Estudiosos tentam entender o que faz alguém se sentir só, mesmo com muitos conhecidos
Tatiana Pronin Publicado em 10/04/2023, às 16h00
O que faz uma pessoa adorar a ideia de fazer uma viagem solo, longe de qualquer parente e até dos amigos, e outra nem querer pensar no assunto? E o que faz uma pessoa se sentir só mesmo estando numa festa cheia de gente conhecida e animada?
Pesquisadores decidiram investigar a fundo essas diferenças e concluiu que solitários pensam o mundo de uma forma diferente. E isso independe do número de amigos ou conhecidos que eles podem ter.
“Descobrimos que indivíduos solitários são excepcionalmente diferentes de seus colegas na maneira como processam o mundo ao seu redor, mesmo levando em consideração o número de amigos que têm”, afirmou a pesquisadora Elisa Baek, da Universidade da Califórnia do Sul, nos EUA.
Seu estudo mostrou que as respostas produzidas pelas redes de neurônios dos indivíduos solitários diferem de outras pessoas, sugerindo que “ver o mundo de maneira diferente das pessoas ao seu redor pode ser um fator de risco para a solidão, mesmo que você se socialize regularmente com eles”.
Baek e colegas da Universidade da Califórnia chegaram a essa conclusão após comparar exames de ressonância magnética funcional (fMRI) de 63 estudantes de primeiro ano de uma universidade.
Durante cada escaneamento cerebral, que dura cerca de 90 minutos, os participantes assistiram a 14 videoclipes com imagens envolventes. Após o exame, eles relataram seus sentimentos de conexão social usando uma Escala de Solidão criada por psicólogos.
No início do ano letivo, cada participante também completou uma pesquisa online, na qual foram solicitados a listar os nomes de cada pessoa com quem estudaram, fizeram refeições ou saíram durante seus primeiros meses como estudantes.
Para analisar esses dados, Baek e seus colegas dividiram os participantes em dois grupos: um grupo “solitário”, com participantes que pontuaram acima da média na escala de solidão, e um grupo “não solitário” com participantes que pontuaram abaixo da média.
Quando os pesquisadores compararam os exames de escaneamento cerebral desses participantes, descobriram que a atividade cerebral dos solitários era muito diferente da registrada em não solitários.
Isso foi especialmente verdadeiro na chamada “rede de modo padrão”, que também é conhecida como “piloto automático” do cérebro, e também nas áreas que processam as sensações de recompensa. Mesmo depois de analisar fatores como demografia ou tamanho das redes sociais dos participantes, as diferenças permaneceram.
A equipe percebeu que pessoas solitárias processam o mundo de uma maneira muito particular, o que pode contribuir para a sensação reduzida de ser compreendido, algo que geralmente acompanha a solidão.
Os pesquisadores dizem que são necessárias pesquisas adicionais para determinar a causa desses resultados. É possível, por exemplo, que indivíduos solitários tenham valores distintos, que fazem com que eles se percebam como diferentes de seus pares. Outra possibilidade é que a própria solidão possa levar as pessoas a processar informações de maneira diferente.
Qualquer que seja o caso, aprender mais sobre como as pessoas solitárias pensam pode ajudar a identificar novos caminhos para reduzir a solidão, algo que, cada vez mais, tem se mostrado prejudicial à saúde mental e também física.
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