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Dia do Chocolate: comemore a data com suas versões mais saudáveis

Estudos apontam que a ingestão de chocolate está ligada ao aumento na síntese cerebral de serotonina - iStock
Estudos apontam que a ingestão de chocolate está ligada ao aumento na síntese cerebral de serotonina - iStock

Redação Publicado em 07/07/2021, às 09h00 - Atualizado às 12h00

Hoje, 7 de julho, comemoramos o Dia Mundial do Chocolate. Uma das iguarias mais amadas por todos e que até ganhou a alcunha de "alimento dos deuses". Ele pode tanto fazer bem quanto mal, dependendo da quantidade e do tipo que for consumido. Isso porque uma barra pode ter vários componentes, como cacau, açúcar, gorduras e até oleaginosas, e a concentração de cada um desses ingredientes é que vai determinar o benefício ou malefício para o consumo.

A versão ao leite, por exemplo, possui pouco cacau e, mesmo sendo o mais saboroso para nosso paladar, não traz benefícios à saúde. Além disso, trata-se de um alimento de alto índice glicêmico, o que pode provocar o surgimento ou piorar casos de acne vulgar em pacientes predispostos. Isso porque favorece o aumento da secreção sebácea. Estudos já mostraram que pessoas que comeram mais chocolate ao leite tiveram aumento de acne e inflamação da pele, o que vale também para o chocolate branco.

A versão branca, aliás, é fabricada a partir da manteiga de cacau, sendo composta basicamente de gordura, açúcar, leite e aromatizantes. Ele é mais calórico e rico em gorduras, não possui funcionalidades e, em excesso, pode trazer danos à saúde. E como dizem os especialistas, por não ser feito com a massa de cacau, mas, sim, com a gordura da fruta, o branco não deveria sequer ser considerado um chocolate, mas, na verdade, um doce. Por ser pró-inflamatório, também pode retardar a circulação e colaborar para o aparecimento de doenças circulatórias. Portanto, o melhor é sempre optar pelo chocolate amargo, e quanto maior a porcentagem de cacau, melhor.

Saudável

O cacau é rico em polifenóis, substâncias que, se consumidas com frequência, trazem uma série de benefícios à saúde, incluindo poderosa ação antioxidante e preventiva da formação de radicais e efeito protetor contra os danos ao DNA das células. Além disso, o ingrediente possui propriedades analgésicas, antimicrobianas e anti-inflamatórias. Por conta dos flavonoides, também traz benefícios comprovados para a circulação, conferindo ação vasodilatadora, prevenindo a formação de placa de gordura dentro das artérias e controlando os níveis de colesterol no sangue.

Outro benefício do consumo da versão amarga é a melhora da microbiota intestinal (bactérias que habitam o intestino e têm efeito positivo para a saúde). Em um estudo de intervenção humana, projetado para investigar a influência da alta ingestão de flavonoides de cacau no crescimento da microbiota fecal, os autores avaliaram que a ingestão de 494 mg de flavonoides de cacau/dia por quatro semanas teve um efeito significativo no crescimento de bactérias "do bem". 

Já outros estudos apontam que a ingestão de chocolate está ligada ao aumento na síntese cerebral de serotonina, o famoso hormônio da felicidade, que produz uma sensação de energia e prazer. Mas é necessário ter cautela no consumo de chocolates com teor maior de açúcar, uma vez que os carboidratos também estão envolvidos nesse processo em um primeiro momento, mas seu excesso também pode causar distúrbios metabólicos e elevar a sensação de culpa.

Até mesmo a sexualidade é afetada pelo chocolate. É que ele contém substâncias que, em conjunto com outros componentes também presentes do chocolate (como cafeína e teobromina), produzem uma sensação transitória de bem-estar. O principal componente da excitação sexual é a vasocongestão periférica dos tecidos genitais; assim, a serotonina, com produção aumentada após o consumo de cacau, pode estar envolvida no processo de estimulação sexual.

Crianças: apurando o paladar

Mesmo que sejam resistentes às versões mais amargas, esta é a melhor opção para as crianças, que devem ser educadas desde pequenas a evitarem o excesso de açúcar na alimentação. Para elas começarem, o chocolate meio amargo, com concentração de cacau de 40% a 50%, pode ser uma opção interessante e mais saborosa, pois, apesar de trazer mais açúcar que a versão amarga, também possui benefícios antioxidantes. Importante lembrar que, antes de oferecer chocolate para crianças, o cacau é contraindicado para crianças menores de 12 meses de idade e o Ministério da Saúde não recomenda o consumo de açúcar para crianças menores de dois anos.

Se você não gostar do chocolate amargo, uma opção mais saudável que as versões ao leite e branco é o rosa. De uns tempos para cá, ele tem feito sucesso e caído nas graças do público. Feito da semente do cacau rubi, que possui uma coloração rosada natural, sem corantes na composição, o chocolate rosa é mais cremoso, frutado e adocicado, com um leve toque cítrico. Possui uma quantidade maior de polifenóis que a versão convencional, isto porque os flavonóis presentes no ingrediente são mantidos até o final. O único problema é que ele é mais caro que os demais.

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O chocolate rosa é mais cremoso, frutado e adocicado -iStock

Outra opção para quem torce o nariz para o chocolate amargo é optar pelas versões que trazem oleaginosas, como avelã, nozes e amendoim. São mais calóricas, mas possuem ômega-3, que ajuda no controle do colesterol, além de ter propriedades anti-inflamatórias, melhorar a circulação e até o desemprenho cognitivo. Atenção: quem tem a pele oleosa, deve evitar esta versão, pois oleaginosas podem estimular a produção de oleosidade pelas glândulas sebáceas, o que favorece o surgimento de cravos e espinhas.

Apesar de saudável, o consumo em excesso do chocolate amargo também pode fazer mal, pois, independentemente da concentração de cacau, ele ainda tem açúcar e gorduras saturadas. O ideal é consumir de 25g a 50g por dia, assim, uma barra de 200 gramas deve ser consumida em uma semana, em média.

Compulsão

E aqueles que têm verdadeira paixão e vontade de comer a guloseima todos os dias? Eles podem ter compulsão por chocolate? Em primeiro lugar é preciso classificar o distúrbio. O transtorno de compulsão alimentar, de acordo com o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), consiste na ingestão excessiva de alimentos em um espaço curto de tempo com uma sensação de perda de controle. Por exemplo, abrir uma caixa de bombons e não parar até consumir o último, e sem demora.

Portanto, sim, existe compulsão por chocolate, e ela pode ter consequências indesejáveis e trazer malefícios à saúde. Como todo transtorno alimentar, deve idealmente ter tratamento e acompanhamento médico psiquiátrico e nutrológico, muitas vezes acompanhado por equipe multidisciplinar, que inclui psicólogo, nutricionista e educador físico, entre outros.

O primeiro passo a ser dado é a pessoa observar:
-Se come compulsivamente só chocolates, ou se tem compulsão por outros doces, ou ainda se tem compulsão por outros alimentos;
-Se isso ocorre em determinado período do dia, do mês, ou o tempo todo;
-Se está ligado a alguma alteração emocional;
-Se tem impactos negativos à saúde;
-Se está fora de controle.

Para todas essas situações, um acompanhamento médico é o mais indicado. Porém, inicialmente, a pessoa que se observa tendo episódios de compulsão por chocolate, deve:
- Limitar o consumo diário a quantidades que variam entre 25g a 50g;
- Escolher os chocolates que têm maior concentração de cacau (todos os produtos que trazem o cacau como primeiro item na lista de ingredientes, que fica na parte posterior da embalagem);
- Procurar não consumir outros doces;
- Reduzir o consumo de açúcar;
- Praticar uma atividade física moderada e frequente;
- Procurar incluir na rotina momentos de relaxamento.

Fontes:
Aline Lamaita - cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia
Marcella Garcez - médica nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da Abran.
Paola Pomerantzeff - dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD)