Estudo revela ainda que o uso de substâncias não sofreu alterações com o isolamento social
Redação Publicado em 03/05/2021, às 19h10
O uso de tabaco, cannabis e álcool entre adolescentes não aumentou em decorrência do isolamento social para combater a Covid-19. Entretanto, houve uma queda expressiva na prática de atividades físicas entre os jovens. Esses são os dados de um estudo norte-americano publicado nesta segunda-feira (3) na Jama Pediatrics.
Para realizar a pesquisa, os autores contaram com dois grupos de estudantes de primeiro e segundo anos do ensino médio de oito escolas públicas do norte da Califórnia. Em um total de 1.006 participantes, 521 foram ouvidos na primavera norte-americana de 2019, outros 485, no outono do mesmo ano, e todos foram acompanhados ao longo de seis meses.
Segundo os pesquisadores, visto que comportamentos que são estabelecidos na adolescência podem, muitas vezes, se estender até a vida adulta, é importante analisar de maneira profunda a associação entre as condutas adotadas pelos jovens durante a pandemia e os seus respectivos impactos para a era pós-Covid-19.
Um dos intuitos da pesquisa era explorar se o isolamento social tinha provocado alguma mudança no consumo de substâncias como o cigarro eletrônico, cannabis, tabaco e álcool.
De acordo com os dados, os participantes mostraram que, nos 30 dias anteriores à abordagem, a maioria dos estudantes não havia consumido cigarros eletrônicos (62,4% nunca e 18,7% nos últimos 30 dias); outras formas de tabaco (94,8%), cannabis (5% nunca e 16,3% nos últimos 30 dias) e o álcool (86,2%).
Além disso, o estudo apontou que o consumo dessas substâncias por seis ou mais dias no mês anterior havia variado entre 5,2% (não usuários de tabaco e cigarro eletrônico) e 8% (usuários de tabaco e cigarro eletrônico). Os valores foram comparados entre ambos os grupos e o álcool só apareceu com uso alternado no período.
Vale destacar que o estudo não investigou as mudanças nos comportamentos individuais ou os níveis de consumo dos participantes.
De acordo com os autores, essas descobertas alertam para a necessidade de pais e escolas continuarem com os esforços de prevenção do uso de substâncias. Até porque é surpreendente o fato de esses jovens terem mantido o uso de cigarros eletrônicos, tabaco, álcool ou cannabis em um momento em que as interações sociais e o contato físico estavam restritos, e os adolescentes estavam mais em casa.
A equipe ressalta, ainda, que os resultados levantam questões sobre o contexto social (ou a falta dele) em que os adolescentes usavam substâncias, assim como e onde eles tiveram acesso a elas mesmo durante o período de isolamento social.
Mesmo com os dados mostrando que o isolamento social não parece afetar o consumo de nenhuma substância, o uso de cigarros eletrônicos diminuiu ao longo do tempo, passando de 17,3% para 11,3% no grupo da primavera, e apresentou uma queda de 19,9% para 10,5% entre os adolescentes do outono.
Para os pesquisadores, essa mudança pode estar relacionada à grande repercussão recente na mídia norte-americana sobre os cigarros eletrônicos e as lesões pulmonares associadas a esse hábito. Os dados correspondem a outros já revelados pela Pesquisa Nacional de Tabaco Juvenil dos Estados Unidos, que mostrou um declínio no uso mensal dessa substância de 27,5% para 19,6%.
Em relação à atividade física, a mudança na frequência está fortemente relacionada ao isolamento social. No caso do estudo, fazer exercícios físicos foi definido como realizar um esforço suficiente para suar ou respirar forte por, pelo menos, 20 minutos. Além disso, os alunos considerados fisicamente ativos foram aqueles que se mantinham em movimento por, no mínimo, cinco dias na semana.
O grupo do outono apresentou uma redução de 51% na probabilidade de realizar atividade física ao longo dos seis meses de acompanhamento do estudo em comparação aos estudantes pertencentes ao grupo avaliado na primavera, que tiveram uma mudança estatisticamente insignificante, passando de 53,7% para 52,9%. No caso dos adolescentes fisicamente ativos, o grupo do outono sofreu uma redução de 54% para 38,1%.
Segundo os pesquisadores, os números são reflexo das mudanças no estilo de vida provocadas pela pandemia, como o cancelamento das atividades extracurriculares, locais de exercícios restritos – como academias e parques – e a falta da necessidade de deslocamento de um lugar ao outro.
Iniciativas para manter-se em movimento através de aplicativos ou aulas de exercícios virtuais são, geralmente, voltadas para os adultos. Entretanto, os pesquisadores acreditam que os jovens também podem se beneficiar dessas ferramentas. Além da influência dos pais, a facilidade de acesso a novas atividades e a vinculação dos exercícios à realização de metas também podem aumentar a motivação dos adolescentes a serem mais ativos.
Ainda segundo os autores, essas intervenções são necessárias para garantir que os níveis de exercício voltem aos registrados antes da pandemia, para evitar que essa geração de adolescentes experimente um declínio prematuro da atividade física e, consequentemente, chegue a idade adulta com riscos maiores de desenvolver doenças crônicas.
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