Pesquisa avaliou imagens do cérebro de mais de 1.000 pessoas durante tarefas cognitivas
Redação Publicado em 06/02/2025, às 10h00
O uso medicinal e recreativo da cannabis agora é legal em muitas partes do mundo, mas ainda existem dúvidas sobre seus efeitos na saúde física e mental – e um novo estudo mostra que o uso intenso da droga pode causar problemas na memória de trabalho.
A pesquisa foi publicada no periódico JAMA Network Open.
A memória de trabalho é uma das funções executivas – habilidades mentais essenciais para o funcionamento normal no dia a dia. Diferente da memória de curto prazo – como lembrar um número de telefone, por exemplo – ela nos ajuda a reter informações enquanto as utilizamos ativamente para realizar tarefas. Isso é fundamental para o raciocínio, a tomada de decisões e o controle do comportamento.
Pesquisadores de instituições dos Estados Unidos e do Canadá analisaram pesquisas e exames de imagem cerebral de 1.003 jovens adultos, comparando os hábitos de uso de cannabis autorrelatados com mudanças no cérebro durante tarefas cognitivas.
O tamanho significativo do grupo testado faz deste o maior estudo do tipo já realizado, oferecendo uma visão rara de como a cannabis afeta o funcionamento do cérebro.
O uso intenso e o uso recente de cannabis foram associados a níveis mais baixos de ativação cerebral durante uma tarefa comumente utilizada para avaliar a memória de trabalho. Nos outros testes, que abrangeram mecanismos de recompensa, emoções, habilidades linguísticas e habilidades motoras, não houve diferença substancial.
"Aplicamos os mais altos padrões à nossa pesquisa, estabelecendo limites rigorosos para a significância estatística em todos os sete testes de função cognitiva", afirma o neurologista Joshua Gowin, da Universidade do Colorado Anschutz Medical Campus.
"Para minimizar o risco de falsos positivos, utilizamos a correção da taxa de descoberta falsa. Embora algumas das outras tarefas tenham indicado um possível comprometimento cognitivo, apenas a tarefa de memória de trabalho mostrou um impacto estatisticamente significativo."
As áreas do cérebro onde a atividade foi menor do que o normal incluíram o córtex pré-frontal dorsolateral, o córtex pré-frontal dorsomedial e a ínsula anterior – regiões associadas à tomada de decisões, ao foco da atenção e ao processamento de emoções.
Sabemos que essas áreas do cérebro também possuem uma alta densidade de receptores CB1, que são alvos do composto tetraidrocanabinol (THC) presente na cannabis, e que a sensibilidade desses receptores é reduzida em usuários frequentes da droga.
Pesquisas anteriores já haviam sugerido que o uso recente de cannabis poderia estar associado a uma ativação reduzida nessas áreas críticas do cérebro durante tarefas de memória de trabalho.
Embora esses resultados sejam consistentes com achados anteriores, a análise foi capaz de demonstrar o impacto no cérebro mesmo após excluir indivíduos que ainda tinham vestígios da substância no organismo no momento dos testes.
O uso excessivo dessa droga pode estar afetando certas funções cerebrais, mas o quadro é complexo.
Embora haja boas razões para acreditar que reduzir o consumo de cannabis antes de uma situação mentalmente exigente pode melhorar a capacidade de recordação do cérebro, sintomas temporários de abstinência em usuários frequentes também podem comprometer qualquer benefício.
"As pessoas precisam estar cientes da sua relação com a cannabis, pois parar abruptamente também pode prejudicar a cognição", diz Gowin. "Por exemplo, usuários intensivos podem precisar ter mais cautela."
Muitas questões ainda permanecem: não está claro quais são os mecanismos por trás dessa associação ou quão permanentes essas mudanças podem ser. A idade e outros fatores de saúde provavelmente também influenciam nessa relação.
No entanto, este é mais um passo à frente na compreensão de como o uso extensivo e regular da cannabis pode afetar uma das funções mais importantes do cérebro – fornecendo mais informações tanto para os usuários quanto para os profissionais de saúde.
"À medida que o uso de cannabis continua a crescer globalmente, estudar seus efeitos na saúde humana tornou-se cada vez mais importante", afirma Gowin.
"Fazendo isso, podemos oferecer uma compreensão mais abrangente dos benefícios e riscos do uso da cannabis, permitindo que as pessoas tomem decisões informadas e compreendam plenamente as possíveis consequências."
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