A busca por uma estética vista nas redes sociais nem sempre poderá ser alcançada de acordo com os padrões reais
Mônica Aribi Publicado em 19/09/2022, às 16h00
Os filtros usados nas publicações das redes sociais trazem uma falsa impressão de que o indivíduo tem a aparência livre de imperfeições. Cada vez mais, vemos nas redes sociais pessoas de pele perfeita, nariz perfeito, rosto harmônico, lábios com a proporção ideal, pele sem manchas, sem cicatrizes, sem espinhas, cabelos volumosos e hidratados, pescoço sem flacidez, contorno facial bem marcado, enfim, tudo o que almejamos de forma ideal. Mas seria essa a imagem real? Será que todos os seres humanos se tornaram perfeitos e felizes com dentes brancos e alinhados?
Seria ótimo, mas, na maioria das vezes, essa imagem é apenas virtual. Quem nunca se decepcionou ao encontrar pessoalmente alguém que só conhecia virtualmente? As pessoas que usam os sites de encontro que o digam. Essa febre do uso de filtros para tornar nossa aparência mais agradável não trouxe apenas desvantagens. Muitas vezes, passamos a buscar melhorias na nossa aparência para alcançar alguma semelhança com alguém que achamos belo. Mesmo que esse “belo” por vezes não agrade a todos, mas sim a um grupo de pessoas que compartilha um gosto em particular.
A busca por uma aparência melhor quando realizada de forma adequada e por meio de profissionais bem capacitados pode gerar melhorias nas pessoas, inclusive na saúde delas. Como costumo dizer “não há beleza sem saúde”.
O problema é que por vezes essa busca não é realizada de forma correta; quem a realiza acaba acreditando em mitos ou inverdades. Muitas pessoas realizam procedimentos não considerados cientificamente provados e, ainda pior, caem nas mãos de profissionais não habilitados. Por esse motivo, é necessário ter cautela principalmente quando quem seguimos e admiramos são desconhecidos que podem apenas estar fazendo propaganda de procedimentos ou de profissionais para obter algum tipo de vantagem com isso.
Existem muitos exemplos de pessoas que foram atrás de uma imagem que elas consideravam ideal, mas não era essa a realidade. Por exemplo, o indivíduo exposto na imagem pode ser portador de uma pele com algum tipo de problema, como manchas ou cicatrizes, e com o uso de filtros a pele dele pode parecer perfeita nas redes. Aos olhos dos seguidores desse indivíduo que usam essa tecnologia, ocorre uma admiração, aguçando uma curiosidade por maneiras para obter uma pele também livre de manchas ou cicatrizes.
A curiosidade é ainda maior quando o dono da rede social em foco é uma celebridade que anteriormente transparecia essas imperfeições e de um momento para o outro aparece livres delas. O que em geral os seguidores fazem é pesquisar qual a rotina da celebridade, qual procedimento ela realizou ou qual profissional ela procurou para obter uma pele perfeita.
Sem ter certeza se o que se pesquisou é real ou não, o seguidor faz sacrifícios de toda ordem para tentar fazer igual. O que ele não se atenta é que nem sempre a notícia é real, e muito menos a melhora que ele viu é real. Caso continue desavisadamente e encontre um profissional não qualificado ou alguém que queira testar algum novo procedimento, essa pessoa pode no mínimo ter uma grande decepção.
As manchas de pele muitas vezes não desaparecem totalmente, e sim se tornam mais claras com os tratamentos. Por esse motivo, é muito importante alertar os pacientes que vêm em busca da pele perfeita que a imagem vista na rede social nem sempre é real ao vivo sem maquiagem ou filtro. Se não acontecer o alerta antes de decidirem fazer os procedimentos dermatológicos, pode ocorrer frustração e desentendimento com o profissional que realizou o tratamento.
Outros aspectos também podem ser modificados com os filtros de redes sociais, por exemplo o aumento do volume labial. Essa modificação é sem dúvida uma das mais admiradas principalmente pelo público mais jovem. É muito comum nos consultórios dermatológicos o paciente mostrar a foto da pessoa que segue na rede para que o profissional tente fazer sua boca ficar o mais parecida possível com a da foto.
Para os dermatologistas essa febre do uso dos filtros foi benéfica porque aumentou e muito a procura por procedimentos estéticos. Mas cabe ao profissional alertar o paciente do quanto aquela imagem que ele objetiva é real ou fictícia. E também o quanto o paciente poderá atingir de melhora respeitando os seus próprios traços genéticos.
A mudança da imagem por filtros de redes não pode ser comparada às mudanças que um profissional consegue realizar no campo real. Mesmo que esse profissional seja bastante competente, existem limites anatômicos e fisiológicos que devem ser respeitados.
Aliás, quanto maior a capacidade do profissional, maior o respeito que ele costuma ter pela naturalidade do resultado. Um indivíduo que nasce com lábios bem afilados deve ser alertado que até pode ser submetido a um aumento do volume labial, mas nunca querer transformar seus lábios em carnudos, pois haverá além do comprometimento estético, também comprometimento vascular e da função dos lábios que servem para mastigação e fala.
Outro problema bastante visto é a massificação da aparência das pessoas. Como os filtros seguem um padrão tecnologicamente editado, quando se tenta modificar algo na nossa aparência por meio de filtros ficamos muito parecidos uns aos outros.
Para concluir, acredito que essa tendência do uso dos filtros veio para ficar, porque a pessoa passa a se enxergar da maneira que ela gostaria de ser, mas o importante é saber que as modificações realizadas numa tela de computador não podem ser comparadas com aquelas que conseguimos na vida real.
Por esse motivo, ao procurar dar uma melhorada no seu visual saiba que a pele não é uma tela de computador e que sua aparência ficará melhor, mas sempre respeitando a natureza dos seus traços, a cor verdadeira da sua pele, e seu tipo físico e traços raciais. Tudo o que for tentado em direção diversa a esse foco não será bem-sucedido.
Dra. Mônica Aribi é dermatologista, sócia efetiva da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e International Fellow da Academia Americana de Dermatologia. É mestra em Ciências da Saúde pelo IAMSPE, Membro Internacional da European Academy of Dermatology and Venerology e Coordenadora do Setor de Cosmiatria do Hospital Ipiranga. CRM: 53.387 | RQE: 35.101. Instagram: @dramonicaaribi
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