Pesquisadores sugerem que a falta de sono muda a maneira como interpretamos as expressões faciais
Redação Publicado em 04/05/2022, às 14h00
Um novo estudo da Universidade de Uppsala (Suécia) mostrou que adultos jovens, quando privados de sono, podem interpretar de forma equivocada as expressões faciais dos outros e, consequentemente, seus respectivos estados emocionais.
Os resultados – publicados na revista científica Nature and Science of Sleep – foram adquiridos através do rastreamento ocular, uma tecnologia de sensores que pode detectar o que a pessoa está olhando em tempo real.
A equipe contou com 45 jovens (homens e mulheres) para realizar um experimento e examinar como a perda aguda do sono afeta a maneira como os humanos exploram e avaliam rostos felizes, medrosos, irritados e neutros.
Para isso, os participantes passaram uma noite sem dormir e uma noite com oito horas de sono, sendo que seus movimentos oculares foram medidos pela manhã após ambas as noites.
Segundo os pesquisadores, quando privados de sono, os jovens passavam menos tempo se fixando em rostos. Assim, uma vez que as expressões faciais são cruciais para entender o estado emocional dos outros, passar menos tempo se fixando em rostos após a perda aguda do sono pode aumentar o risco de interpretar o estado emocional das outras pessoas de forma imprecisa.
Os achados indicaram que os participantes privados de sono classificaram os rostos irritados como menos confiáveis e saudáveis, além dos rostos neutros e medrosos como menos atraentes.
Para os autores, isso indica que a perda de sono está associada a impressões sociais mais negativas dos outros, o que poderia resultar em menos motivação para interagir socialmente.
Em geral, a privação de sono é causada pela constante falta de sono ou pela redução da sua qualidade. Dormir menos de sete horas regularmente pode levar a consequências para a saúde que afetam todo o corpo.
O organismo precisa do sono, assim como do oxigênio e da comida. Enquanto dormimos, o corpo se cura e restaura seu equilíbrio químico, o cérebro faz novas conexões de pensamento e há melhor retenção da memória.
Em contrapartida, sem dormir o suficiente, os sistemas cerebrais e corporais não funcionarão normalmente, bem como a pessoa terá a sua qualidade de vida reduzida. A seguir, saiba como cada sistema interno do corpo pode ser afetado quando deixamos de dormir:
1. Sistema nervoso central
O sistema nervoso central é a principal via de informações do corpo e o sono é necessário para mantê-lo funcionando adequadamente. A privação do sono pode atrapalhar a maneira como o organismo envia e processa informações.
Durante o sono, os caminhos se formam entre as células nervosas (neurônios), ajudando-o a se lembrar de novas informações. Ficar sem dormir deixa o cérebro exausto e incapaz de realizar suas funções.
Além disso, pode ser mais difícil se concentrar ou aprender coisas novas. Os sinais que o corpo envia também podem ser atrasados, diminuindo a coordenação e aumentando o risco de acidentes.
A privação do sono também afeta negativamente as habilidades mentais e o estado emocional. A pessoa tende a ficar mais impaciente ou sofrer com mudanças de humor, comprometendo processos de tomada de decisão e a criatividade.
Confira:
2. Sistema imunológico
Enquanto dormimos, o sistema imunológico produz substâncias protetoras e de combate a infecções, como anticorpos e citocinas. Ele usa essas substâncias para combater invasores externos, como bactérias e vírus.
Certas citocinas também ajudam a dormir, dando ao sistema imunológico mais eficiência para defender o corpo contra doenças. A privação do sono, porém, impede que o organismo acumule forças e não dormir o suficiente faz com que o corpo não seja capaz de se defender dos invasores, levando mais tempo para se recuperar de uma doença.
A longo prazo, a privação de sono também aumenta o risco de doenças crônicas, como diabetes mellitus e doenças cardíacas.
3. Sistema respiratório
A relação entre o sono e o sistema respiratório é uma via de mão dupla. Um distúrbio respiratório noturno denominado apneia obstrutiva do sono pode interromper o sono e diminuir a sua qualidade.
Ao acordar durante a noite, isso pode causar privação, o que torna a pessoa mais vulnerável a infecções respiratórias, como resfriado comum e gripe. Deixar de dormir também pode piorar as condições respiratórias existentes, como as doenças pulmonares crônicas.
4. Sistema digestivo
Junto com comer demais e não se exercitar, a privação do sono é outro fator de risco para ficar com sobrepeso e obesidade. O sono afeta os níveis de dois hormônios – leptina e grelina –, que controlam a sensação de fome e saciedade.
A leptina diz ao seu cérebro quando já comemos o suficiente. Sem dormir, o organismo reduz a leptina e aumenta a grelina, que é um estimulante do apetite.
A falta de sono também pode causar cansaço para fazer exercícios. Com o tempo, a atividade física reduzida pode causar um ganho de peso. Além disso, a privação faz com que o corpo libere menos insulina depois de comer, elevando os níveis de açúcar no sangue.
5. Sistema cardiovascular
O sono afeta os processos que mantêm o coração e os vasos sanguíneos saudáveis, incluindo aqueles que impactam o açúcar no sangue, a pressão arterial e os níveis de inflamação. Ele também desempenha um papel vital na capacidade do corpo de curar e reparar os vasos sanguíneos e o coração.
Pessoas que não dormem o suficiente têm maior probabilidade de contrair doenças cardiovasculares. Inclusive, alguns estudos já ligaram a insônia a um risco aumentado de ataque cardíaco e derrame.
6. Sistema endócrino
A produção de hormônios depende do sono. Para a produção de testosterona, o corpo precisa de, pelo menos, três horas de sono ininterrupto. Essa interrupção também pode afetar a produção do hormônio do crescimento, especialmente em crianças e adolescentes, responsável por ajudar o corpo a construir massa muscular e a reparar células e tecidos, além de outras funções.
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