Pesquisa avaliou milhares de frequentadores e o resultado pode surpreender muita gente
Tatiana Pronin Publicado em 18/04/2023, às 16h00
Você já deve ter ouvido, ou lido em algum lugar, que são necessários 21 dias para transformar um novo hábito em rotina. Ou seja: se você perseverar durante três semanas, sua ida à academia vai entrar no piloto automático. Mas será que essa estimativa foi baseada em alguma evidência científica?
Segundo um grupo de pesquisadores que decidiu estudar o assunto, não há evidências científicas que comprovem essa ideia. A equipe inclui estudiosos da área de economia comportamental e neurociências das universidades de Chicago, Pensilvânia e do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).
Em estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), eles jogam um banho de água fria em quem adora fórmulas simples para estimular as pessoas a serem mais saudáveis:
“Não existe um número mágico para a formação de hábitos”, declara Anastasia Buyalskaya, uma das autoras e, atualmente, professora de marketing na HEC Paris, na França.
“Nossos trabalhos apoiam a ideia de que a velocidade de formação do hábito difere de acordo com o comportamento em questão e uma variedade de outros fatores”, acrescenta o autor Colin Camerer, da Caltech. Em outras palavras, tudo depende...
A equipe utilizou ferramentas de aprendizado de máquina para estudar a formação de hábitos de dezenas de milhares de pessoas em dois comportamentos específicos: frequentar a academia e lavar as mãos corretamente antes e depois de lidar com pacientes em hospitais.
Para a pesquisa sobre o hábito de malhar, a equipe fez uma parceria com a academia 24 Hour Fitness e monitorou dados de mais de 30 mil frequentadores ao longo de quatro anos.
Já para verificar a lavagem de mãos dos profissionais de saúde, os pesquisadores fizeram uma parceria com uma empresa que usa tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID), nos crachás, para monitorar a lavagem de mãos de mais de 3.000 funcionários de hospitais ao longo de quase 100 turnos.
Com o aprendizado de máquina, é possível observar centenas de variáveis que podem prever um comportamento, sem que seja preciso começar o estudo com uma hipótese específica. Além disso, o uso da tecnologia permite observar as pessoas diretamente, em seu ambiente natural – quando você pede para alguém preencher um questionário sobre seus hábitos, ela pode não se lembrar direito do que fez naquele dia ou naquela semana, por exemplo.
Você quer saber quanto tempo levou para os profissionais de saúde adquirirem o hábito de lavar as mãos corretamente, como seus superiores recomendaram? Não muito, só algumas semanas, ou algo compatível com os famosos 21 dias. Mas os pesquisadores acreditam que ter consciência sobre o monitoramento foi como um “choque” para os funcionários.
E quanto ao hábito de ir à academia como manda o figurino? Segundo os resultados, uma média de seis meses. Ou seja: muito mais do que diz a sabedoria popular. Dureza, não?
O estudo mostrou que certas variáveis não importaram muito para firmar o hábito de malhar, como a hora do dia. Já outros fatores entraram em jogo: para 76% dos frequentadores, a quantidade de tempo passado entre uma visita e outra foi um indicador importante. Em outras palavras, se eu fico muitos dias sem ir para a academia, as chances de eu ir de novo diminuem.
Ter uma frequência fixa também parece ser importante: 69% dos frequentadores da academia eram mais propensos a ir ao local nos mesmos dias da semana, sendo que segunda e terça eram os dias mais frequentados.
Os pesquisadores celebram a utilidade da tecnologia na realização desse tipo de estudo. Para nós, mortais, fica a lição de que colocar a academia na rotina não é algo tão simples para todas as pessoas. Ter alguém para verificar a lista de presença ou um amigo para encontrar na aula, quem sabe, pode acelerar a assimilação do novo hábito?
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