Redação Publicado em 14/01/2022, às 10h00
Durante anos, nutricionistas recomendaram trocar manteiga e outras gorduras lácteas por azeite. Agora, nova pesquisa descobriu que as pessoas que consomem quantidades maiores desse alimento básico da dieta mediterrânea têm menores riscos de desenvolver uma série de condições graves de saúde, incluindo doença de Alzheimer, doenças cardiovasculares e câncer.
O estudo, publicado no Journal of the American College of Cardiology (JACC), analisou dados de 60.582 mulheres e 31.801 homens do Nurses' Health Study e do Health Professionals Follow-up Study (ambas pesquisas que rastreiam a saúde dos participantes ao longo dos anos). Os integrantes estavam livres de doenças cardiovasculares e câncer quando o período de rastreamento começou, em 1990, e foram examinadas a cada quatro anos, durante um período de acompanhamento de 28 anos.
Os pesquisadores analisaram especificamente quanto azeite os participantes ingeriram, outros óleos vegetais que eles usavam e quanta margarina e manteiga consumiram. No geral, as pessoas consumiram mais azeite ao longo do tempo, saltando de cerca de 1,6 gramas por dia, em 1990, para cerca de 4 gramas por dia, em 2010. O uso de margarina caiu durante este período, de cerca de 12 gramas por dia, em 1990, para cerca de 4 gramas por dia, em 2010.
Durante o período do estudo, 36.856 pessoas morreram. Os pesquisadores descobriram que aquelas que consumiam as maiores quantidades de azeite por dia (cerca de 9 gramas ou um pouco menos de uma colher de sopa) tinham um risco 19% menor de morrer de doença cardiovascular, um risco 17% menor de morrer de câncer, um risco 29% menor de morrer de uma doença neurodegenerativa, como a doença de Alzheimer, e um risco 18% menor de morrer de uma doença respiratória, em comparação com aqueles que raramente ou nunca consumiram azeite. As pessoas que trocaram 10 gramas por dia de gorduras como margarina, manteiga, maionese e gordura láctea em favor do azeite tiveram um risco até 34% menor de morrer.
É importante ressaltar que os pesquisadores encontraram uma ligação entre pessoas que regularmente consumiam quantidades maiores de azeite por dia e um risco menor de morrer de uma série de doenças, mas não mostraram que consumir quantidades maiores de azeite realmente reduz riscos.
Segundo especialistas, causa e efeito só podem ser avaliados em ensaios controlados randomizados, que são muito, muito difíceis de fazer, são caros e levam muito tempo para serem concluídos. Para eles, "toneladas" de outros fatores podem estar em jogo nos resultados, incluindo comportamento, estilo de vida, como fumar, quanta atividade física os participantes praticavam regularmente, outros hábitos alimentares e genética.
Será que as pessoas no estudo que consumiram mais azeite eram apenas mais saudáveis? Os pesquisadores perceberam que essas pessoas, em geral, eram mais ativas fisicamente, menos propensas a fumar e mais predispostas a comer mais frutas e vegetais em comparação com as que consumiam menos azeite regularmente. Todos esses fatores podem diminuir o risco de doença. Portanto, é difícil ignorar que existem variáveis de confusão.
Ainda assim, segundo os pesquisadores, “definitivamente há algo com o tipo de gorduras ou óleos que as pessoas consomem”. O azeite é rico em gorduras monoinsaturadas, o que pode diminuir a quantidade de colesterol LDL (ou ruim) no corpo enquanto aumenta o colesterol HDL (ou bom). “Certamente, ter gorduras monoinsaturadas como parte da dieta pode ser útil do ponto de vista da saúde”, admitem.
Quando as pessoas aumentam a quantidade de gorduras monoinsaturadas na dieta, também costumam diminuir a quantidade de gorduras poli-insaturadas, saturadas e até mesmo trans que ingerem, todas consumidas em excesso em países como Estados Unidos e Brasil, e associadas a efeitos adversos à saúde.
Em um editorial de acompanhamento no JACC, a epidemiologista Susanna Larsson, do Karolinska Institutet na Suécia, disse que a "nova descoberta", à qual a maior ingestão de azeite está associada, mostra um risco menor de morte devido à doença neurodegenerativa, condição que afeta funções corporais como equilíbrio, movimento, fala e respiração, de acordo com a Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA .
"Alzheimer é a principal doença neurodegenerativa e a causa mais comum de demência", escreveu Susanna. "Considerando a falta de estratégias preventivas para este mal e a alta morbimortalidade relacionada a esta doença, este achado, se confirmado, é de grande importância para a saúde pública."
Mesmo que a oliva seja de alguma forma benéfica para reduzir certos riscos à saúde, muitas perguntas permanecem. Não está claro, por exemplo, quanto as pessoas devem consumir para um efeito protetor. E por que exatamente o azeite de oliva oferece esse benefício? Como observou a epidemiologista, são necessárias mais pesquisas para definir melhor a ligação.
Ainda assim, as descobertas apoiam as recomendações dietéticas atuais para aumentar a ingestão de azeite e outros óleos vegetais insaturados, disse a autora do estudo, Marta Guasch-Ferré, da Harvard TH Chan School of Public Health, em Boston. Para ela, os médicos devem aconselhar os pacientes a substituirem certas gorduras, como margarina e manteiga, por azeite para melhorar a saúde.
Na opinião dos pesquisadores, a principal conclusão do estudo é que é uma boa ideia reduzir a quantidade de gorduras poli-insaturadas, saturadas e trans da dieta, além de consumir mais alimentos não processados ricos em monoinsaturados, como nozes, sementes, abacate, manteigas e azeites. Especialistas esclarecem que, quando as gorduras são necessárias, os óleos vegetais de sementes, nozes, frutas, são a melhor opção. O azeite, especialmente a versão extravirgem, demonstrou ter um valor significativo quando as pessoas procuram melhorar a saúde.
Fonte: Health
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