Estudo brasileiro demonstrou impacto positivo do alimento em mulheres com excesso de peso
Tatiana Pronin Publicado em 01/10/2024, às 09h00
Um estudo explorou o impacto positivo do consumo diário de castanha-do-pará sobre a inflamação e a saúde intestinal, com foco em mulheres com sobrepeso ou obesidade.
As castanhas-do-pará são uma das fontes mais ricas de selênio, um mineral essencial que age como antioxidante, melhora a função imunológica e o metabolismo dos hormônios da tireoide.
Níveis baixos de selênio no sangue estão associados a várias condições inflamatórias, incluindo problemas de saúde intestinal. Além disso, estudos anteriores destacam as conexões entre obesidade, inflamação e problemas intestinais, como o aumento da permeabilidade intestinal, uma condição que pode levar ao afrouxamento nas junções das células que revestem os intestinos.
A permeabilidade intestinal permite que mais antígenos, toxinas e bactérias entrem na corrente sanguínea, desencadeando mais inflamação e criando um ciclo em que a obesidade e a permeabilidade intestinal pioram mutuamente.
As descobertas do atual estudo, publicadas no The Journal of Nutrition, sugerem que consumir 8 gramas de castanha-do-pará por dia pode melhorar esses marcadores de saúde, provavelmente devido ao seu alto teor de selênio.
O trabalho envolveu 56 mulheres adultas, com idades entre 20 e 55 anos. As participantes tinham sobrepeso e fatores de risco cardiometabólico específicos (17,4%) ou obesidade (82,6%), independentemente dos fatores de risco.
As participantes consumiram castanhas-do-pará orgânicas provenientes do Amazonas e doadas pela empresa Econut ao longo de oito semanas.
Os pesquisadores, do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa (MG), excluíram pessoas grávidas, lactantes, em menopausa, atletas, veganas, com certas condições médicas, que estavam usando medicamentos específicos, que experimentaram mudanças significativas de peso, que consumiam castanhas regularmente ou que tinham outras interferências potenciais no estudo.
Eles dividiram as participantes em um grupo que consumia castanha-do-pará e outro de controle, que não consumia. Ambos receberam opções de menu personalizadas com cerca de 500 calorias a menos que suas necessidades diárias estimadas.
A distribuição de macronutrientes foi de 50% carboidratos, 30% gorduras e 20% proteínas, seguindo as diretrizes estabelecidas para o manejo da obesidade. O objetivo era que as participantes perdessem pelo menos 4 quilos em 8 semanas.
Os pesquisadores analisaram marcadores inflamatórios no sangue e níveis de selênio, além de testar a permeabilidade intestinal usando o chamado teste de lactulose/mannitol.
Das 56 mulheres recrutadas, 46 (82,1%) foram incluídas na amostra final. No início, o grupo de controle tinha uma ingestão maior de gorduras poli-insaturadas em comparação ao grupo de castanha-do-pará. Durante a intervenção, o grupo de controle reduziu a ingestão de gorduras saturadas, enquanto o grupo de castanha-do-pará aumentou o consumo de gorduras poli-insaturadas e fibras alimentares. Ambos os grupos conseguiram restrições calóricas semelhantes, perda de peso (cerca de 3 quilos) e pequenas reduções na circunferência da cintura.
Os pesquisadores notaram que o grupo que consumiu castanha-do-pará mostrou um aumento significativo nos níveis de selênio em comparação ao grupo de controle, demonstrando adesão ao consumo de castanha-do-pará. Em comparação ao grupo de controle, o grupo de castanha-do-pará também exibiu valores mais baixos de marcadores inflamatórios, incluindo proteína C-reativa, fator de necrose tumoral e interleucinas IL-1β e IL-8, indicando uma melhora na inflamação sistêmica.
No grupo de castanha-do-pará, os níveis de proteína C-reativa diminuíram de 7,1 mg/L para 5,6 mg/L ao final de 8 semanas. Em contraste, o grupo de controle viu um aumento de 8,0 para 9,4 mg/L. O mecanismo por trás dessas mudanças nos níveis de proteína C-reativa ainda não está claro, mas pode estar relacionado à permeabilidade intestinal e à inflamação do intestino. Além disso, as mulheres no grupo de castanha-do-pará que perderam mais peso apresentaram reduções mais significativas nos níveis de proteína C-reativa.
O grupo de castanha-do-pará também mostrou uma leve melhora nos marcadores de permeabilidade intestinal em comparação ao grupo de controle. No entanto, as mudanças foram estatisticamente semelhantes em ambos os grupos.
Em análises adicionais, os pesquisadores descobriram que níveis mais altos de selênio no sangue estavam ligados a menores marcadores de inflamação, particularmente IL-1β e IL-8 (sendo o IL-8 também relacionado às mudanças na permeabilidade intestinal).
Esses resultados sugerem que os níveis de selênio podem prever alterações nos marcadores de inflamação sistêmica e permeabilidade intestinal.
Este estudo teve um tamanho de amostra pequeno e uma curta duração. Foi limitado a mulheres jovens e de meia-idade recrutadas no Brasil, portanto, os achados podem não ser generalizáveis para outras populações.
De qualquer forma, especialistas sugerem que comer uma ou duas castanhas-do-pará ao dia pode ser uma forma saudável de garantir níveis adequados de selênio. Vale lembrar que exagerar não é bom: mais do que quatro ou cinco castanhas podem resultar em excesso do mineral, algo que não faz bem à saúde.
Comer nozes e castanhas todo dia reduz risco de ter depressão
Confira quais alimentos anti-inflamatórios vale a pena consumir
Dieta mediterrânea é eleita a melhor do ano; veja as vantagens
Síndrome do intestino irritável: medidas caseiras aliviam sintomas