Todo fim de ano é aquela loucura, com festas de confraternização, dinheiro gasto com presentes e “caixinhas”, provas na escola, tempo perdido no trânsito e trabalho extra para compensar o que vai deixar de ser feito nas Festas. Para muita gente, a sobrecarga pode ser tão grande que coloca em risco a saúde e o bem-estar.
Além de toda a pressão para cumprir todas as tarefas, existe ainda a preocupação em evitar o estresse. Então antes que você perca a paciência com mais essa exigência, saiba logo que isso é impossível. O estresse é um mecanismo de defesa excelente, que coloca nosso corpo em um modo capaz de nos salvar numa situação de perigo.
A cirurgiã Safia Debar, especialista em manejo do estresse na Mayo Clinic Healthcare, em Londres, conta em detalhes o que acontece quando percebemos uma ameaça:
Tudo bem que todas essas reações parecem mais adequadas para lidar com predadores de outras espécies, como era comum nos tempos das cavernas, do que com boletos. Mas a médica deixa claro que a visão de que é preciso “controlar sua mente e evitar o estresse” não é a abordagem ideal:
“É um mecanismo de defesa, se formos contra isso, vamos apenas criar mais inflamação”, declara.
“O que precisamos é mudar nosso relacionamento com o estresse”, ensina. E como fazer isso? Prestando mais atenção ao que acontece depois dessas reações iniciais de “luta, fuga ou congelamento”. Depois que a ameaça vai embora, o natural é que o corpo entre num estado de relaxamento, e os batimentos cardíacos, a pressão, a respiração e os níveis de insulina voltam todos ao normal.
Em outras palavras, é preciso trabalhar melhor os períodos de recuperação após os períodos de tensão. “Se você se estressa e, depois, se acalma, significa que você completou o ciclo”, explica a especialista. Nesse caso, você não terá nenhum dano, e sua resiliência tende a aumentar. Da próxima vez que tiver uma experiência ameaçadora, você vai se lembrar que, depois de um tempo, a tensão cede.
O problema é que muita gente se estressa demais, repetidamente, e perde a capacidade de vivenciar esse período de recuperação. É o chamado estresse crônico, que aumenta o risco de diversas doenças, além de fazer as pessoas se envolverem em comportamentos pouco saudáveis, como abusar de certas substâncias e alimentos calóricos, ruminar pensamentos negativos etc.
Safia recomenda que, em primeiro lugar, as pessoas se conscientizem sobre o que estão sentindo. Entrem em contato, mesmo, com todas essas emoções e o que as deflagra. E parem para pensar, também, em como se sentem quando estão relaxadas. Fazer uma lista com tudo isso é uma boa ideia. “Uma vez que você se conscientize, você passa a estar no comando”, diz.
Uma questão importante, segundo ela, é o sono e o descanso. Assim, se você sabe que vai dormir menos por causa das festas de fim de ano, é preciso se programar para também descansar mais, por exemplo. Se conversar com alguém que você ama ou tomar um pouco de sol são atitudes que ajudam a repor sua bateria, é preciso investir mais nesses recursos. “O que mais ajuda é aquilo que você consegue fazer”, ressalta a médica.
Safia explica que seu trabalho com pacientes estressados é holístico, e ela costuma incluir um check-up completo, para olhar hormônios, alimentação, microbioma e outros aspectos da saúde física também. As recomendações para se recuperar melhor dos períodos de tensão, além de dormir melhor, incluem técnicas de respiração e meditação. “Mas quando as pessoas estão em burnout é difícil até começar”, comenta. Em outras palavras, se você perdeu o comando sobre seus níveis de estresse, é importante buscar ajuda profissional.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin