O isolamento social durante a idade adulta está relacionado a uma idade cerebral mais avançada. É o que mostra uma pesquisa publicada na revista Psychological Medicine. O estudo destaca a importância de se cultivar conexões sociais para manter a saúde cerebral.
Cada vez mais estudos, inclusive aqueles realizados durante a pandemia de Covid, comprovam que o isolamento social aumenta o risco de doenças cardiovasculares, depressão, inflamação e até mesmo morte prematura.
Pesquisadores da Universidade de Auckland decidiram investigar mais a fundo os efeitos potenciais do isolamento social no cérebro. Para isso, utilizaram dados do Estudo de Saúde e Desenvolvimento Multidisciplinar de Dunedin, uma investigação longitudinal em andamento de uma coorte completa de nascimentos em Dunedin, na Nova Zelândia, entre 1972 e 1973.
O estudo incluiu avaliações em várias idades, desde a infância (de 5 a 11 anos) até a idade adulta (entre 26 a 38 anos). O trabalho também acompanhou o status de isolamento social dos participantes e mediu a saúde cerebral deles aos 45 anos.
Os pesquisadores classificaram os participantes do estudo em quatro grupos diferentes com base nos padrões de isolamento social da infância à idade adulta:
A idade cerebral foi estimada usando um algoritmo que combinava várias medidas da estrutura cerebral obtidas por meio de exames de ressonância magnética quando os participantes tinham 45 anos. Esse algoritmo quantificava a diferença entre a idade cerebral estimada e a idade cronológica dos participantes, uma espécie de lacuna na idade cerebral.
Quando se tem uma idade cerebral estimada maior do que a idade cronológica, isso sugere que as características estruturais do cérebro da pessoa são mais semelhantes às de um indivíduo mais velho. Por outro lado, se a idade cerebral estimada for menor do que a idade cronológica, as características estruturais do cérebro se assemelham às de um indivíduo mais jovem.
A equipe ajustou suas análises para diversos fatores que poderiam gerar confusão, como fatores sociodemográficos, como sexo e status socioeconômico, bem como fatores familiares (mãe adolescente, pais separados, mudança de residência, maus-tratos) e fatores comportamentais (autocontrole, preocupação/medo).
Após controlar tudo isso, os pesquisadores descobriram que os indivíduos do grupo isolado apenas na idade adulta tinham uma idade cerebral estimada média que era, em média, 1,73 anos mais avançada do que aqueles que nunca experimentaram isolamento.
Para os autores, a mensagem principal do estudo é que é fundamental manter relacionamentos sociais ao longo da vida. Isso proporcionará uma melhor saúde cerebral e função cognitiva (o que significa melhor raciocínio, memória e aprendizado) a longo prazo.
O grupo de isolamento persistente da infância à idade adulta também apresentou uma idade cerebral significativamente mais alta em comparação com o grupo que nunca foi isolado. No entanto, essa relação deixou de ser significativa após o ajuste para fatores de confusão.
De maneira interessante, os pesquisadores constataram que experienciar isolamento social apenas durante a infância (isolamento apenas na infância) não estava associado a uma idade cerebral mais avançada na meia-idade.
Esse resultado foi contrário à hipótese inicial, que presumia que a exposição precoce ao isolamento social teria um impacto mais significativo na saúde cerebral mais tarde na vida. Para os pesquisadores, isso sugere que nunca é tarde demais para melhorar as relações sociais de uma pessoa.
Embora os pesquisadores tenham encontrado uma associação entre o isolamento social na idade adulta e o envelhecimento cerebral, o desenho do estudo não fornece evidências conclusivas para estabelecer uma relação causal. É possível que uma idade cerebral mais avançada possa levar ao isolamento social, em vez do contrário.
Em outras palavras, indivíduos com uma idade cerebral mais avançada podem experimentar mudanças cognitivas que afetam suas interações sociais, levando a um aumento do isolamento. Para explorar essa possibilidade ainda mais, os pesquisadores sugeriram que estudos futuros poderiam envolver medidas repetidas tanto do isolamento social quanto da idade cerebral ao longo do tempo.
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Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin