A utilização em massa de agrotóxicos na agricultura teve início na década de 1950, nos Estados Unidos, com a intenção de modernizar a agricultura e aumentar sua produtividade; no Brasil, esse movimento chegou na década de 1960. Os agrotóxicos são compostos de substâncias químicas destinadas ao controle, destruição ou prevenção, direta ou indiretamente, de agentes patogênicos para plantas e animais úteis e às pessoas.
Nos dias atuais, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e essas substâncias, criadas para reduzir a quantidade de pragas e facilitar a vida do agricultor, podem também ser responsáveis por consequências indesejáveis para a saúde do produtor, do consumidor e do meio ambiente.
O impacto dos agrotóxicos no meio ambiente ocorre pela interferência no equilíbrio do ecossistema e, consequentemente, na vida animal e humana. Os impactos ocorrem desde a alteração da composição do solo, passando pela contaminação da água e do ar, podendo interferir nos organismos vivos terrestres e aquáticos, alterando sua morfologia e função dentro do ecossistema. A alteração do ecossistema e da morfologia de muitos animais e vegetais usados na alimentação também pode interferir negativamente na saúde humana.
Além dos impactos ambientais, diversos casos de intoxicações e outras consequências à saúde humana foram demonstrados em estudos científicos. Os trabalhadores do cultivo, expostos aos agrotóxicos, podem apresentar danos nos mecanismos de defesa celular e alterações nas atividades de telômeros (as pontas protetoras dos cromossomos), causando transtornos mentais, distúrbios gastrointestinais, doenças respiratórias e neoplásicas [câncer].
Mesmo diante de tamanho perigo à exposição e das doenças relacionadas aos agrotóxicos, estudos revelam que muitos agricultores não possuem a percepção deste risco e que ainda existe uma escassez de práticas chamadas de segurança e saúde no trabalho. Frequentemente, os trabalhadores rurais armazenam tais venenos em casa, reutilizam, queimam ou enterram embalagens de agrotóxicos vazias, apesar das informações sobre as consequências de tais práticas.
Os impactos deletérios do uso de agrotóxicos sobre o ambiente e a saúde humana são ainda mais graves em virtude do precário monitoramento da exposição aos agrotóxicos, pois há uma importante lacuna no que diz respeito à clareza de informações sobre os processos particulares e estruturais na determinação da saúde e de doenças ligadas ao uso dos agrotóxicos.
Os danos diretos e indiretos dos agrotóxicos na saúde, imediatos, de médio ou a longo prazo, são grandes preocupações da comunidade científica e da sociedade em geral, há décadas. A toxicidade é uma característica intrínseca dos agrotóxicos e seus efeitos são condicionados pelo contexto e modo de produção, pelas relações de trabalho e consumo, caracterizados pela precariedade dos mecanismos de vigilância em saúde.
A população consumidora, exposta cronicamente a quantidades excessivas de defensivos agrícolas, pode apresentar danos no tecido hematopoiético [que dá origem às células sanguíneas] e no fígado, além de alterações hormonais e nos sistemas reprodutores masculinos e femininos.
Os agrotóxicos podem estar relacionados a inúmeras consequências indesejáveis na saúde humana que incluem alergias, alterações nos sistemas hematopoiético, imunológico, nervoso, gastrintestinal, respiratório, circulatório, endócrino, reprodutivo, de pele e do tecido subcutâneo, podendo causar diretamente um conjunto de doenças, como neoplasias, ou favorecer a manifestação de outras enfermidades, sofrimento físico e mental, mortes acidentais e suicídios. Muitas das doenças referidas em estudos e documentos representam efeitos crônicos, ou seja, quando há exposição ao princípio ativo em doses baixas por longos períodos.
Além disso, há muitos impactos agudos pela intoxicação exógena por agrotóxicos e ainda uma série de impactos ambientais graves, como perda da biodiversidade, desequilíbrio ecológico, contaminação de fontes hídricas, queda da população de abelhas, perda da fertilidade do solo e outros danos, que também acabam por refletir direta ou indiretamente na saúde humana.
Mais informações a todos os envolvidos, desde a fabricação até o consumo desses produtos, e mais pesquisas acerca da ingestão de alimentos contaminados e sua exposição em longo prazo são necessários para garantir uma proteção adequada aos agravos potencialmente advindos da exposição a tais venenos. Pois, entre os principais problemas relativos ao tema, está a falta de informações sobre o consumo de agrotóxicos e a insuficiência dos dados sobre intoxicações.
*Marcella Garcez é médica nutróloga, mestre em ciências da saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e docente do Curso Nacional de Nutrologia da Abran. A médica é membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e pesquisadora no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez
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Marcella Garcez*
Médica Nutróloga, mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da associação. A médica também é membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez
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