Máscara veio para ficar; saiba as vantagens e use do jeito certo

Infectologista e especialista da ABNT esclarecem pontos importantes sobre a proteção

Tatiana Pronin Publicado em 10/03/2021, às 21h49

Além de evitar a Covid, o uso da máscara pode garantir um inverno mais saudável para todos - iStock

Tá bom, ninguém adora usar máscara, ainda mais num país com tantos dias quentes como o Brasil. Mas não tem jeito: junto com a lavagem frequente das mãos e o distanciamento social, o uso do "acessório" é a melhor forma de se proteger contra a Covid-19 e de transmitir a doença. Mesmo que você já esteja imunizado.

Diante de alguns estados norte-americanos que decidiram suspender a obrigatoriedade do uso de máscaras, CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) divulgou um documento esta semana para enfatizar: mesmo quem já recebeu a vacina deve permanecer com nariz e boca cobertos em espaços públicos. Embora os imunizantes sejam eficazes para evitar hospitalizações e mortes, ainda não é possível afirmar se eles evitam a transmissão do vírus.

Sars-Cov-2 e outros vírus respiratórios

É bem possível que a Covid-19 seja como a gripe, que exige a produção de uma nova vacina a cada ano. Com as medidas de prevenção contra o coronavírus, por sinal, os EUA viram as mortes por influenza caírem drasticamente na última temporada. Vários tipos de vírus causadores de resfriado e até o vírus sincicial respiratório (VSR), que no Brasil é causa importante de infecções agudas em bebês, sucumbiram no Hemisfério Norte. Será que isso não é o suficiente para adotarmos a proteção de vez, ao menos em algumas situações?

“O uso de máscaras pode, sim, contribuir para diminuir a transmissão das doenças respiratórias como um todo”, confirma a infectologista Raquel Stucchi, professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Se todo mundo passasse a usar a proteção nos meses de inverno, seria possível evitar muitos casos. “A gripe também pode ser grave, exige hospitalização em muitos casos e pode causar morte”, lembra a médica.

Vale dizer que os orientais fazem isso há muito tempo, inclusive quando não apresentam sintomas, o que, segundo ela, contribui bastante para o controle das doenças sazonais. No Japão, quem tem alergia ao pólen também utiliza a máscara na primavera, por causa das cerejeiras. Na China, a proteção ainda é adotada nos dias em que os níveis de poluição estão mais altos.

Poluição e Covid numa tacada só?

Será que as máscaras comuns que temos usado contra a Covid também nos protegem de poluição? Afinal, seria bom matar dois coelhos com uma só cajadada, certo? Veja a resposta do presidente da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) Mário William Esper: “Da poluição constituída de particulados sim, tais como fuligem, pólen, terra, areia trazida pelo vento; são tipos de partículas que ficam retidas no tecido, ou melhor ainda no não tecido. Porém, para a poluição na forma de gás não, tais como dióxido e monóxido de carbono, gazes de enxofre e nitrogênio que compõem os gases emitidos por automóveis e outras fontes de combustão. Para esses gases é útil o uso de mascaras com filtros caracterizadas como EPI - equipamentos de proteção individual.”

De trico e crochê não dá

Já para se evitar doenças respiratórias, máscaras de pano são úteis, desde que as pessoas tenham bom senso. “Máscaras de tricô e crochê que estão na moda são lindas, mas são inúteis na função de bloquear o vírus. Se eu quero usá-las, tenho que colocar uma com tecido adequado por baixo”, avisa a consultora da SBI.

A máscara de pano ideal deve ser de algodão e ter, no mínimo, duas camadas. “Posso colocar uma terceira camada com tecido diferente, ou posso confeccionar de forma a colocar um filtro, como o de café, por exemplo, para aumentar o poder de barreira”, aconselha.

Também é importante que o tamanho e a aderência sejam adequados. A máscara deve cobrir ao menos metade do nariz e ir até abaixo do queixo, além de cobrir as laterais do rosto (até cerca de 2 cm das orelhas).

Outros cuidados importantes

“Não devo tocar o lado de fora porque é onde ficam os vírus. Se saiu do lugar, posso tocar, reajustar e, imediatamente depois, eu vou ou lavar as mãos com água e sabão ou higienizá-las com álcool em gel”, comenta a infectologista.

Se uma máscara cirúrgica deve ser trocada a cada quatro horas, as de tecido também exigem trocas frequentes, de três em três horas ou sempre que ficarem úmidas. Se você estiver na rua, deve guardar no saquinho fechado e, em casa, lavar com água e sabão. Pode-se colocá-las para secar no varal ou na secadora. “Passar a seco é opcional, mas deixa o tecido mais confortável”, sugere.

Por causa das inúmeras dúvidas sobre o uso correto das máscaras “não profissionais” para prevenção do coronavírus, a ABNT divulgou, esta semana, um documento normativo de referência com o objetivo de orientar a sociedade.

A ABNT PR 1002:2020 contém recomendações de fabricação, design, desempenho e uso para as máscaras de proteção respiratória de uso não profissional, que podem ser reutilizáveis ou descartáveis. Reproduzimos os principais pontos abaixo:

A entidade também elaborou a ABNT PR 1005:2020, com recomendações relacionadas às máscaras cirúrgicas:

vírus poluição Covid-19 máscara doenças respiratórias

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