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Sociopatas são sedutores, mas são capazes de amar?

Sociopatas se valorizam acima dos outros, não se preocupam com os sentimentos das pessoas - iStock
Sociopatas se valorizam acima dos outros, não se preocupam com os sentimentos das pessoas - iStock

Redação Publicado em 17/03/2022, às 14h00

Os sociopatas atraem uma quantidade bizarra de atenção romântica, e muitos deles vêm de famílias que parecem ser próximas e amorosas. Mas isso levanta a questão: os sociopatas podem realmente amar alguém? Sociopatia é, na verdade, o termo coloquial para Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS). Aqueles que sofrem desse distúrbio geralmente se envolvem em comportamentos egoístas que são prejudiciais aos outros. Esses comportamentos podem incluir mentira, manipulação, agressões verbais e físicas, impulsividade e engano. E esses indivíduos geralmente se envolvem em ações ilegais ou que beiram a ilegalidade.

O Transtorno da Personalidade Antissocial (TPAS) é uma desordem neuropsiquiátrica muito mais comum do que se imagina, atingindo cerca de 1% a 2% da população mundial, ou seja, 1 a cada 100 pessoas, de acordo com estudos acadêmicos. Considerando essa estatística, só no Brasil seriam de 2 a 4 milhões de pessoas. Embora tenhamos a tendência de usar os termos "sociopata" e “psicopata” de forma intercambiável, eles significam coisas diferentes. A maioria dos sociopatas são propensos ao comportamento impulsivo e, muitas vezes, são vistos como perturbados ou desequilibrados, enquanto um psicopata é frio e calculista, às vezes até encantador.

Isabela Scotton, psicóloga e pesquisadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Cognitivo-Comportamental (Lapicc), da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP explica que o TPAS pode ser compreendido dentro dos grupos de transtornos de personalidade, que correspondem a “um padrão persistente de pensamentos, emoções e comportamentos que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo”.

Como a sociopatia se desenrola em um relacionamento

Não surpreendentemente, isso não é um bom presságio para relacionamentos românticos. A chave, aqui, é que esses indivíduos violam as normas e expectativas sociais, o que muitas vezes resulta em consequências negativas para o indivíduo ou para aqueles que estão próximos a ele. Com uma composição psicológica como essa, fica bem claro que um sociopata não é capaz de um relacionamento amoroso normal.

Os sociopatas se valorizam acima dos outros, não se preocupam em pensar fora do escopo do que querem ou precisam, e os sentimentos dos outros são secundários ou não são um problema para eles. Considerando que relacionamentos bem-sucedidos envolvem compromisso e intimidade, esse tipo de foco singular não faria exatamente de um sociopata um ótimo parceiro.

A pedra angular de um diagnóstico de Transtorno de Personalidade Antissocial é uma ideologia de autosserviço; os sociopatas tomam decisões com base nas próprias necessidades e desejos, e não pensam em como suas ações afetam os outros – incluindo aqueles com quem podem estar em um relacionamento. São essas características de personalidade que afetam a capacidade do indivíduo de amar em muitos níveis. O verdadeiro amor não é egocêntrico e egoísta, requer uma base de autoconfiança e consciência que permite um profundo amor e respeito pelos outros. Pessoas com TPAS não têm capacidade para isso, então o amor verdadeiro não é possível para elas.

Sociopatas podem parecer estar apaixonados

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Quando entram em um relacionamento, comportam-se de maneira amorosa e afetuosa - iStock

Isso não quer dizer que sociopatas, ou pessoas com TPAS, não pareçam estar apaixonados. Um sociopata pode ser muito bom em fingir sentimentos de amor. É comum entrar em um relacionamento para se comportar de forma muito amorosa ou afetuosa em relação ao parceiro – pelo menos no começo. Eles podem ser carismáticos, charmosos e lisonjeiros, e alguém com TPAS pode parecer amar os outros quando isso se adequa ao seu objetivo final. Mas esse 'amor' vai se desgastar ou desaparecer assim que as necessidades do indivíduo forem atendidas.

E estar em um relacionamento com alguém que tem Transtorno de Personalidade Antissocial não seria fácil – embora possa começar assim. Em quase todos os casos, uma pessoa que tem sociopatia se tornará controladora, manipuladora e abusiva em um relacionamento pessoal. Eles vão gostar de fazer a outra pessoa se sentir mal, arruinando a autoestima, humilhando-a e alienando-as de sua família e amigos. E como as pessoas com TPAS não sentem remorso, elas certamente não se sentirão mal com o que estão fazendo com seu parceiro.

Embora seja difícil realizar o diagnóstico do TPAS, sendo possível apenas após o indivíduo alcançar os 18 anos de idade, os personagens retratados pelo cinema influenciaram a associação de sociopatas com atividades criminosas. No Brasil, a estimativa é de que os psicopatas ocupem 20% das vagas nas prisões brasileiras, considerando as estatísticas de 1% a 2% da população mundial.

Pensando em curto prazo

Se alguém é diagnosticado com Transtorno de Personalidade Antissocial ou não, se está apenas focado em satisfazer seus próprios desejos (como seria um sociopata), isso dificilmente é uma base sólida para um relacionamento - não importa o quão encantador seja. Os sociopatas são pensadores de curto prazo, planos de relacionamentos de longo prazo não são de interesse para eles. Eles podem dizer que é isso que eles querem, mas é apenas para obter algo aqui e agora.

Não há cura para o TPAS, mas o tratamento pode ajudar o paciente a conviver com os sintomas. “Em geral, os tratamentos seguem a mesma linha de raciocínio de qualquer condição crônica. Ou seja, as condições básicas não podem ser mudadas, muito dificilmente essa pessoa vai se tornar uma pessoa afetiva, empática. Mas busca-se um alívio da sintomatologia, com o tratamento do comportamento agressivo, instabilidade de humor, irritabilidade e impulsividade, por exemplo, por meio de alguns recursos psiquiátricos, algumas medicações psiquiátricas, e tratamentos terapêuticos”, explica a psicóloga.

Fontes: Health.com / Jornal da USP

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