Redação Publicado em 11/04/2022, às 10h00
Pesquisadores do Karolinska Institute na Suécia e da LSU Health New Orleans divulgaram um estudo que sugere uma maneira simples de investigar o efeito da inflamação na doença de Alzheimer e, possivelmente, de como tratá-la. Os autores do estudo interromperam com sucesso a perda de memória em camundongos com a doença com uma técnica intranasal não invasiva de um composto conhecido por resolver a neuroinflamação. O estudo foi publicado na revista Communications Biology.
Estima-se que mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo tenha demência, e a doença de Alzheimer responde por 60% a 70% desse número. Não há cura, embora muito permaneça desconhecido sobre a doença, os cientistas suspeitam cada vez mais que a neuroinflamação pode desempenhar um papel importante. Esses novos resultados são importantes porque apoiam a ideia de que é possível que o uso de um método de administração intranasal não invasivo possa levar a um efeito terapêutico eficaz no cérebro de pacientes, em contraste com métodos de infusão intravenosa mais complicados.
Além disso, os resultados do estudo apoiam a ideia de que um efeito anti-inflamatório imposto ao cérebro com doença de Alzheimer pode ter um efeito protetor, em vez de deletério. Vários estudos anteriores mostraram interromper a progressão da doença em modelos animais, mas não confirmaram os resultados em humanos vivos. Um estudo de 2021 já fornecia evidências da importância da neuroinflamação na doença de Alzheimer.
Os pesquisadores entenderam que a doença de Alzheimer interrompe a comunicação entre os neurônios do cérebro há algum tempo. A doença deposita placas amiloides entre os neurônios que bloqueiam sua interconectividade e produz emaranhados neurofibrilares de proteínas tau dentro dos neurônios que os impedem de funcionar.
No entanto, os pesquisadores também descobriram que a mera presença de placas amiloides e emaranhados de tau no cérebro não significa automaticamente que uma pessoa tenha um caso ativo de doença de Alzheimer. Pesquisas recentes sugerem que a neuroinflamação pode ser o gatilho ardiloso da doença. Para a principal autora do novo estudo, Ceren Emre, do Instituto Karolinska, e atualmente analista de saúde da ABG Sundal Collier, ainda não está claro se a formação de placas amiloides ou a inflamação começa primeiro.
No entanto, ela afirmou ser evidente que exista um círculo vicioso em que placas amiloides e emaranhados neurofibrilares ativem células imunes do sistema nervoso central que, consequentemente, liberam moléculas conhecidas como citocinas para recrutar mais células imunes para o local da inflamação com a intenção de remover as placas e emaranhados.
Pode ser que, durante uma neuroinflamação anormalmente aumentada, as células relacionadas à inflamação que pretendem limpar o cérebro sejam, de fato, disfuncionais e acabem contaminando-o.
Para os pesquisadores, um sistema intranasal para administrar medicamentos é atraente tanto para pacientes quanto para médicos. Não é invasivo e – importante – é indolor. Também previne a degradação gastrointestinal e o metabolismo de primeira passagem, onde a droga é metabolizada em um local/órgão específico, reduzindo sua concentração.
Ceren afirma que o nariz é um órgão complexo com três áreas funcionais distintas: vestibular, olfativa e respiratória. A adjacência da região olfativa ao líquido cefalorraquidiano e a conexão direta com o cérebro, por meio da via do nervo trigêmeo, tornou-se uma rota atraente para o fornecimento do material.
Os pesquisadores explicaram que os neurônios olfativos capturaram as moléculas dentro da cavidade nasal e viajaram até atingirem as extremidades nervosas. A partir daí, as moléculas foram transportadas ativamente para fora das células (um processo chamado exocitose) para o bulbo olfativo. Neste ponto, as moléculas puderam entrar no líquido cefalorraquidiano para serem distribuídas para o resto do cérebro.
A neuroinflamação é um dos mecanismos de defesa do organismo. Portanto, os cientistas não assumiram que adotar uma abordagem anti-inflamatória ajudaria os pacientes com a doença. No entanto, para alguns especialistas, as descobertas do novo estudo apoiam a ideia de que um efeito anti-inflamatório imposto ao cérebro com a doença de Alzheimer pode ter um efeito protetor, em vez de deletério. Eles apontam que ensaios clínicos em humanos não mostraram efeito direto de drogas anti-inflamatórias mitigando a progressão da doença de Alzheimer, e pesquisas clínicas anteriores visando vias de neuroinflamação na doença produziram resultados limitados devido a várias questões metodológicas.
A terapia intranasal, conforme empregada no novo estudo, aparentemente evita esses problemas metodológicos. Deste modo, o estudo parece promissor. Porém, especialistas dizem que devemos ser cautelosos enquanto os resultados não são confirmados em pacientes humanos vivos com a doença de Alzheimer, que é mais complexa do que o modelo aplicado em animais.
Veja também: