As crianças possuem uma sensibilidade aumentada à luz e isso pode afetar a produção de melatonina
Redação Publicado em 27/01/2022, às 17h00
Uma nova pesquisa da Universidade do Colorado (Estados Unidos) revelou que mesmo uma leve exposição à luz antes de dormir pode levar a uma grande redução da melatonina – também conhecida como “hormônio do sono” – em crianças, com potencial de interromper o sono muito depois que a luz se apaga.
O estudo, publicado no Journal of Pineal Research, levanta a questão de que os pré-escolares são altamente suscetíveis aos impactos fisiológicos da luz à noite e algumas crianças podem ser ainda mais sensíveis que outras.
Análises anteriores já mostraram que uma alta intensidade de luz brilhante antes de dormir reduz os níveis de melatonina em cerca de 90% em crianças pequenas. Segundo os pesquisadores, a surpresa foi encontrar essa queda do hormônio do sono em todas as intensidades de luz, mesmo nas mais fracas.
A luz é o principal indicador de tempo para o corpo, influenciando os ritmos circadianos que regulam tudo, desde quando nos sentimos cansados ou famintos até na temperatura corporal.
Quando a luz atinge a retina, um sinal é transmitido para uma parte do cérebro conhecida como núcleo supraquiasmático, onde são coordenados os ritmos do corpo, incluindo a produção noturna de melatonina.
Assim, se essa exposição ocorre à noite, período em que a melatonina está aumentando naturalmente, ela pode retardar ou interromper a produção desse hormônio, atrasando a capacidade do corpo de fazer a transição para a noite biológica.
Como os olhos das crianças têm pupilas maiores e lentes mais transparentes do que os adultos, a luz flui para elas mais livremente. Um estudo recente, por exemplo, mostrou que a transmissão de luz azul através do olho de uma criança de nove anos é 1,2 vezes maior do que a de um adulto.
De acordo com os pesquisadores, essa sensibilidade aumentada à luz pode deixar as crianças ainda mais suscetíveis à desregulação do sono e do sistema circadiano.
Confira:
Para o estudo, a equipe contou com 36 crianças saudáveis, de três a cinco anos, para um protocolo de nove dias, no qual todas usaram um monitor de pulso que rastreou seu sono e a exposição à luz.
Durante sete dias, os pais mantiveram as crianças em um horário de sono estável para normalizar seus relógios corporais e acomodá-las em um padrão em que seus níveis de melatonina subiam na mesma hora todas as noites.
No oitavo dia, os pesquisadores transformaram a casa das crianças no que eles descreveram como uma "caverna" – com plástico preto nas janelas e luzes enfraquecidas – e colheram amostras de saliva a cada meia hora, começando no início da tarde até depois de dormir. Isso permitiu que os cientistas conseguissem uma linha de base de quando a noite biológica das crianças começou naturalmente e quais eram seus níveis de melatonina.
No último dia do estudo, os pequenos foram convidados a jogar em uma mesa de luz uma hora antes de dormir, algo semelhante a uma pessoa olhando para um telefone ou tablet brilhante. A intensidade da luz variou entre as crianças, de 5 lux a 5.000 lux. (Um lux é definido como a luz de uma vela a um metro de distância).
Quando comparada à noite anterior com luz mínima, a melatonina foi suprimida de 70% a 99% após a exposição à luz. Mesmo em resposta à luz medida de 5 a 40 lux, que é muito mais fraca do que a luz típica da sala, a melatonina caiu em média 78%. E mesmo 50 minutos após o apagar da luz, a melatonina não se recuperou em mais da metade das crianças testadas.
Segundo os autores, essas descobertas indicam que, em crianças em idade pré-escolar, a exposição à luz antes de dormir, mesmo em baixas intensidades, resulta em uma grande supressão da melatonina.
De acordo com os pesquisadores, isso não significa necessariamente que os pais devem “jogar fora” a luz noturna e manter os filhos na escuridão absoluta à noite. Mas em uma era em que é comum usar dispositivos eletrônicos antes de dormir, a pesquisa serve como um lembrete para pais e cuidadores desligarem os aparelhos e manterem a luz no mínimo.
E para crianças que já têm problemas de sono? Em situações como essa, os pequenos podem ser mais sensíveis à luz do que outras crianças, já que os genes – juntamente com a exposição à luz diurna – podem influenciar nessa sensibilidade. Nesse caso, é ainda mais importante que os pais prestem atenção à exposição à luz noturna de seus filhos.
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