Animais submetidos a estresse e gordura deixam de responder a sinais de saciedade
Tatiana Pronin Publicado em 27/06/2023, às 09h00
Cada pessoa reage de uma ao estresse: enquanto alguns perdem a fome, outros buscam conforto em alimentos ricos em sabor e calorias, o que também não é saudável. Segundo um estudo, a combinação entre entre estresse e alimentação hipercalórica gera mudanças no cérebro que aumentam ainda mais o desejo por comida, em especial por doces e outros alimentos hiperpalatáveis, que favorecem o ganho de peso.
O trabalho, publicado este mês no periódico Neuron, mostra como funciona esse mecanismo. Os pesquisadores, da Universidade de New South Wales, na Autrália, investigaram como diferentes áreas do cérebro de camundongos reagem ao estresse sob várias dietas.
A equipe descobriu que em animais estressados que ingeriam muita gordura, a área cerebral responsável por reduzir a resposta recompensatória do cérebro, chamada de habênula, permanece inativa.
“Com os sinais de recompensa relacionados à alimentação ativos, os camundongos foram encorajados a se alimentar por prazer, sem responder aos sinais de saciedade”, detalha a nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
Os animais também podiam escolher entre água natural ou água adoçada artificialmente. E os pesquisadores observaram que aqueles submetidos ao estresse e a uma dieta gordurosa consumiram três vezes mais adoçante do que aqueles que, apesar da mesma dieta, não estavam sob estresse.
Para a nutróloga, isso sugere que além de ativar o mecanismo de recompensa ao comer, o estresse também impulsiona o desejo por alimentos doces e ricos em sabor. Além disso, os camundongos estressados em uma dieta gordurosa também apresentaram ganho de peso duas vezes maior do que os animais na mesma dieta, mas sem estresse.
O motivo por trás desse mecanismo, segundo os autores, é uma molécula chamada de NPY, um neuropeptídeo abundante no sistema nervoso que está relacionado à ingestão de alimentos e tem seus níveis modulados pelo estresse.
Quando os pesquisadores impediram que o NPY ativasse as células cerebrais da região conhecida como habênula, os camundongos estressados com uma dieta rica em gordura consumiram menos comfort food, resultando em menor ganho de peso.
A obesidade pode não ser a única consequência da ingestão excessiva de alimentos ricos em sabor e calorias durante momentos de estresse. “O consumo excessivo e desequilibrado desses alimentos hiperpalatáveis, geralmente com grandes quantidades de açúcares e gorduras, pode causar desequilíbrios metabólicos e favorecer o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão, por exemplo”, alerta a médica.
Os resultados do estudo mostram como o estresse pode alterar os hábitos alimentares de uma pessoa, anulando a resposta natural do cérebro à saciedade e estimulando o desejo por alimentos calóricos.
“Esse estudo enfatiza o impacto do estresse no metabolismo energético saudável. Além disso, destaca a importância de uma alimentação balanceada durante momentos estressantes”, diz a nutróloga.
Ela recomenda que, em situações desafiantes, as pessoas busquem recursos para administrar melhor o estresse, como atividades físicas de intensidade moderada que gerem prazer, atividades relaxantes, como yoga e meditação, além de sono de qualidade, momentos de lazer e de espiritualidade.
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