O iogurte é famoso por conter probióticos, mas quantos deles realmente chegam ao seu intestino? Novas pesquisas mostram que uma combinação comum e deliciosa pode ajudar as bactérias benéficas a atravessar o trato intestinal intactas.
Dois estudos separados revelaram que adicionar mel pode favorecer a sobrevivência dos probióticos do iogurte na digestão. Como as enzimas no trato gastrointestinal podem, às vezes, matar os microrganismos benéficos, esta pode ser uma estratégia útil para mantê-los vivos.
Ambos os trabalhos foram conduzidos por pesquisadores da Universidade de Illinois, Urbana-Champaign e publicados em março e agosto no The Journal of Nutrition.
De acordo com a autora do estudo e professora associada de nutrição Hannah Holscher, o interesse nos efeitos do mel no iogurte começou depois que ela encontrou pesquisas mostrando que o mel ajudava na sobrevivência das bifidobactérias em experimentos de laboratório.
“Como as bifidobactérias são uma bactéria probiótica comum adicionada ao iogurte e o iogurte natural é comumente consumido com mel, fiquei interessada em determinar se essa combinação culinária poderia ajudar a apoiar a sobrevivência dos probióticos tanto in vitro [no laboratório] quanto in vivo [em pessoas]”, disse ela ao site Health. As suspeitas de Holscher foram confirmadas pelos resultados de ambos os estudos.
O primeiro dos estudos de Holscher e seus colegas foi um experimento de laboratório que analisou como quatro tipos diferentes de mel impactaram a viabilidade dos probióticos no iogurte: foram adicionados ao iogurte os méis de trevo, alfafa, trigo-sarraceno e flor-de-laranjeira, contendo a cepa probiótica Bifidobacterium animalis.
Os pesquisadores, então, testaram os efeitos de uma suposta digestão humana, adicionando simulações de saliva, ácido estomacal, bile intestinal e enzimas. Na fase intestinal dessa digestão simulada, o iogurte com mel de trevo teve a maior taxa de sobrevivência dos probióticos.
As razões por trás da eficácia única do mel de trevo são provavelmente múltiplas, segundo a pesquisadora. Uma hipótese é a quantidade maior de glicose no mel de trevo. “A glicose pode ter servido como uma fonte de energia para as bactérias probióticas”, observou.
Além disso, o mel de trevo tem menores quantidades de enzimas que quebram os açúcares em oligossacarídeos, que as bactérias podem usar como energia. Assim, as menores concentrações de enzimas no mel de trevo poderiam ter resultado em mais energia para alimentar as bactérias probióticas enquanto elas faziam a longa viagem pelo trato intestinal.
O mel de trevo também contém antioxidantes que podem ter protegido os probióticos do ambiente agressivo no intestino delgado.
Para descobrir se esses resultados eram aplicáveis em humanos, a equipe de Holscher realizou um segundo estudo. Durante um período de duas semanas, 66 adultos saudáveis foram designados a consumir iogurte com mel ou iogurte com adição de açúcar. Os participantes forneceram amostras de fezes, informações sobre seus hábitos intestinais e responderam questionários sobre humor e cognição.
Ao final de duas semanas, ficou claro pelas amostras de fezes que o iogurte com mel havia enriquecido o conteúdo de B. animalis ao longo da digestão. Segundo Holscher, uma colher de sopa de mel foi suficiente para apoiar a sobrevivência dos probióticos.
No entanto, ela observou que, embora o mel pareça manter os probióticos vivos, ele não afetou o tempo de trânsito intestinal, nem apresentou outros benefícios de saúde observáveis, como melhoria nos hábitos intestinais, humor ou cognição.
A falta de melhorias dramáticas na saúde intestinal dos participantes do segundo estudo não significa que o mel não seja uma adição válida ao iogurte, de acordo com Holscher.
“Isso pode ter ocorrido porque os participantes do estudo tinham uma saúde digestiva relativamente normal, então não havia muito espaço para melhoria”, afirmou ela.
Se eles estivessem enfrentando constipação, poderiam ter experimentado um benefício em acelerar o tempo de trânsito intestinal ao consumir o iogurte com mel.”
Estudos futuros poderiam esclarecer se pessoas com constipação poderiam ver uma melhora no tempo de digestão ao adicionar mel ao iogurte.
Com moderação, o mel também pode ser considerado um alimento nutritivo por si só. O alimento também contém potássio e fenóis, que também estão sendo investigados por sua possível influência no microbioma intestinal.
O problema é que o mel é um tipo de açúcar adicionado, o que pode levar ao ganho de peso e suas consequências. Por ter origem animal, não entra na dieta vegana. Além disso, o mel é contraindicado para quem sofre de diabetes, intolerância à frutose e para crianças com menos de 1 ano.
Assim, não se deve exagerar. Em uma dieta de 2.000 calorias por dia, a recomendação é consumir menos de 200 calorias provenientes de açúcares adicionados. Uma colher de sopa de mel fornece cerca de 64 calorias. Então se você decidir adicionar mel ao iogurte, limite outras fontes de açúcar adicionado no mesmo dia.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin