Pesquisadores dizem que dizer "eu sou gay" pode ser benéfico para alguns, mas não para todos, e isso depende de fatores como etnia
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h39 - Atualizado em 15/10/2020, às 17h28
Um estudo realizado nos Estados Unidos mostra que dizer “Eu sou gay” para a família e os amigos não tem a mesma consequência, em termos de bem-estar, para todo mundo. Pesquisadores perceberam que questões culturais, associadas a diferentes etnias, podem interferir bastante no sentimento de cada um.
O trabalho, feito por psicólogos das universidades da Califórnia e do Kansas, analisou especificamente as diferenças entre um grupo de 41 gays latinos e 42 brancos, residentes em Nova York, praticamente todos cidadãos norte-americanos. Eles responderam a questionários para avaliar o quanto se identificavam como gays, como isso era demonstrado para a sociedade e como essas questões interferiam em seu bem-estar.
Adrian Villicana, Kevin Delucio e Monica Biernat descobriram que, se para os brancos a proclamação verbal da identidade gay trouxe um aumento significativo do bem-estar, a mesma atitude não foi tão benéfica para os latinos. Os resultados foram publicados no periódico Self and Identity.
Existe uma noção generalizada de que, uma vez que uma pessoa se identifica como gay e não tem qualquer dúvida ou conflito em relação a isso, o natural é que ela anuncie em alto e bom tom a sua orientação sexual. Alguns estudos até indicam que “sair do armário”, como dizem por aí, é algo que contribui para o bem-estar e a saúde.
Os avanços conquistados pelos movimentos LGBT ajudaram muita gente, nesse sentido. Existe até o Dia Nacional de Sair do Armário, celebrado em 11 de outubro em muitos países. Os autores do estudo observam que, hoje em dia, não se declarar abertamente como gay é até encarado como negativo, algo como negar a própria identidade.
Mas os pesquisadores lembram que muitos desses movimentos foram iniciados por brancos, e que ainda hoje, nos Estados Unidos, gays de outras etnias ainda sofrem por não se encaixar nessa identificação cultural. Estudos citados por eles indicam que muitos negros se sentem isolados, porque, ao se associar ao movimento gay, são rejeitados por indivíduos da própria etnia, que encaram a atitude como uma tentativa de abdicar de suas origens negras.
Com a pesquisa, os autores perceberam que latinos gays preferem anunciar sua orientação sexual de maneira mais implícita, como, por exemplo, levar o companheiro para uma festa de família. Se para os mais distantes isso pode parecer apenas uma amizade de longa data, quem convive mais de perto com a pessoa sabe que se trata de um relacionamento amoroso.
Dessa forma, dizem os pesquisadores, gays latinos evitam conflitos familiares e preservam o convívio harmonioso com pessoas da própria etnia, uma vez que, para essa cultura, fazer propaganda excessiva sobre ser gay ou lésbica é algo visto, segundo o estudo, como “falta de respeito” aos pais, que vem de outra geração.
Como eu já comentei aqui em outro post, nem tudo o que é bom para a maioria é bom para todo mundo. A decisão de contar para a família sobre a orientação sexual é individual e cada um deve escolher quando e qual a melhor forma de fazê-lo.