizer a verdade.
-Tente estar preparado para um confronto
Se as coisas esquentarem, não tenha medo de se desvencilhar. Mesmo que isso não se aplique a todos. Se você tentar confrontá-los com evidências e provas dos fatos, eles podem ficar indignados, insultados e atacá-lo verbalmente. Eles podem até falar mal de você para os outros e evitá-lo.
-Tente incentivá-los a procurar apoio
Mesmo que admitam mentir, podem não perceber com que frequência mentem ou ver isso como indicativo de um problema maior. Você pode ajudar a encorajar mentirosos patológicos a trabalhar com um terapeuta, embora não queira sugerir isso como punição por mentir. Em vez disso, sugira a terapia como um meio para eles entenderem melhor quem são e como perpetuaram esse comportamento.
-Tente aprender sobre linguagem corporal
Você pode achar útil assistir a vídeos sobre detecção de mentiras do mentalista e hipnoterapeuta Bedros “Spidey” Akkelian no canal do YouTube “The Behavioral Arts” (o conteúdo está em inglês, sem legendas).
Uma psicóloga conta que uma vez namorou uma pessoa que mentia várias vezes ao dia, desde pequenos detalhes até sagas traumáticas que nunca aconteceram. E que isso foi devastador. Pela experiência, ela faz algumas recomendações:
-anote conversas importantes;
-questione firmemente detalhes que não se somam;
-não leve para o lado pessoal (isso não é sobre você);
-limite as interações quando você sentir que está sendo enganado;
-trabalhe com um terapeuta familiarizado com transtornos de personalidade.
Qualquer um pode mudar de comportamento, dizem os psicólogos, desde que estejam cientes de seus padrões, tenham motivação suficiente para mudar e praticar um novo conjunto de comportamentos. O problema de mudar um mentiroso patológico é que, muitas vezes, falta um, dois ou três desses componentes necessários. Muitas vezes eles não estão motivados a mudar, não reconhecem a existência do problema e não buscam nem praticam um novo comportamento.
Fonte: Psych Central
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