Pesquisadores encontraram evidências de que os três fatores protegem contra o declínio cognitivo
Redação Publicado em 30/09/2022, às 13h00
Em um artigo recente, pesquisadores revisaram estudos ligando exercício, relacionamentos e paixão à saúde do cérebro. Eles encontraram evidências de que todos os três fatores oferecem proteção contra o declínio cognitivo, ou seja, perdas na capacidade de raciocínio, memória e aprendizado. O artigo foi publicado recentemente em uma edição especial da Brain Sciences.
As alterações na função cognitiva durante o processo de envelhecimento são relacionadas ao volume de matéria branca e cinzenta do cérebro.
A substância cinzenta consiste em estruturas biológicas que incluem corpos celulares neuronais, sinapses e capilares. Já a substância branca consiste nos axônios mielinizados, através dos quais os sinais são transportados entre os neurônios. O nosso volume de massa cinzenta declina com o passar da idade. Porém, pesquisas sugerem que indivíduos clinica e cognitivamente mais saudáveis experimentam menos atrofia cerebral do que indivíduos menos saudáveis.
Os pesquisadores realizaram uma revisão completa do extenso corpo de literatura disponível sobre a ligação entre o desenvolvimento da fisiologia do cérebro e atividade física, relações sociais e sentimentos como a paixão. Eles perceberam que ser apaixonado por algo leva as pessoas a fazerem mais atividade física, a ter mais relacionamentos sociais e melhor bem-estar ao longo do processo de envelhecimento.
Em outras palavras, a paixão – ou forte interesse – pode ser um fator motivacional chave para a realização e o bem-estar, pois define a direção a seguir. Por isso, eles aconselham: encontre sua paixão e desenvolva-a! E seja perseverante. Encontre sua área de interesse e se concentre no processo. Esteja pronto para aceitar desafios, que são fundamentais para o desenvolvimento.
Manter um estilo de vida ativo é útil para manter a saúde cognitiva e neurológica em todas as faixas etárias – especialmente em processos mais sofisticados, como se alternar entre tarefas, ter boa memória de trabalho (aquela que nos permite ir ao supermercado e lembrar de tudo o que estava faltando em casa) e inibição cognitiva. Os pesquisadores observaram que os estudos de intervenção confirmaram essas descobertas.
Em um dos trabalhos, por exemplo, adultos mais velhos que realizaram uma hora de treinamento aeróbico três vezes por semana durante seis meses tiveram aumento do volume de substância cinzenta e branca em comparação com os controles. Outra pesquisa mostrou que a atividade física aumenta a funcionalidade em áreas do cérebro ligadas à atenção e ao controle dela, e também aumenta a reserva cognitiva, ou seja, uma capacidade extra que atua como um amortecedor contra o declínio cognitivo relacionado à idade.
O artigo aponta para estudos que sugerem que manter laços sociais aumenta a reserva cognitiva por meio de estratégias cognitivas, maior crescimento neural e densidade sináptica, que protegem contra processos patológicos. Estudos de imagem demonstraram que redes sociais maiores estão ligadas a um córtex orbitofrontal maior – envolvido na tomada de decisões – e volume da amígdala. Esses estudos também demonstram que pessoas menos ativas socialmente apresentam maior número de lesões na substância branca.
Além disso, alguns ensaios demonstraram que as relações sociais podem aumentar a reserva cognitiva, enquanto intervenções provaram que o aumento da interação social está ligado a uma melhor função cognitiva e maior volume cerebral. Outros estudos, no entanto, não indicaram nenhuma ligação entre as relações sociais e a função cognitiva mais tarde na vida. Os pesquisadores sugerem, portanto, que são necessárias evidências mais robustas de ensaios clínicos randomizados (com pessoas escolhidas aleatoriamente) para demonstrar a relação entre causa e efeito.
No artigo, os pesquisadores definiram paixão como “um forte sentimento em relação a um valor/preferência pessoal importante que motiva intenções e comportamentos para expressar esse valor/preferência”. Outra pesquisa descobriu que a paixão está relacionada a uma prática mais constante entre jogadores de futebol e melhor bem-estar e desempenho entre os trabalhadores. Os pesquisadores também notaram que a paixão pode ser importante para manter a plasticidade neural, ou seja, a formação de novas conexões entre os neurônios.
Um exemplo disso é alguém que é apaixonado por aprender novos idiomas. Os pesquisadores escreveram que a paixão poderia motivar um indivíduo a praticar mais a segunda língua e, assim, fortalecer sua massa cinzenta, células neurais e conexões. Eles também observaram que traços psicológicos como garra e uma mentalidade de crescimento também foram vinculados ao desenvolvimento da massa cinzenta em diferentes partes do cérebro.
Os pesquisadores citaram, ainda, uma série de artigos que sugerem que função motora prejudicada, comportamento antissocial, depressão e anedonia (a incapacidade de sentir prazer) são comuns em distúrbios neurodegenerativos e psiquiátricos, assim como no processo natural de envelhecimento. Assim, eles sugeriram que um “ciclo vicioso” pode estar em jogo: menos atividade física pode promover menos engajamento social e menor bem-estar.
“A paixão dá direção à área de interesse, que pode estar relacionada ao sistema de dopamina, que é central na atenção, aprendizado, comportamentos direcionados a objetivos e recompensas. A paixão pode estar fornecendo o foco essencial para a realização de metas de longo prazo”, escreveram os pesquisadores.
Quando perguntados sobre como a atividade física, a socialização e a paixão melhoram a saúde do cérebro, estudiosos não envolvidos neste estudo disseram que há mais conhecimento sobre os mecanismos subjacentes à atividade física do que às interações sociais ou ao aprendizado de novas habilidades. Há literatura de várias décadas sobre os efeitos da atividade física na saúde do cérebro, no aprendizado e na memória, porque existem excelentes modelos animais para atividade física (geralmente corrida de rodas com roedores).
A literatura animal sugere uma série de alterações cerebrais associadas à atividade física, incluindo novos neurônios em regiões do cérebro que apoiam a memória, mais conexões entre os neurônios (chamadas sinapses) e aumentos na estrutura vascular. Aumentos de neurotransmissores e fatores de crescimento, entre outras mudanças, também foram associados a aumentos na atividade física em modelos animais.
Os pesquisadores concluíram que o exercício físico, as interações sociais e a paixão são fundamentais para manter a saúde do cérebro. Quando questionados sobre as limitações do artigo, foi observado que estudos de intervenção com foco no aumento da paixão, atividade física e engajamento social precisam ser realizados para confirmar as hipóteses. Existem várias questões a serem estudadas ainda, como a melhor forma de personalizar esses fatores para melhorar a função cognitiva e cerebral nos indivíduos, bem como a melhor forma de combinar engajamento intelectual, atividade física e interações sociais para maximizar benefícios ao longo da vida.
Fonte: MedicalNewsToday
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