Na verdade, não tem nada a ver com o medo de ficar sozinho, de acordo com um novo estudo
Redação Publicado em 04/04/2022, às 13h00
Separações são sempre desagradáveis. Todos os tipos de emoções complexas estão envolvidas num rompimento, e, muitas vezes, um ou ambos os parceiros já consideravam a opção por algum tempo. Agora, um novo estudo fornece algumas evidências da razão pela qual algumas dessas pessoas decidem ficar, mesmo que estejam infelizes em seu relacionamento. Aparentemente, o motivo é não querer chatear a outra pessoa.
A nova pesquisa, publicada no Journal of Personality and Social Psychology, não é particularmente surpreendente – muito menos para a principal autora, Samantha Joel, que conduziu o estudo como professora assistente de psicologia na Universidade de Utah e atualmente é professora assistente na Western University.
Ela confessou que essa foi uma das poucas vezes que realmente encontrou exatamente o que estava procurando ao iniciar um estudo. A maioria das pesquisas nesse campo se concentra em pessoas em relacionamentos que tomam decisões por si mesmas, e não em função do outro. Por isso, suas descobertas – embora previsíveis – adicionam uma nova camada de complexidade à ciência. Ela admite que desconfiava ser possível que as pessoas se importassem com seus parceiros, e o estudo mostrou que elas se importam, e de maneira bastante consistente.
Samantha e seus colegas entrevistaram 500 pessoas que estiveram em relacionamentos românticos por uma média de 38 meses, mas todas pensando em terminar com seus parceiros. Os pesquisadores os acompanharam dois meses depois para ver quem havia decidido ficar.
Eles descobriram que, sim, as pessoas que, inicialmente, acreditavam que seus parceiros queriam que o relacionamento continuasse eram menos propensas a romper. Na verdade, quanto mais dependentes as pessoas acreditavam que seus parceiros estavam delas, menor era a probabilidade de "puxarem o plugue".
Em outras palavras, o estudo descobriu que as pessoas podem estar dispostas a permanecer em um relacionamento insatisfatório por causa de seu parceiro – e que elas não tomam decisões de separação puramente por interesse próprio. Isso foi verdade mesmo para aquelas que disseram não se sentir satisfeitas ou que investiram no relacionamento, e para pessoas que sentiram que tinham opções de namoro mais atraentes.
Há, é claro, muitas outras razões para permanecer em um relacionamento romântico que não é perfeito. Pesquisas anteriores mostraram que a quantidade de tempo e emoção já investidos pode ser um fator, assim como as perspectivas e alternativas de uma pessoa. Pessoas casadas ou que estão juntas há anos também enfrentam outros obstáculos, como dividir bens e envolver advogados. Mas este é o primeiro estudo a analisar o quanto uma pessoa considera os sentimentos de outra pessoa, enfatizou a professora, em vez de apenas os seus próprios.
De certa forma, esta é uma descoberta positiva, admite Samantha. Para ela, uma coisa é se importar com os sentimentos do seu parceiro quando você está em um relacionamento que funciona bem e quer manter isso. Mas algums pessoas que pensam em terminar não têm nenhuma razão de interesse próprio para se importar com os sentimentos de seu parceiro, e ainda assim se preocupam.
Havia uma exceção a essa regra, no entanto: as pessoas no estudo que pontuaram baixo em “força comunitária” – uma medida de quão longe alguém está disposto a ir para atender às necessidades de seu parceiro. Segundo a professora, essas pessoas foram muito menos propensas a levar os sentimentos do parceiro em consideração. Para ela, essa descoberta sugere que os resultados podem não se estender a indivíduos que são particularmente autocentrados ou autointeressados.
Mais pesquisas são necessárias para entender as consequências de quando um parceiro toma a decisão de permanecer com base nas necessidades percebidas da outra pessoa. Samantha acredita que os efeitos de tal decisão provavelmente podem ser positivos ou negativos, dependendo do relacionamento e da situação individual. Se a relação é geralmente boa e o casal está enfrentando um momento difícil, e isso os ajuda a superar, então é algo bom e deve ter consequências positivas. Porém, ela enfatiza que se o relacionamento é cronicamente ruim, e essas preocupações estão impedindo alguém de sair de uma situação que não é boa para seu bem-estar, então, obviamente, isso é ruim.
Até que se saiba mais sobre como essa decisão pode afetar os relacionamentos e a saúde mental, os pesquisadores dizem que pode ser útil saber que esse tipo de sentimento é normal e que não é incomum levar em consideração o que seu parceiro sente em sua decisão. (Sim, apesar de todos os seus amigos lhe dizerem para fazer o que é melhor para você.)
Samantha acredita que isso diz algo sobre a natureza humana – e que somos menos egoístas do que às vezes pensamos ser. O que mostra que as pessoas continuam a se importar com os outros, mesmo quando fazer isso talvez não seja o mais indicado.
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