Psicóloga explica por que algumas pessoas se sentem mal com a desordem e o que fazer
Tatiana Pronin Publicado em 22/05/2024, às 18h00
Você costuma se sentir sobrecarregado só de olhar a bagunça do seu quarto ou da sua casa? Sente mal-estar ao ver papéis espalhados, pratos sujos e roupas bagunçadas? Costuma discutir com o parceiro ou seus parentes porque isso te causa um enorme incômodo e eles parecem nem ligar?
Pois saiba que você não está sozinho. Muita gente relatam que uma casa bagunçada pode desencadear estresse e ansiedade, como sugere em artigo recente a palestrante e psicóloga clínica Erika Penney, da Universidade de Tecnologia de Sydney.
A pergunta é por que a desordem e o caos fazem com que alguns de nós se sintam sobrecarregados e outros não? Veja o que diz uma pesquisa sobre o tema, e o que você pode fazer a respeito para se sentir melhor.
Quando estamos cercados por distrações, nossos cérebros se transformam em campos de batalha para manter a atenção. Tudo compete pelo nosso foco. Mas o cérebro, ao que parece, prefere a ordem e as “tarefas únicas” às multitarefas.A ordem ajuda a reduzir a competição pela nossa atenção e reduz a carga mental.
Embora algumas pessoas possam ser melhores do que outras na arte de ignorar distrações, ambientes caóticos podem sobrecarregar nossa capacidade cognitiva, ou seja, de atenção, aprendizado e memória.
A desordem e a bagunça podem afetar mais do que apenas nossos recursos cognitivos. Eles também estão ligados à nossa alimentação, produtividade, saúde mental, decisões parentais e até mesmo à nossa disposição de doar dinheiro.
A pesquisa sugere que os efeitos prejudiciais da bagunça e da desordem podem ser mais pronunciados nas mulheres do que nos homens.
Um estudo com 60 casais de dupla renda descobriu que mulheres que viviam em casas bagunçadas apresentavam níveis mais elevados de cortisol (hormônio associado ao estresse) e sintomas de depressão aumentados.
Esses efeitos permaneceram consistentes mesmo quando fatores como satisfação conjugal e traços de personalidade foram levados em consideração. Em contraste, os homens neste estudo pareciam não ser afetados pelo estado de seu ambiente doméstico.
Os pesquisadores teorizam que, por questões culturais, as mulheres podem sentir uma responsabilidade maior pela manutenção do lar. Eles também sugerem que o aspecto social do estudo (que envolveu visitas domiciliares) pode ter induzido mais medo de julgamento entre as mulheres do que entre os homens.
Todos nós viveremos com desordem e desorganização até certo ponto em nossas vidas. Às vezes, porém, problemas significativos relacionados à bagunça podem estar ligados a condições de saúde mental subjacentes, como transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de acumulação, transtorno depressivo maior, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e transtornos de ansiedade.
Isto levanta uma questão crucial: o que veio primeiro? Para alguns, a desordem é fonte de ansiedade e angústia; para outros, a saúde mental precária é a fonte da desorganização e da desordem.
É importante lembrar que a bagunça nem sempre é um problema, e não devemos buscar a perfeição. As casas reais não se parecem com as casas de revistas ou novelas. Na verdade, há quem diga que espaços desorganizados podem resultar num aumento da criatividade e suscitar novas ideias.
Em outras palavras, viver em constante desordem pode não ser algo produtivo, mas lutar pelo perfeccionismo também pode ser contraproducente. O próprio perfeccionismo está associado à sensação de opressão, ansiedade e problemas de saúde mental.
É importante lembrar que você tem algum poder de decisão sobre o que é importante para você e como deseja priorizar seu tempo.
Uma abordagem é tentar reduzir a desordem. Você pode, por exemplo, separar um tempo para cuidar da organização da casa toda semana. Isso pode envolver contratar uma faxineira (se você puder pagar) ou tocar alguma música ou um podcast enquanto arruma a casa. Outros membros da família devem participar do combinado.
Estabelecer essa rotina pode reduzir as distrações, aliviar sua carga mental geral e aliviar a preocupação de que a desordem fique fora de controle.
Você também pode tentar separar o serviço em microtarefas. Se não tiver tempo para uma limpeza completa, reserve apenas cinco minutos do dia para limpar um pequeno espaço.
Se a desordem for causada principalmente por outros membros da família, tente discutir calmamente com eles como essa bagunça está afetando sua saúde mental. Veja se seus filhos, seu parceiro ou colegas de casa conseguem negociar alguns limites como família sobre qual nível de bagunça é aceitável e como isso será tratado se esse limite for excedido.
É importante destacar que a bagunça da casa não define se você é uma pessoa “boa” ou “má”. Lembre-se de que você merece sucesso, relacionamentos significativos e felicidade, ainda que seu escritório ou sua casa vivam desarrumados.
Algumas pesquisas que sugerem que, embora ambientes desorganizados possam nos tornar suscetíveis ao estresse e prejudicar a tomada de decisões, sua mentalidade pode protegê-lo contra essas vulnerabilidades.
Se a desordem, o perfeccionismo ou a ansiedade começarem a parecer incontroláveis, pense na possibilidade de fazer terapia. Um bom psicólogo pode ajudá-lo a cultivar uma vida orientada por valores que são importantes para você.
Entender por que a desordem causa tanto incômodo pode ser útil para pensar em medidas para controlar melhor seus pensamentos, emoções, relacionamentos e espaços de convivência.
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