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Meningite: novos casos preocupam; conheça sintomas e como se prevenir

Os tipos mais comuns são as meningites virais e bacterianas, sendo que a segunda é a mais grave - iStock
Os tipos mais comuns são as meningites virais e bacterianas, sendo que a segunda é a mais grave - iStock

Cármen Guaresemin Publicado em 29/04/2022, às 10h00

Desde o começo de 2020 o mesmo assunto domina o tema quando se fala em saúde: a pandemia de Covid-19. A preocupação com o Sars-CoV-2 foi tão grande que as pessoas acabaram se esquecendo de outros problemas ou ficando com medo de ir a clínicas ou hospitais, chegando a não dar continuidade a tratamentos ou adiando as consultas médicas. E a vacinação também foi atingida.

Na verdade, desde 2015 o Brasil sofre quedas constantes na cobertura vacinal de crianças, problema que a pandemia só veio agravar. Dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) de 2021 mostram que entre as 15 vacinas que fazem parte do calendário do Ministério da Saúde, pelo menos nove tiveram uma redução brusca no número de aplicações. Isso preocupa os especialistas, que temem o reaparecimento de doenças já erradicadas ou controladas, como a meningite.

Meningite - o que é?

Meningite é uma infecção que se instala, principalmente, quando uma bactéria ou vírus, por alguma razão, consegue vencer as defesas do organismo e ataca as meninges, três membranas que envolvem e protegem o cérebro, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central. Ela pode ser transmitida pelo doente ou por alguém assintomático por meio da fala, tosse, espirros e beijos, passando da garganta de uma pessoa para outra. Por isso, ela é mais comum no inverno devido à tendência de as pessoas se aglomerarem em espaços fechados, o que favorece a transmissão da doença.

“Teoricamente, todos os microrganismos podem causar meningite: bactérias, vírus, fungos e protozoários. Os tipos mais comuns são as meningites bacterianas e virais. Há alguns anos essa denominação foi modificada para séptica (bacteriana) e asséptica (viral) por existirem outras causas que não se enquadram nesse conceito, por exemplo, uma carcinomatose (câncer disseminado) pode causar meningite asséptica. O tipo mais grave é a meningite séptica (bacteriana) que exige internação e antibioticoterapia”, explica Alexandre Piva, professor do curso de Medicina da Universidade Cidade de S. Paulo – Unicid.

A infectologista Rebecca Saad, coordenadora do SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar) do CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim", diz que os principais tipos de meningite são a viral, considerada a mais frequente e com menor potencial de complicações; e a bacteriana, que tem como principal causador a bactéria Meningococo, seguida pelo Pneumococo, Haemophilus influenzae e Mycobacterium Tuberculosis:

“A bacteriana é considerada mais grave pelo seu potencial de complicações”, explica Rebecca. Ela completa citando também a meningite fúngica, tipo mais raro, geralmente associada a doenças de base que comprometem a imunidade, considerada de difícil tratamento e com alta taxa de complicações e sequelas.

Sinais e sintomas

Os principais sinais e sintomas da meningite são: febre, vômitos, rigidez de nuca e alterações funcionais do SNC (sistema nervoso central). No recém-nascido, a sintomatologia clássica pode estar ausente. Assim, choro, irritabilidade, fontanelas abauladas (moleira de um bebê alta e protuberante), gemidos agudos e persistentes podem ser mais importantes.

Piva conta que, nas crianças maiores e em adultos, os sintomas exteriorizam-se por meio de três síndromes:

-Síndrome infecciosa: febre maior de 39°C, anorexia, prostação, toxemia (febre, mal-estar, agitação, confusão mental) etc;

-Síndrome de Hipertensão Endocraniana: cefaleia dilacerante que não cede com analgésicos, vômitos (em jato) que coincidem com vertigens, alterações funcionais do sistema nervoso central (torpor, coma, convulsões, edema de papila etc);

-Síndrome de Comprometimento Meníngeo: rigidez de nuca decorrente da compressão do exsudato purulento sobre a emergência dos nervos raquidianos, opistótono (grau máximo de rigidez de nuca, mais contratura extensora máxima da musculatura dorsal).

Prevenção e tratamento

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A melhor forma de prevenir a meningite é por meio da vacinação -  iStock

Por conta da rápida evolução, já que a proliferação das bactérias acontece rapidamente, a meningite é uma patologia considerada imprevisível. Segundo a infectologista, quanto mais cedo o diagnóstico  for dado e o tratamento no hospital iniciado, maiores serão as chances de cura. Piva explica que o tratamento depende do tipo e do agente etiológico. Nas meningites assépticas o tratamento é sintomático; e na meningite séptica, o tratamento é feito com antibióticos de largo espectro.

Em 20% dos casos, a meningite bacteriana leva à morte, principalmente entre crianças e idosos. Rebecca, no entanto, lembra que as sequelas da doença podem ser percebidas entre 11% e 19% dos sobreviventes, incluindo perda de audição, amputação de membros, alterações neurológicas e cicatrizes na pele. “A melhor forma de prevenir a meningite é por meio da vacinação. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, de forma gratuita, dois tipos de vacina contra a meningite: a meningocócica C e a ACWY”, afirma a médica.

A vacina meningocócica C é oferecida de graça nos postos de saúde para crianças com menos de 5 anos. Ela protege contra doenças causadas pelo meningococo C. O esquema vacinal funciona com três doses: uma aos 3 meses de vida, outra aos 5 meses e uma terceira dose de reforço aos 12 meses. Já a ACWY protege contra meningites e infecções generalizadas causadas pela bactéria meningococo dos tipos A, C, W e Y. Ela está disponível gratuitamente nos postos de saúde apenas para adolescentes de 11 e 12 anos. A dose é única.

Além das vacinas, Piva lembra que certos hábitos que adotamos com a pandemia da Covid-19 servem também como prevenção de meningite e deveriam ser incorporados, como higienização das mãos, não compartilhamento de utensílios pessoais, cobrir a boca sempre que tossir ou espirrar e deixar os ambientes bem ventilados.

“A vacinação é a forma mais eficaz e segura de se adquirir proteção contra doenças infecciosas. Por meio dela, os riscos de adoecimento ou de manifestações graves, que podem levar à internação e até mesmo ao óbito, diminuem consideravelmente”, repete Rebecca.

Já o professor chama a atenção para a taxa de cobertura vacinal, que vem diminuindo em todo país e se acentuou nos últimos dois anos em consequência da pandemia:

“Não só as vacinas contra as meningites, assim como todas as outras. Por exemplo, para poliomielite e sarampo. Isso é um fato muito preocupante, pois doenças já erradicadas podem retornar. O ideal é atingirmos índice de cobertura superior a 90% das vacinas disponíveis no PNI (Programa Nacional de Imunização). Atualmente estamos com taxas maiores de vacinas contra a Covid quando comparada às demais”, finaliza.

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