Algumas leitoras, em vez de só se comparar com as modelos magras, têm a sensação de que podem ficar iguais a elas
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h21 - Atualizado às 23h57
Mas então por que essas revistas continuam vendendo? Uma nova pesquisa, feita na Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos, pode indicar a resposta. Ela sugere que algumas leitoras, em vez de se comparar com as modelos (e se sentir mal com isso), ficam com a sensação de que podem ficar tão atraentes quanto elas.
O efeito é positivo no início, mas, a longo prazo, não se traduz em mudança. Segundo a autora do estudo, Silvia Knobloch-Westerwick, professora de comunicação da universidade, as mulheres que mais têm esse tipo de sensação ao folhear as revistas – que ela chama de “thinspiration” (inspiração de magreza, em tradução livre) – são justamente as que menos se envolvem em estratégias para perder peso.
O trabalho, publicado na revista Health Communication, envolveu 51 estudantes universitárias. Elas foram informadas de que iriam avaliar artigos e propagandas de revistas femininas. Ao contrário de outros estudos do gênero, que ofereciam somente as fotos para as voluntárias, estas receberam as publicações por inteiro, e tinham que visualizá-las diariamente ao longo de cinco dias.
Esse diferença sutil em relação a outros experimentos pode explicar a tal sensação positiva, não identificada em outras pesquisas: é que as revistas trazem sempre mensagens do tipo “emagreça 10 kg em duas semanas”, ou “fique linda como a Fulana de Tal” junto com as imagens. Já quando se vê somente uma foto, pode ser que a reação de se comparar e se sentir mal seja mais frequente.
Antes de receber as revistas, as estudantes responderam a perguntas sobre hábitos de leitura, nível de satisfação com o corpo e IMC (Índice de Massa Corporal). Depois de analisar as publicações, elas foram questionadas de novo sobre sua imagem corporal e sobre hábitos alimentares, além de comentar o que achavam das páginas vistas.
Os resultados mostraram que as mulheres que simplesmente se comparavam com as modelos e pensavam “esta garota é mais magra que eu” eram mais propensas a relatar um nível menor de satisfação com o corpo após o experimento. Elas também tinham feito dieta ao longo dos cinco dias.
Já as mulheres que usaram a comparação de forma positiva, pensando “gostaria que meu corpo fosse como o dessa mulher”, relataram aumento no nível de satisfação corporal após os cinco dias. O que não significou mudança de hábitos alimentares.
Outro achado importante do estudo foi que algumas mulheres mudaram a forma como se comparavam com as modelos ao longo do estudo, tendendo a sentir a tal inspiração de magreza. Para autora, isso é sinal de que a exposição repetida pode fazer as leitoras passarem a se identificar mais com as modelos.
A autora conclui que as mulheres podem ser capazes de combater os efeitos nocivos da mídia sobre sua autoimagem se elas compreenderem que essas mensagens são projetadas para fazê-las acreditar em ideais que muitas vezes são irreais e até mesmo insalubres.