Cármen Guaresemin Publicado em 24/02/2022, às 15h00
Você costuma prestar atenção na validade da água engarrafada?
- Sim
- Não
- Só de vem em quando
Se você for uma pessoa curiosa, ou daquelas que costuma ler os rótulos de tudo que compra, já deve ter notado que a água mineral vendida em garrafas, sejam de plástico ou vidro, tem data de validade. Aí você pode se perguntar: mas água tem data de validade?! A resposta é não, a água não tem, mas as garrafas, sim.
A Agência Nacional de Mineração, subordinada ao Ministério de Minas e Energia; o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, subordinado ao Ministério do Meio Ambiente; e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), subordinada ao Ministério da Saúde, são os órgãos que determinam as datas de validade.
“Embora a água em si não ‘estrague’, a que foi engarrafada em plástico ou em vidro tem prazo de validade. Por isso não é uma boa ideia consumi-la muito além da data de validade. A embalagem PET pode deixar passar substâncias do plástico para a água no decorrer do tempo, por exemplo”, afirma Janilson Avelino da Silva, professor do curso de Nutrição do Centro Universitário de João Pessoa – Unipê.
“A água é muito suscetível a contaminações externas, se a garrafa estiver mal fechada, o líquido pode entrar em contato com bactérias existentes no ar e ser contaminada”, afirma a médica nutróloga Marcella Garcez, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, que completa: “Além disso, as garrafas plásticas e PET podem sofrer alterações físicas durante o transporte e armazenamento, que podem comprometer a qualidade do produto, assim têm prazos de validade menores que as embalagens de vidro”.
Prazo de validade, de acordo com a Abinam (Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais):
- Água sem gás – vidro: 24 meses.
- Água sem gás – PET (plástico mais brilhante e transparente): 12 meses.
- Água sem gás – polipropileno (plástico mais opaco e de qualidade inferior): 6 meses.
- Água com gás – vidro: 12 meses.
- Água com gás – PET (plástico mais brilhante e transparente): 6 meses.
A validade da garrafa feita de vidro é maior porque ela tem melhor isolamento, e mantém por mais tempo as propriedades do líquido. Já o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) determina, para os garrafões plásticos retornáveis de 10 e 20 litros, um prazo de validade para reutilização de até três anos, pois após esse período eles podem se desgastar pelo calor e procedimentos de limpeza capazes de comprometer a qualidade da água transportada. Por isso é preciso ter atenção, também, com a validade do vasilhame.
A água mineral é um produto de origem natural e não passa por processos de tratamento, por isso requer cuidados especiais em seu armazenamento. Dependendo do local onde é armazenada, pode ter as características modificadas. “O armazenamento correto da água começa já na hora do transporte, regido por resoluções da Anvisa, e se estende a todas as etapas da distribuição e armazenamento em comércios, até as residências. Via de regra, as águas engarrafadas lacradas, dentro do prazo de validade, podem ser armazenadas em local seco, fresco, à temperatura ambiente. Após abertas, assim como as águas de torneira engarrafadas, estarão mais seguras sob refrigeração”, ensina a nutróloga.
Confira:
Silva explica que, com o tempo, o plástico pode começar a penetrar na água, contaminando-a com produtos químicos, como antimônio e bisfenol, que são substâncias tóxicas ao organismo. “Se ingeridos regularmente, esses xenobióticos podem se acumular lentamente no corpo, prejudicando a saúde intestinal. E, como sabemos que a manutenção da integridade intestinal está ligada a muitas outras funções corporais, bem como ao desenvolvimento de doenças, tal comportamento pode ser prejudicial”.
Seria interessante, então, parar de consumir água em garrafa PET? Para Marcella, isso não é necessário: “No entanto, o ideal é fazer um rodízio entre os tipos e marcas de águas consumidas, incluindo as filtradas; desta maneira há menor risco de sobrecargas e contaminações”. Já Silva acha que quanto menor o consumo, melhor: “Devido aos possíveis efeitos cumulativos no organismo das substâncias que podem ser transferidas do material que a garrafa contém para dentro da água”.
Marcella lembra que é comum o aparecimento de algas em águas minerais, mesmo fechadas e lacradas. Isto pode ocorrer basicamente devido à exposição do produto ao calor e/ou à luminosidade. Essas algas não são patogênicas, não causam doenças ou distúrbios no organismo humano, porém seu aparecimento altera as características como cor, odor e sabor da água, o que a desqualifica para o consumo.
Por tudo o que foi falado, beber água vencida pode ser uma péssima ideia. “Aliás, qualquer produto, para consumo interno, fora do prazo de validade, não garante suas propriedades e benefícios ao organismo. Portanto, pode fazer mal e não deve ser consumido”, alerta a médica.
O professor lembra que a água de torneira pode ter um problema adicional se mal acondicionada, pois pode se tornar veículo de micro-organismos e causar infecções de origem alimentar. Já Marcella comenta que a água potável é tratada diariamente, portanto não tem prazo de validade, mas lembra de outro dado importante: “O ideal é que a limpeza da caixa d’água seja realizada a cada seis meses, para evitar que ocorra contaminação”.
Quanto ao tempo que a água potável pode ser guardada e consumida, Marcella conta que, segundo um estudo, a água da torneira, filtrada ou não, e dependendo da qualidade de tratamento, pode ser guardada e consumida por até seis meses, com risco mínimo de efeitos colaterais adversos, desde que tenha sido armazenada adequadamente. Porém, é sempre interessante que seja renovada e colocada sob refrigeração pelo menor prazo possível.
E para aqueles que não gostam de beber água, engarrafada ou não, Silva deixa um recado:
“Não beber água pode formar cálculos nos rins, bem como causar desidratação, o que pode causar desde problemas estéticos, como pele ressecada, até morte, pela sobrecarga cardiovascular”.
Como já apontado neste site, a exposição aos microplásticos é quase 2–3 vezes maior em indivíduos que dependem de sua ingestão de líquidos de garrafas plásticas de água do que para aqueles que usam produtos alternativos. Isso pode ser devido ao fato de que o calor e o tempo de armazenamento mais longo, que podem ser comuns com água engarrafada, aumentam a migração de microplásticos de embalagens para alimentos e água.
Luciane Calabria, Doutora em Ciência dos Materiais e professora do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG, tira algumas dúvidas sobre o tema:
Águas engarrafas podem apresentar microplásticos?
Primeiramente, temos que entender o que é o microplástico, este material é proveniente da fragmentação de polímeros (menor que 5 mm), principalmente quando o descarte é feito de maneira inadequada, sem seguir as rotas corretas de reciclagem. Quanto à questão de contaminação em água engarrafada, sim, pode ocorrer, principalmente se as empresas que produzem tal produto não apresentem controle rigoroso em seu processo de fabricação.
A presença de microplásticos nas águas pode afetar a saúde? Se sim, quais sintomas a pessoa pode apresentar?
Ainda é muito difícil afirmar que o microplástico pode causar algum dano à saúde, principalmente se for resíduo de polietilenos e polipropilenos, os mais encontrados nesta escala. Contudo, alguns polímeros utilizam em seu processo de síntese reagentes nocivos à saúde e estes, quando ingeridos em quantidades não usuais, podem acarretar algum dano em longo prazo. Alguns grupos de pesquisa estão trabalhando nesses efeitos, sendo cedo para afirmar seu efeito ao organismo humano.
É possível identificar a presença de microplásticos nas águas?
Sim, é possível identificar por meio de várias técnicas de caracterização, como a microscópica, por marcadores etc. Ainda pode-se fazer a separação da água e o microplástico por meio de membranas que fazem a filtragem. Pensando no consumidor, uma pessoa a olho nu, por exemplo, consegue identificar a presença de partículas quando estas forem maiores que 100 micrômetros, porém não poderá afirmar se é ou não um microplástico, para essa afirmativa é necessário técnicas de caracterização.
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