Redação Publicado em 11/03/2022, às 11h00
Um novo estudo conclui que playlist de música com curadoria de inteligência artificial, combinada com estimulação de batidas auditivas, ajuda a aliviar os sintomas de ansiedade moderada. A lista de reprodução, por si só, ajudou a reduzir significativamente os sintomas em participantes com alto traço de ansiedade. Os pesquisadores esperam que as descobertas forneçam tratamentos de ansiedade simples e econômicos para algumas pessoas. Os resultados desse estudo foram publicados na revista PLOS One.
Ao longo dos anos, vários estudos mostraram o impacto que a música tem na melhora dos sintomas de ansiedade e estresse. Agora, a pesquisa sugere que a música pode ajudar a aliviar a ansiedade durante cirurgias e reduzir níveis gerais de estresse. Um estudo recente sobre música e ansiedade vem de cientistas da Ryerson University, em Toronto, Canadá.
Os autores descrevem a estimulação de batidas auditivas como uma “técnica neuromodulatória não invasiva, que usa ondas sonoras para produzir tons combinados, batidas binaurais ou batidas monofônicas, com a intenção de produzir uma frequência neural após a resposta.
Adiel Mallik, principal autor do estudo e pós-doutorando no Smart Lab da Universidade Ryerson, explicou que a equipe estava tentando determinar se a musicoterapia digital personalizada por IA com ou sem estimulação de batidas auditivas poderia reduzir a ansiedade. Para ele, embora haja evidências científicas demonstrando que a música calma pode ser eficaz na redução do estresse agudo e da ansiedade, algumas teorias também sugerem que os efeitos podem ser amplificados se a música for pessoal e refletir o estado de humor atual de um indivíduo.
Mallik citou que alguns de seus trabalhos anteriores descobriram que a música autosselecionada pode causar a liberação de neuroquímicos, como opioides. Para além dos limites da música, a ativação do sistema opioide demonstrou ter efeitos redutores de ansiedade em pessoas saudáveis e em pacientes que sofrem de transtornos de ansiedade. Juntando tudo isso, as listas de reprodução de músicas personalizadas para os estados de humor e preferências dos pacientes seriam particularmente eficazes na redução da ansiedade.
Os pesquisadores recrutaram 163 pessoas com ansiedade que estavam tomando medicamentos antiansiedade. A equipe colocou aleatoriamente os participantes em um dos seguintes planos de tratamento:
Todas as sessões de tratamento ocorreram nas residências dos participantes. Os candidatos baixaram um aplicativo em seu tablet ou celular, que tocava musicoterapia personalizada, e ouviram uma sessão de 24 minutos.
Antes da sessão de tratamento, os participantes completaram um teste curto de preferências musicais, o Questionário de Personalidade Eysenck e a versão de traço do Inventário de Ansiedade Traço-Estado (Idate) Cognitiva e Somática. Após a sessão, os colaboradores preencheram o Idate e a Escala de Afetos Positivos e Negativos, medindo o efeito que certos sentimentos e emoções têm em uma pessoa.
Usando as pontuações de ansiedade dos participantes, os pesquisadores dividiram os indivíduos em subgrupos de ansiedade moderada ou alta. Especialistas em saúde definem a ansiedade-traço como “uma disposição relativamente estável dentro do indivíduo para julgar uma ampla gama de eventos ambientais como potencialmente ameaçadores”.
Os pesquisadores descobriram que aqueles com ansiedade moderada antes do tratamento começaram a experimentar a maior redução nos sintomas de ansiedade somática – ou sinais físicos de ansiedade – ao ouvir uma combinação de uma lista de reprodução de música personalizada por inteligência artificial e estimulação de batidas auditivas, em comparação com o ruído rosa.
Em pessoas com ansiedade-traço moderada, essa combinação também produziu as maiores reduções na ansiedade do estado cognitivo – quando o estado mental de uma pessoa afeta sua ansiedade. Indivíduos com alto traço de ansiedade relataram reduções significativamente maiores em seus sintomas ao ouvir apenas sua playlist de música com curadoria de IA.
Em participantes com alto traço de ansiedade, a condição de música sozinha teve uma redução de ansiedade significativamente maior em comparação com as demais condições. A principal hipótese é que esses participantes podem exigir mais e mais tratamentos ao longo do tempo para alcançar as mesmas reduções na ansiedade em geral que os participantes com traço de ansiedade moderado.
Outra possibilidade, para os pesquisadores, é que os participantes com alto traço de ansiedade podem não responder favoravelmente ao componente da condição combinada (música e estimulação de batidas auditivas). Isso pode estar alinhado com outros estudos, que descobriram que pessoas com certos traços de personalidade, como extroversão, respondem mais favoravelmente a isso.
Mallik e a equipe de pesquisa esperam que as descobertas ajudem a construir uma base sólida de evidências que apoiem ainda mais o uso da musicoterapia digital personalizada como uma ferramenta adicional para reduzir a ansiedade. Para especialistas, qualquer intervenção que permita que um paciente se sinta no controle é positiva. Isso permite que a pessoa se sinta como se estivesse fazendo a diferença em seu próprio tratamento, em comparação com os sentimentos contraditórios e os efeitos colaterais produzidos pela medicação, que muitas vezes são um problema.
Para os próximos passos, os pesquisadores estão planejando uma versão longitudinal desse estudo, onde pessoas participem de várias sessões ao longo de 4 a 6 semanas ou mais. Isso porque eles querem entender como esse efeito redutor de ansiedade do tratamento musical se comporta por um longo período. Seria interessante ver estudos de replicação com uma amostra mais equilibrada. Isso porque mulheres têm taxas mais altas de ansiedade do que os homens em geral, e seria importante saber se esse tratamento é eficaz para ambos.
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