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Síndrome do Final de Ano: confira dicas para não sofrer com ela

A situação está muito ligada a pensamentos que sobrecarregam a mente e reencontro de amigos e familiares - iStock
A situação está muito ligada a pensamentos que sobrecarregam a mente e reencontro de amigos e familiares - iStock

Redação Publicado em 15/12/2021, às 10h00

Não tem jeito, o fim de ano chega e, com ele, expectativas, planos, balanços, reuniões com colegas de trabalho, amigos, familiares... Pessoas aparentando alegria por todos os lados. Só que nem todos estão assim. Para muitos, o que surge são sentimentos de frustração, melancolia e um sabor agridoce. Essas sensações podem desencadear um fenômeno conhecido como Depressão Sazonal ou Síndrome do Final de Ano.

Os termos são usados por profissionais das áreas de psicologia e psiquiatria para descrever o aumento de quadros ansiosos e depressivos que surge entre o final de novembro e o fim de dezembro. Para se ter uma ideia, uma pesquisa da International Stress Management Association mostrou que o estresse atinge 80% da população nesse período. E por que isso acontece?

Parece que a situação está muito ligada, por exemplo, ao acúmulo de tarefas, pensamentos que sobrecarregam a mente, ambiente frenético e corrido no trabalho, preparação para as férias escolares, reencontro de amigos e familiares, além de todas as expectativas - para alguns, até mesmo apreensão - relacionadas ao ano que chegará. Angústia, alterações de humor, insônia ou sono em excesso, dores musculares constantes e fadiga são alguns dos sintomas que podem surgir.

E a pandemia, que já dura longos dois anos, também pesa no resultado. “Fatores como saúde, luto, problemas socioeconômicos, emocionais, entre diversos outros advindos da pandemia, acentuam a ansiedade já natural da época. O ideal é identificar o que pode provocar ou aumentar esta ansiedade, mitigando as reações negativas”, afirma Monica Machado, psicóloga pela Universidade de São Paulo, fundadora da Clínica Ame.C.

Ciclo que se fecha

Para a neuropsicóloga da Clínica Maia, Katherine de Paula Machado, uma das explicações para reações tão diferentes em relação à mesma época é o simbolismo do fechamento de ciclo, que traz reflexões sobre o desempenho e aproveitamento que cada um teve: "Geralmente, no final do ano, as pessoas fazem uma avaliação de como foram os últimos 12 meses. Assim, caso não estejam satisfeitas com as experiências vivenciadas, é comum fazerem uma análise negativa, que desencadeia sentimentos de autocobrança, não merecimento e percepção negativa da realidade".

Katherine acrescenta que o modo como a imprensa e as redes sociais lidam com esta época do ano também contribui para gerar insatisfação: "Essa exibição constante de momentos felizes de outras pessoas pode provocar dúvidas em relação à qualidade das experiências pessoais, ou pode lembrar, de maneira dolorosa, o que está faltando em nossas vidas, provocando sensação de solidão e vazio".

Tudo o que já foi citado pode colaborar para que o fim do ano acabe se tornando particularmente difícil, em especial para aqueles que já lidam com problemas de saúde mental, sendo, portanto, um gatilho para crises e recaídas, inclusive com abuso de álcool e/ou outras substâncias psicoativas. Katherine acredita que essa imagem idealizada das comemorações de Natal e Ano-Novo pode levar à frustração.

“Não existem pessoas e famílias perfeitas, nem tudo vai acontecer como foi planejado; nem todos estão alegres nessa época do ano, a felicidade não é obrigatória. O importante é tentar relaxar e aproveitar o momento da melhor maneira possível", afirma a neuropsicóloga.

Ela ensina que para passar por esta fase de forma saudável, é fundamental ser compreensivo consigo mesmo, não fazer cobranças, evitar comparações, identificar o que foi bom no ano que passou e valorizar cada conquista, promovendo assim autoestima e segurança para gerar as mudanças desejadas no próximo ano.

Para ajudar nesta tarefa, Mônica selecionou seis gatilhos que costumam induzir sintomas adversos, e com a ajuda de colegas da clínica Ame.C, dá dicas de como evitá-los:

Álcool

De acordo com o psiquiatra e especialista em Saúde Pública, Dependência Química e Psiquiatria Ambulatorial e Integrativa pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e pelo Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) Rafael Maksud, o álcool é um depressor do sistema nervoso central, uma droga psicoativa que altera a percepção da pessoa, bloqueando a transmissão de mensagens dos receptores nervosos para o cérebro.

Quando a pessoa bebe, se sente relaxada, já que sua percepção diminui. Porém, o consumo regular de bebidas alcoólicas reduz os níveis de serotonina no cérebro, um dos neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar. Deste modo, o álcool agrava a ansiedade e, principalmente, a depressão. Mesmo fazendo parte das celebrações de fim de ano, o ideal é evitar, ou, ao menos, não exagerar.

Confira:

Alimentação inadequada

A gustação, ou paladar, é considerada um sentido ligado ao prazer. Muitos acabam se rendendo a alimentos que ativam o sistema límbico no cérebro, responsável pelas emoções. Doces, por exemplo, diminuem de forma momentânea a ansiedade. Isso acaba fazendo com que o individuo recorra ao doce sempre que sentir essa ansiedade, como uma espécie de fuga do estado emocional. Sem contar que o doce é muito palatável, o que torna a inclinação a comê-lo ainda maior.

Entretanto, há formas de gerenciar a ansiedade com uma alimentação mais saudável. “Conhecer os alimentos que auxiliam no controle da ansiedade é fundamental, principalmente neste momento desafiador para a saúde, tanto física como mental. Além disso, experimentar novos sabores pode motivar o seu paladar na mudança da dieta”, diz Flávia Teixeira, psicóloga, professora de pós-graduação em Psicologia Hospitalar na UFRJ e especialista em Transtornos Alimentares pela USP.

Frutas cítricas possuem grande quantidade de vitamina C, que atua na redução do cortisol. A liberação do cortisol pela glândula adrenal ocorre em resposta aos episódios de estresse, que contribuem para aumentar a ansiedade. Já a banana contém grande quantidade de triptofano, um aminoácido essencial para ajudar na liberação da serotonina. A fruta também possui potássio e magnésio, controladores do equilíbrio iônico, necessário às reações orgânicas.

Quando esses elementos estão estáveis, promovem relaxamento e sono tranquilo, condição ideal para a liberação de mais serotonina. Para quem não resiste a um doce, Flávia aconselha a consumir o chocolate amargo. “Ele possui flavonoides em sua composição, um antioxidante que também favorece a produção de serotonina. Nos níveis ideais, a serotonina aumenta a sensação de leveza e de bem-estar, melhora o humor e diminui os efeitos negativos da ansiedade sobre a mente e o corpo”.

Entradas sensoriais

Aqui estão situações difíceis de evitar nesta época do ano: certas luzes, cheiros ou sons. Eles podem afetar negativamente nosso estado de espírito. O ruído, especialmente os sons graves ou altos, podem ativar e aumentar a atividade na amígdala, uma área do cérebro responsável pela resposta de “luta ou fuga”, gerando estresse e irritabilidade.

Maksud lembra que os órgãos dos sentidos são fundamentais para a percepção da realidade, pois são responsáveis por captar as sensações provocadas pelo meio externo e enviá-las ao sistema nervoso central, que registra e processa a informação recebida. Por isso, explorar cada um desses sentidos pode nos ajudar a compreender e lidar melhor com as emoções e os acontecimentos ao nosso redor.

O psiquiatra conta que ouvir música clássica constantemente, por exemplo, eleva a atividade cerebral que envolve as sensações de prazer e recompensa. Reduzir a dor e a ansiedade, baixar a pressão arterial, combater a insônia, aumentar e despertar emoções, ajudar no desenvolvimento do cérebro das crianças e dos bebês, e atenuar a tensão são alguns dos motivos para ouvir música clássica.

Falta de perspectiva

Aqueles que conseguiram atingir um bom nível de autoconhecimento e levam suas vidas apoiadas em valores próprios, lidam com as incertezas do destino de forma mais fácil. Porém, quem não chegou neste nível, acaba seguindo em frente sem muito planejamento e alinhamento com seus objetivos, perdendo grandes oportunidades de atingir metas e trazer melhorias para a vida.

Para esse segundo grupo de pessoas, Monica diz que o importante agora é arregaçar as mangas e correr atrás: “Comece a identificar prioridades, aquilo que realmente importa para você. E não me refiro apenas a coisas materiais, mas aos valores que você pretende seguir e que poderão refletir positivamente ou negativamente em sua vida, dependendo das suas escolhas”.

Medo de mudanças

Muitos encaram as mudanças como algo ruim, pois se sentem fora da zona de conforto, enquanto outros aproveitam para inovar. Se você perdeu o emprego, por que não tirar da gaveta aquele projeto dos sonhos que estava à espera de uma oportunidade para ser executado? Pode ser um negócio próprio, uma mudança de área, uma mudança de cidade. A vida tem imprevistos o tempo todo, e você deve ter um plano B para quando eles surgirem.

Monica ensina que, muitas vezes, é preciso ‘abandonar’ a vida que havíamos planejado, pois já não somos mais as mesmas pessoas. Somos seres em eterna mutação, seja internamente ou pela necessidade de seguir a evolução do mundo. Portanto, se você havia feito vários planos, mas depois perdeu a identificação com eles, siga sua intuição e mude a rota.

“Trace metas que estejam alinhadas com seu ‘eu’ atual, com suas novas perspectivas de vida. Valores têm mais relação com ‘o que você quer ser’ do que com ‘o que você quer ter’. Essa evolução te ajudará a fazer escolhas coerentes e a trilhar caminhos mais produtivos, evitando que você perca tempo com aquilo que já não te interessa mais”, finaliza Monica.

Ajuda profissional

Importante: se neste fim de ano estiver muito difícil lidar com as feridas e com a angústia, é fundamental procurar um auxílio profissional.

"O acompanhamento psicológico é muito importante para ajudar a pessoa a identificar a origem dos sentimentos negativos e ressignificar o momento delicado pelo qual está passando, principalmente para quem já tem diagnóstico de transtorno mental. Então, busque ajuda, você não está sozinho", conclui Katherine.

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