Todo mundo sabe que açúcar demais faz mal, e pouca gente consegue eliminar completamente esse aditivo da dieta. Mas, afinal de contas, qual a quantidade máxima de açúcar que uma pessoa deve consumir por dia?
Em um estudo publicado na semana passada, cientistas encontraram mais evidências para apoiar uma recomendação sobre o tema feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2015.
Segundo eles, a ingestão de açúcar adicionado deve ser limitada a seis colheres de chá por dia.
No estudo, que saiu na revista médica The BMJ, pesquisadores da China e dos EUA citaram uma longa lista de resultados negativos fortemente ligados ao consumo de açúcar, que inclui: asma, diabetes, obesidade, doenças cardíacas, depressão, alguns tipos de câncer e morte.
Nossa revisão abrangente mostrou associações prejudiciais entre o consumo de açúcar na dieta e uma série de doenças cardiometabólicas, especialmente ganho de peso, acúmulo de gordura, obesidade e doenças cardiovasculares, que podem ser amplamente atribuídas ao consumo excessivo de açúcares que contêm frutose”.
Médicos e cientistas sabem há décadas que comer muito açúcar pode prejudicar sua saúde de várias maneiras. Esse conhecimento levou a Organização Mundial da Saúde a recomendar a redução da ingestão de açúcar livre para menos de 10% da ingestão diária total de energia pela primeira vez em 1989.
Em 2015, a organização atualizou as diretrizes novamente para recomendar uma redução adicional para cerca de 5% , o que equivale a cerca de seis colheres de chá de açúcar por dia.
Quando a OMS fez sua recomendação, as evidências para apoiá-la ainda eram limitadas e muitas delas vinham de estudos que não haviam sido revisados quanto à qualidade, precisão e consistência. Assim, a organização tornou a recomendação "condicional". Agora, graças aos pesquisadores envolvidos no estudo do BMJ, os especialistas têm os dados que faltavam para confirmar o que foi recomendado.
A equipe revisou 73 meta-análises de 8.601 artigos, que envolveram um total de 83 diferentes doenças ou condições médicas, em adultos e crianças. (Uma meta-análise é uma análise estatística que combina os resultados de vários estudos científicos para procurar tendências em larga escala).
Açúcares livres, também conhecidos como açúcares adicionados, incluem glicose, frutose, sacarose, ou açúcar de mesa usado em alimentos e bebidas. Isso inclui produtos caseiros e industrializados, e também açúcares encontrados naturalmente no mel, xaropes, sucos de frutas.
É importante destacar que esses açúcares também costumam estar "escondidos" em alimentos processados que nem sempre são doces, como o ketchup (uma colher de sopa pode conter uma colher de chá de açúcar adicionado).
Eles também descobriram que as bebidas açucaradas, como refrigerantes, sucos e bebidas esportivas e energéticas, são a maior fonte de açúcares adicionados na dieta de muitas pessoas e recomendaram limitar as bebidas açucaradas a menos de uma porção por semana.
Os pesquisadores encontraram "associações prejudiciais significativas" entre açúcar adicionado e:
- problemas ligados ao metabolismo (incluindo diabetes, gotaeobesidade);
- doenças cardiovasculares (incluindo hipertensão arterial, infarto e derrame);
- câncer (incluindo câncer de mama, próstata e pâncreas);
- mortalidade por todas as causas;
- asma em crianças;
- transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH);
- alterações na densidade mineral óssea;
- cárie e erosão dentária;
- depressão;
- doença hepática gordurosa não alcoólica.
Como suas descobertas foram informadas principalmente por dados de estudos observacionais e de baixa qualidade, os autores disseram que os cientistas precisarão conduzir mais ensaios controlados e randomizados para entender melhor as conexões entre o açúcar e doenças específicas, como o câncer. Mas a mensagem geral é clara, segundo eles:
O alto consumo de açúcar na dieta geralmente é mais prejudicial do que benéfico para a saúde, especialmente para doenças cardiometabólicas”.
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Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin