Um estudo recente publicado no Journal of Attention Disorders revela que jovens com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) experimentam níveis mais altos de solidão do que seus pares.
O trabalho destaca um aspecto importante do transtorno, além de revelar uma forte associação entre solidão e problemas de saúde mental.
O TDAH é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento. Seus sintomas incluem desatenção, hiperatividade e impulsividade, sendo que em algumas pessoas a desatenção é mais marcante, enquanto em outras a hiperatividade e a impulsividade são mais destacadas.
Muitos estudos têm se concentrado nos relacionamentos de pessoas com TDAH com os pares, mas poucos são focados nos desafios sociais, especialmente na solidão, definida como o "sentimento subjetivo de angústia devido a um déficit percebido na quantidade e qualidade das relações sociais de alguém".
Segundo os pesquisadores, que fazem parte do King's College London e da Universidade Queen Mary, no Reino Unido, tanto a solidão quanto o TDAH têm relação com problemas de saúde física e mental, o que inclui depressão, ansiedade, automutilação e ideação suicida.
Coordenados por Angelina Jong, da King's College London, os pesquisadores conduziram uma revisão sistemática e uma meta-análise, ou seja, uma análise rigorosa dos dados de vários estudos para avaliar a prevalência da solidão em indivíduos com menos de 25 anos. A metodologia envolveu a busca em seis grandes bancos de dados eletrônicos e a aplicação de ferramentas estatísticas para combinar e comparar resultados de 20 pesquisas diferentes.
Os resultados de 15 desses estudos revelaram que jovens com TDAH dizem se sentir significativamente mais solitários do que aqueles sem o transtorno. Esses dados foram obtidos de trabalhos realizados em oito países (principalmente do Ocidente), com um total de 1.253 participantes com TDAH e 5.028 participantes sem o transtorno.
"Um possível fator que pode explicar o aumento da solidão em jovens com TDAH em comparação com seus pares poderia ser a maior rejeição pelos pares e as dificuldades sociais experimentadas... [Isso] também pode estar relacionado a se sentir diferente," hipotetizam Jong e seus colegas.
Além disso, ao analisar 781 jovens com TDAH em oito estudos, foi encontrada uma associação significativa entre solidão e problemas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade.
Apesar de haver limitações no estudo, como a variabilidade dos desenhos e uma proporção maior de homens incluídos, os pesquisadores acreditam que investir no combate a essa sensação de estar só pode ser algo importante para se levar em conta no tratamento da condição.
Dado os possíveis problemas de saúde mental associados à solidão no TDAH, reduzir a solidão pode não apenas diminuir a angústia, mas também impactar positivamente outros aspectos da saúde mental."
Dr. Jairo Bouer
Médico psiquiatra com formação na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), biólogo pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), e mestre em evolução humana e comportamento pela University College London, além de palestrante e escritor. Twitter: @JairoBouerDr