Estudo italiano revela que cerca de 30% dos pacientes apresentam sintomas do transtorno
Redação Publicado em 22/02/2021, às 16h00
Um pequeno estudo italiano mostrou que cerca de 30% dos pacientes recuperados da Covid-19 desenvolveram transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
O transtorno, classificado como um dos distúrbios de ansiedade ocorre após alguma experiência traumática que provoque sentimento de desamparo, medo ou horror. Por causa da experiência, essas pessoas podem ter sintomas como:
– flashbacks constantes, como se a situação vivida voltasse à mente com frequência, de maneira incontrolável, com todas as sensações envolvidas;
– comportamento evitativo (a pessoa pode evitar sair de casa e realizar atividades que antes rotineiras, por ex.);
– depressão (a pessoa deixa de ter prazer naquilo antes gostava de fazer, sente falta de esperanças e pode pensar mais na morte);
– ataques de pânico (de repente sente o coração acelerado, a boca seca, medo de morrer, falta de ar etc);
– insônia e pesadelos;
– estado de alerta constante (hipervigilância).
De acordo com os pesquisadores, entre os 381 pacientes acompanhados ao longo da pesquisa, aqueles que desenvolveram TEPT tinham maior probabilidade de ser mulheres (55,7%), ter histórico de transtorno psiquiátrico (34,8%) e ter sofrido delirium e agitação durante a doença (16,5%).
Os dados, relatados em artigo do periódico Jama Psychiatry, também mostraram que 17,3% dos participantes tinham episódios depressivos e 7% manifestaram transtorno de ansiedade generalizada.
Entre os eventos que costumam desencadear a condição com maior frequência estão a violência sexual, desastres naturais ou provocados pelo homem e situações de combate, como guerras.
Essas situações podem ter sido vivenciadas pela própria pessoa ou até de maneira indireta, como presenciar a morte de outras pessoas ou ouvir episódios traumáticos vividos por algum familiar ou amigo próximo.
De acordo com estatísticas globais, o TEPT afeta, aproximadamente, 9% das pessoas em algum momento da vida, inclusive durante a infância. Além disso, 4% dos adultos sofrem com o transtorno anualmente.
A equipe de pesquisadores analisou pacientes que se apresentaram ao pronto-socorro com Covid-19 e fizeram exames após se recuperar da doença, entre abril e outubro de 2020. Os participantes receberam avaliações médicas e psiquiátricas.
A média de idade da amostra foi de 55 anos, sendo que todos os pacientes eram brancos e a maioria havia sido internada durante a doença (81,1%), com uma média de 18 dias de permanência hospitalar.
Além dos fatores de risco já mencionados, tiveram impacto significativo no transtorno o tempo de internação hospitalar, a permanência na UTI, o uso de oxigênio e a necessidade de ventilação não invasiva ou mecânica.
Segundo os estudiosos, a proporção de 30% - equivalente a um terço dos pacientes que desenvolveram TEPT - é consistente com as taxas observadas para outros coronavírus Sars e Mers. Entretanto, é preciso de mais estudos longitudinais para adaptar às intervenções terapêuticas e elaborar estratégias de prevenção.
Um estudo anterior, publicado na Lancet Respiratory Medicine, revelou que mais de 50% dos pacientes com Covid-19 internados em uma UTI experimentaram delirium - um fenômeno considerado comum para pacientes em terapia intensiva.
De acordo com especialistas, o delírio na UTI pode surgir devido a um sentimento de falta de controle do corpo e desorientação pelo ambiente, intensificado quando os pacientes recebem vários medicamentos e só têm contato com funcionários do hospital totalmente revestidos de equipamentos de proteção individual (EPIs). Inclusive, muitos pacientes acabam tendo alucinações e acreditam que os médicos estão tentando prejudicá-los.
Além disso, pessoas que enfrentaram problemas respiratórios extremos, como acontece em muitos casos de Covid-19 podem ter sensações de falta de ar mesmo depois que os pulmões estejam totalmente recuperados. Esse quadro pode ser um gatilho para sintomas de TEPT.
O grande problema dos casos de TEPT pós-Covid está na falta de conhecimento dos sobreviventes, ou seja, muitos não sabem que têm o transtorno. Isso pode acontecer, em parte, porque a condição é mais associada a casos de violência ou agressão sexual.
Apesar do tratamento disponível para TEPT ser eficaz e contar, cada vez mais, com ajuda de diferentes formas de terapia cientificamente comprovadas, o maior desafio é conectar o crescente número de pacientes recuperados a profissionais de saúde mental capacitados para tratar o transtorno. Afinal, se um terço dos sobreviventes de Covid-19 desenvolve TEPT, essa é uma demanda muito maior que a oferta.
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