Psiquiatra Marco Abud explica como o método contribui para noites bem dormidas
Milena Alvarez Publicado em 27/04/2021, às 15h48
A insônia é uma velha conhecida de muitas pessoas ao redor do mundo. Segundo a Organização Mundial da Sáude (OMS), cerca de 40% dos brasileiros sofrem com algum distúrbio do sono e, após mais de um ano do início da pandemia de Covid-19, o quadro parece ter sido agravado no país.
Entre os meses de abril e maio, por exemplo, a palavra insônia foi uma das mais procuradas do Google. Coincidência ou não, esse foi o período em que começaram a ser adotadas medidas mais rígidas de isolamento social no Brasil.
Diante desse cenário, vale destacar que a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I) é considerada o tratamento "padrão-ouro" para aqueles que sofrem com o problema, segundo as sociedades médicas e de sono nacionais e internacionais.
A TCC-I tem como principal objetivo ajudar indivíduos que sofrem com insônia a entender quais são os gatilhos que comprometem seu sono, compreendendo melhor quais são as causas e os desdobramentos disso. Ou seja, esse método fornece às pessoas ferramentas, como técnicas cognitivas e comportamentais, para alcançar uma maior qualidade do sono.
O psiquiatra Marcos Abud é um dos especialistas no assunto e comenta que essa vertente da terapia atua em várias frentes diferentes. Procura entender o sono como parte de um todo e que é afetado pelas escolhas do dia a dia de cada um, desde o despertar até a hora de dormir.
Abud explica que “a TCC-I vai fazer um treinamento no cérebro, uma reprogramação de todos os elementos que causam a insônia”. Segundo ele, como qualquer outro tipo de tratamento, o tempo para começar a notar resultados da terapia varia de pessoa para pessoa. Porém, com uma sessão semanal, a média para o paciente apresentar uma melhora ou o desaparecimento dos sintomas da insônia é de seis a oito sessões.
A TCC-I é um método muito prático, e se a pessoa consegue usar as estratégias de uma forma mais assídua, é natural que ela tenha uma melhora extremamente significativa da insônia em um curto espaço de tempo.
Abud ainda completa que “como a terapia está ligada a mudanças de hábitos específicos relacionados ao sono no dia a dia, algumas pessoas tendem a demorar um pouco mais para melhorar. Mas a boa notícia é que os efeitos que o paciente conquista ao longo do tratamento são duradoudos, ou seja, persistem por meses ou anos”.
O sono é um estado fundamental para o corpo humano e nem um pouco passivo, sendo responsável pelas funções de armazenamento de informações, crescimento de ossos e músculos, por filtrar toxinas e pelo sistema de defesa.
De acordo com Abud, domir mal de vez em quando é absolutamente normal. Porém, é possível notar alguns sinais que podem dar indícios de uma insônia crônica ou transtono do sono. Confira:
Se umas dessas condições ocorrem mais de três dias por semana, é um sinal de alerta para um quadro conhecido como transtorno de insônia. Abud conta que o problema é dividio conforme a duração:
A insônia é provocada por quatro grandes fatores. O primeiro é conhecido como hiperalerta, no qual a mente fica em estado de alerta constante durante a noite e isso impede a pessoa de pegar no sono. O segundo aspecto é o fato de o relógio biológico estar desregulado: “Nosso relógio biológico é o que faz o corpo saber a hora que deve ficar acordado, atento, e o momento de relaxar e domir”, explica Abud.
O terceiro fator é o desajuste da fome de sono. O corpo produz uma substância no cérebro chamada adenosina, que se acumula enquanto a pessoa está acordada e, ao chegar em um limite, ela faz o indivíduo dormir. Porém, em algumas pessoas, a fome de sono não está bem regulada, a adenosina não está acumulada o suficiente e impede que o sono chegue.
Por último, existe a insônia condicionada, ou seja, um aprendizado nada útil do cérebro que, depois de alguns meses mal dormidos, o corpo aprende que a noite, o quarto e a cama, são locais de ficar acordado, ansioso e nervoso. Assim, a pessoa sente sono em qualquer horário e local durante o dia, porém ao deitar, o olho abre e o sono vai embora.
Segundo Abud, “para a gente poder tratar a insônia de uma forma adequada, temos que abordar esses quetro elementos. E é exatamente isso que a TCC-I faz”.
Dificuldades relacionadas ao sono já afetavam 73 milhões de brasileiros quando a Covid-19 sequer dava seus primeiros sinais de existência. Mas a mudança de rotina imposta pela pandemia provocou estresse, agravando o panorama do sono de uma grande parcela da sociedade.
Isso porque, em um contexto de isolamento social, existe uma confusão entre o espaço pessoal e o profissional, aumento do cuidado com os filhos e das tarefas domésticas, distância de parentes e amigos, além do medo da doença.
“Tudo isso virou um caldeirão de emoções e o sono é um dos que mais sofrem com esses momentos, pois é o período em que precisamos relaxar, mas também aquele em que tudo vem à tona: o dia a dia, as angústias, a sensação de que é preciso encontrar soluções imediatas para os problemas da nação a todo custo", pontua Abud.
Confira quais são os aspectos negativos da falta de sono para a saúde – tanto física como mental – e quais são os outros quatro benefícios de uma noite bem dormida e de qualidade:
Impactos negativos da insônia
Benefícios do sono
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