Redação Publicado em 23/02/2021, às 21h33 - Atualizado em 24/02/2021, às 10h00
Em um momento da pandemia em que mais de mil pessoas continuam a morrer todos os dias no Brasil e apenas 3% da população já foi vacinada contra o novo coronavírus, ainda é muito cedo para discutir o futuro do uso da máscara facial.
Em uma perspectiva de médio prazo é razoável supor, com o ritmo atual de vacinação e o espalhamento de variantes mais contagiosas pelo país, que a obrigatoriedade do uso de máscara em espaços públicos deve continuar por todo o ano de 2021.
Apesar da resistência de determinadas pessoas e grupos não há como garantir uma diminuição da velocidade de transmissão do vírus sem a manutenção do isolamento social, higiene das mãos, uso de máscara e vacina. Nesse contexto é muito pouco provável que qualquer um de nós vá entrar em ônibus, avião ou supermercado nesse ano sem máscara.
Mas a questão que queria colocar vai um pouco além desse ainda incerto cenário da covid-19. Será que, em um futuro mais distante, teremos aprendido a usar máscara para sair de casa ao menor sinal de sintomas gripais? Será que teremos entendido a importância de “proteger” o outro?
Até bem recentemente, as únicas pessoas que víamos usando proteção facial em transporte público ou nas ruas eram aquelas com alguma condição médica que causa uma fragilidade do sistema imunológico (quimioterapia, por exemplo). Usar máscara de forma espontânea por estar gripado é prática raríssima desse lado do globo, talvez ainda mais incomum no Brasil.
Quem já teve oportunidade de viajar para as grandes cidades do Oriente sabe que, por lá, essa medida é corriqueira. Possivelmente pela questão da aglomeração em grandes centros como Tóquio, Hong Kong, Bangkok, Pequim, entre outros, a população foi educada a se proteger e proteger os outros. Mesmo na Europa, não é incomum encontrar viajantes chineses e japoneses usando máscaras em aeroportos e transporte público.
Fazendo uma rápida “viagem”, existe uma área interessante da antropologia evolutiva, conhecida como “medicina evolutiva”, que basicamente estuda aspectos da evolução das doenças e da saúde no longo processo evolutivo da nossa espécie.
Nessa perspectiva, alguns sintomas de infecções de transmissão respiratória (gripes, resfriados) como cansaço, fadiga, mal-estar e prostração podem ter sido “mecanismos” evolutivos para tirar quem estava doente de circulação (ficar mais quieto na sua caverna, no seu canto) e, assim, evitar infectar outros membros da sua comunidade. Uma espécie de isolamento social por força da nossa biologia! Mas com a descoberta de substâncias que “aliviam” esses sintomas, esse mecanismo evolutivo acabou perdendo importância.
Um “efeito colateral” positivo do isolamento social e do uso maciço de máscara que foi constatado em diversos países foi uma queda importante do número de casos de gripe. Quando a pandemia ganhou a Europa na primavera do ano passado, os especialistas temiam pela chegada do inverno e a sobreposição de duas epidemias (gripe e covid-19), mas não foi isso que aconteceu, nem lá nem nos EUA.
Uma reportagem interessante do jornal The Atlanticque comentamos no site recentemente mostra que praticamente não houve registros de testes positivos de influenza, vírus causador da gripe, em diversos laboratórios de grandes cidades americanas na temporada do outono e inverno de 2020 e 2021.
A gripe que em alguns anos chega a matar quase 60 mil norte-americanos, praticamente não teve espaço durante a pandemia.
No futuro ainda distante do controle da pandemia, com vacinas efetivas para a maior parte da população, seria importante que as pessoas aprendessem que em dias de resfriado ou gripe, talvez fosse melhor seguir a velha receita das nossas “avós” de tentar ficar em casa até melhorar. E, se isso não for possível, que usassem máscara em sinal de respeito e cuidado com os outros. Será que “pega"?
(Texto extraído da coluna do Jairo Bouer no UOL VivaBem)