Redação Publicado em 02/05/2025, às 10h00
Smartphones têm sido uma fonte de estresse, fornecendo um fluxo interminável de notícias ruins e comparações sociais. Mas será que eles também podem ser usados para trazer bem-estar psicológico? Pesquisadores da Universidade de Kyoto, no Japão, acreditam que sim.
A equipe desenvolveu um aplicativo para smartphone que oferece técnicas da terapia cognitivo-comportamental (TCC) — um tratamento com efeito comprovado contra depressão e ansiedade. E a ferramenta foi testada em um grande ensaio clínico randomizado, publicado no periódico Nature Medicine.
O aplicativo, voltado para o treinamento de resiliência (ou seja, tolerância ao estresse) foi batizado de RESiLIENT. Ele foi testado em quase 4.000 adultos no Japão com depressão "subclínica" — quando os sintomas depressivos não chegam a atender aos critérios diagnósticos para transtorno depressivo maior, mas ainda assim são debilitantes. Estima-se que essa condição afete 11% das pessoas no mundo e frequentemente não é tratada.
“A TCC é altamente eficaz, mas entregá-la em grande escala sempre foi um desafio,” diz o autor principal, o professor e pesquisador Toshiaki Furukawa, lembrando que nem todo mundo tem condições de pagar um terapeuta. “Nosso objetivo era tornar essas habilidades acessíveis a qualquer pessoa, em qualquer lugar.”
O aplicativo ensina cinco habilidades fundamentais da TCC: ativação comportamental, reestruturação cognitiva, resolução de problemas, treinamento de assertividade e técnicas para gerenciar insônia.
Os participantes usaram o aplicativo por seis semanas e foram acompanhados por seis meses. O estudo incluiu três grupos de controle: um usou um aplicativo de informações de saúde, outro seguiu a terapia e o terceiro não recebeu nenhum tratamento.
A análise estatística indicou que seis semanas de aprendizado foram eficazes por até 26 semanas, tratando não apenas a depressão subclínica, mas também a ansiedade e a insônia. O efeito do aplicativo foi comparável ao uso de antidepressivos, com a vantagem de não envolver efeitos colaterais graves.
“Podemos usar esse conhecimento para personalizar e otimizar quais habilidades oferecer a cada indivíduo, de acordo com suas necessidades e características,” afirma Furukawa. “Isso abre a porta para um suporte otimizado e de longo prazo.”
A equipe de pesquisa está, agora, preparando uma plataforma para administrar as melhores intervenções para cada indivíduo ao longo de 12 meses, esperando que continue a fornecer as habilidades necessárias para minimizar o impacto da depressão.
Enquanto o mundo continua enfrentando uma crise de saúde mental, este estudo oferece esperança de que os dispositivos frequentemente responsabilizados por contribuir para o sofrimento emocional também possam se tornar ferramentas poderosas para a cura.