Um estudo brasileiro mostra que as medidas de isolamento social tiveram impacto expressivo no padrão alimentar das mulheres. Elas cozinharam mais durante
Da Redação Publicado em 20/11/2020, às 15h50
Um estudo brasileiro mostra que as medidas de isolamento social tiveram impacto expressivo no padrão alimentar das mulheres. Elas cozinharam mais durante a quarentena, mas também passaram a beliscar mais e abandonaram dietas ou restrições alimentares.
O trabalho, realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), contou com 1.183 participantes de diversas regiões do país, abordadas pela internet entre os meses de junho e setembro deste ano. As voluntárias tinham entre 18 e 72 anos de idade, sendo que a média foi de 34 anos. Do total, 13,4% eram obesas; 26,2% tinham sobrepeso e a maioria (60,4%) declarou estar com peso normal.
Aqui vale uma ressalva importante: a maioria das voluntárias era branca (77,8%) e tinha alta escolaridade (72,4%), o que corresponde à população de classe média e alta, que teve mais condições de permanecer em casa durante a pandemia. Os autores admitem que essa é uma limitação do estudo.
Veja os principais resultados:
– O número de adeptas de dietas para controle ou redução do peso caiu 41%;
– O hábito de cozinhar foi 28% mais comum para as participantes;
– Sentar-se à mesa para comer também tornou-se 40% mais frequente no período;
– A tendência a beliscar entre as refeições aumentou 24%;
– O hábito de pedir refeições por delivery aumentou 146%;
– A ida ao supermercado para fazer compras diminuiu 34%.
Em entrevista à Agência Fapesp, pesquisadores, a decisão de se concentrar nas mulheres se deu pelo fato de elas serem as principais responsáveis pelo cardápio familiar no país. Além disso, há evidências científicas de que elas são mais propensas ao chamado “comer emocional” do que os homens.
Vale lembrar que as mulheres também mais duas vezes vulneráveis à depressão e à ansiedade, transtornos que podem ter impacto no apetite e no comportamento alimentar.
Os dados indicam que o confinamento mudou o comportamento alimentar de todas as mulheres, independente do estado nutricional. Mas o “comer emocional” aparece de maneira mais marcante entre as participantes obesas ou com sobrepeso.
Os pesquisadores encontraram uma forte associação entre sentimentos de depressão, ansiedade, estresse e solidão e a tendência a comer em frente à TV, substituir refeições por lanches ou beliscar – hábitos que são considerados inadequados para quem quer ter uma dieta mais saudável.
Para os autores, é possível que as mulheres tenham abandonado cardápios mais restritivos porque isso costuma gerar estresse. Como a pandemia trouxe muitas preocupações e mudanças de rotina, dá para concluir que deixar a dieta em suspenso é uma decisão sábia, até uma forma de autocuidado.
Porém, os pesquisadores também não descartam que largar a dieta seja um sinal de desleixo com a saúde, uma sensação de que “tudo é permitido já que estamos na pandemia”.
Estudos feitos nos últimos anos têm mostrado que as mulheres também têm consumido mais álcool do que antigamente. E a gente sabe que o isolamento social fez muita gente beber mais do que devia. Por tudo isso, é possível que esta pandemia traga consequências importantes para a saúde feminina.
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